Estereótipo é a radicalização de um modelo, que quando levado às últimas consequências pode acarretar sérios distúrbios psicológicos. A sociedade de consumo foi construída com base em estereótipos, pois foi a maneira mais eficaz de estabelecer conflitos psicológicos que desembocam na busca insaciável de enquadramento das pessoas aos padrões sociais. As maiores vítimas dos estereótipos são as mulheres, pois sofrem na pele pressões de toda a natureza que as impulsionam a modificar suas formas corporais em função dos padrões vendidos atualmente aceitos que, no entanto, são extremamente variáveis ao longo do tempo.
Nos perfis das usuárias de redes de relacionamento é possível constatar quase que exclusivamente dois grandes grupos de estereótipos:
Morena de olhos verdes.
Tenho 28 anos, morena de olhos verdes, alta, cabelos longos pretos e lisos, pele macia e cheirosa, coxas torneadas, bumbum arrebitado, peitinhos firmes, boca muito bonita.
Loira de olhos azuis.
Tenho 24 anos, sou loira, alta, olhos azuis, cabelos compridos e seios firmes e bumbum delineado.
Onde estão as baixinhas, feias, cabelo ralo, velhas, gordas e de olhos pretos? Por estas características não atenderem aos estereótipos, elas são simplesmente banidas dos perfis, pois as mulheres que não se enquadram neles, comparadas às beldades da mídia recém saídas de “banhos” de photoshop, são baleias assassinas.
Alguns Esteriótipos de beleza.
Lábios carnudos.
A mídia vende o padrão de lábios tipo Angelina Jolie. Quem não os têm, que injete silicone.
Bumbum durinho e arrebitado.
Dizem que preferência sexual do brasileiro é o traseiro saliente. Porém nem todas as etnias que compõem o nosso espectro populacional são dotadas de recursos genéticos que atendem plenamente ao estereótipo de bunda de anúncio de cerveja. Então as mulheres recorrem amiúde ao recurso cirúrgico da implantação de próteses de silicone.
Seios redondos, grandes e empinados.
O problema básico das mulheres comuns quase sempre tem algo a ver com seios. Os pequenos são rejeitados socialmente, tendo que ser avolumados via próteses de silicone e os naturalmente grandes tendem a ser caídos, outro crime cometido contra o estereótipo que exige seios obrigatoriamente dotados de dons de levitação.
Dentes perfeitos e alvíssimos.
Dificilmente as atrizes que atuam em telenovelas escapam da
técnica da resina imediata, para que possam se enquadrar no estereótipo dos dentes perfeitos, eliminando desta maneira as peculiaridades individuais.
Corpo magro e anoréxico.
A indústria da dieta movimenta bilhões de anos por ano, ocasionando as duas faces da mesma moeda: ou as mulheres se entregam definitivamente aos prazeres da mesa e caem na obesidade, ou se dedicam tão compulsivamente ao moedor de carne das dietas, que se convertem em anoréxicas. A mídia mostra todo o tempo nas telas a anorexia como uma maneira imprescindível para o caminho do estrelato. Frente às figuras de campos de concentração de Auschwitz que desfilam nas melhores passarelas do mundo
fashion, é difícil convencer as adolescentes que elas alguma vez triunfarão com seus corpos “cheinhos”.
Barriga de tanquinho.
Adeus às famosas barriguinhas de modelos sexuais do século passado, como a da Marilyn Monroe. Hoje, as barrigas foram abolidas definitivamente do gosto estético e substituídas por superfícies musculosas cheias de calosidades. Este estereótipo deu um upgrade na venda de serviços prestados pelas academias e a na indústria da lipoaspiração.
Corpo eternamente bronzeado.
O tipo de
câncer mais incidente no Brasil é o de pele, diretamente causado pela estética do corpo bronzeado, que provém do estereótipo da abominação ao corpo descolorido.
Cabelos fartos.
Ou você já nasceu com a genética de cabelos profusos caindo como cascatas, ou terá que implantar cabelos artificiais. A mídia vai te esfregar na cara tantas modelos cabeludas vendendo shampoos e cremes condicionadores, que você vai se sentir careca se não fizer alguma coisa.
Panturrilhas salientes.
O sistema não aceita perna de galinha, fina em baixo e grossa em cima. O estereótipo exige panturrilhas bem torneadas e salientes. Tal enquadramento termina via de regra na mesa cirúrgica, através da implantação de próteses de silicone.
Juventude eterna.
Não é dado o direto das mulheres envelhecerem, muito menos as famosas. O estereótipo trabalha com o paradigma da beleza ideal localizado na faixa etária entre os 15 e 30 anos. Fora disto, só a recorrida frenética aos recursos
anti-aging, que envolvem gastos consideráveis em soluções cosméticas e cirúrgicas, é capaz de refrear as pressões sociais pela eterna juventude.
O que aconteceria se fosse possível juntar o melhor das belezas de mulheres estonteantes como Angelina Jolie, Carlizina Jolectron e Carmem Electra? A materialização de um dos esteriótipos da sociedade de consumo: a mulher de feições perfeitas, o sonho de consumo que toda a mulher ocidental gostaria de atingir. Só há um detalhe adicional, a mulher ideal tem uma grande semelhança com uma mulher real no auge dos seus velhos tempos, a ex-modelo e ex-globeleza Isadora Ribeiro.
A mulher real que mais buscou a beleza perfeita.
O símbolo mundial da luta da mulher para se enquadrar nos estereótipos é a milionária suíça Jocelyn Widenstein. Ela se tornou celebridade global com sob a alcunha de “Noiva de Wildenstein”, ou seja a um Frankenstein de saias. Especula-se que a mulher tenha gasto mais de 8 milhões de reais em cirurgias plásticas nos últimos anos.
A mulher perfeita em carne e osso é brasileira!
Uma das raras mulheres reais de carne e osso no mundo que sintetizam a maioria dos estereótipos acima relacionados é a modelo brasileira Gisele Bündchen. Ela foi dotada pela natureza do fenótipo magro, é alta, esbelta, tem abundantes cabelos loiros, longas pernas, etc. Os seus contratos milionários justificam a onda mundial de adolescentes rumo à anorexia: o sonho de ser a Gisele da vez fala mais alto do que as preocupações com a saúde.
O prêmio final pela luta para a realização dos estereótipos.
Por mais que as mulheres procurem realizar os estereótipos estéticos impostos pela sociedade de consumo, nunca chegarão a uma Gisele Bündchen ou a uma Angelina Jolie. Por mais lutas contra a balança, ou queimando calorias nas academias, ou deixando nacos de gordura nas clínicas de cirurgia plástica, ou injetando próteses de silicone no corpo, as vítimas dos estereótipos continuarão eternamente a batalha perdida contra o envelhecimento, da qual apenas perderão saúde e dinheiro.
Autor:
Isaias Malta
Links adicionais:
Bridget jones: Estereótipo de Beleza Indefinido.
Anos 60: Novos estereótipos de beleza e mudanças radicais.
A auto-estima das brasileiras está abaixo da média.