Páginas

Pesquisar

26 de out. de 2013

Piano nu: os 3 tipos de sonoridades

por
Um pouco de simplificação às vezes ajuda na escolha de um piano. Se pensamos em apenas 3 grandes grupos de sonoridades, fica mais fácil determinar para que lado pende o nosso gosto. Vale lembrar aqui que a sonoridade depende em grande parte do tipo de preparação a que o piano foi submetido. Logo, ele pode se transformar facilmente de "asiático" para "americano" depois de uma regulagem, entonação e afinação apropriados (só não espere que ele vire magicamente num Modelo D). Entretanto, isso não quer dizer que o piano não mantenha de certa forma latente a sua "personalidade" original. Por ser a primeira impressão um fator decisivo na hora da escolha de um piano, dificilmente o comprador aceitará que uma determinada peça conquistará o seu coração depois de preparado, por isso felizmente os compradores acabam optando pelo piano em função das suas características mais verdadeiras e não seduzido pelas possíveis maquilagens que o afinador possa fazer para agradá-lo.

Sonoridade do tipo "asiática"
Uma das características mais frequentes nos pianos asiáticos, japoneses, coreanos, chineses ou indonésios, é o som mais aberto, estridente até, pendendo para o metálico. Por outro lado, a grande diferença de preços entre os pianos produzidos em massa no oriente e aqueles feitos do lado de cá ditos "fabricados à mão" reside na questão da profundidade tonal. Vale a pena ler a resenha escrita pela concertista Judith Cohen contemplando 5 marcas de pianos chineses de tamanho profissional e apreciar o veredito final.

Na hora de escolher um piano para crianças e adolescentes, em atenção à característica da sua audição responder melhor aos agudos, opte sem medo de errar por um asiático justamente pela sua sonoridade brilhante.
Nota: todo o piano asiático nasce com a ambição de ser um europeu. Não é à toa que os asiáticos compraram muitas fábricas do velho continente para assimilar todo o know-how responsável pela manufatura dos melhores pianos do planeta.

Sonoridade do tipo "americana"
A sonoridade peculiar deste velho Sohmer e Co. nada tem a ver com os pianos fabricados atualmente nos EUA. Mesmo assim, ela exemplifica um tipo de ressonância mais escura, fechada, morna, aveludada, certamente não adequada para expressar os jorros lisztianos, mas plenamente capaz de emoldurar o caráter intimista dos autores franceses.

Mesmo que não seja possível generalizar uma sonoridade "americana" para os pianos americanos, é nesse diapasão que podemos avançar no assunto da diferenciação entre os pianos Steinway fabricados na matriz de Astoria-NY-USA e os congêneres produzidos na filial de Hamburgo-Alemanha. Ouça no vídeo a seguir as 2 versões do Impromptu de Schubert tocadas num Modelo D de Nova Iorque e num Modelo D de Hamburgo e depois me diga se não podemos falar de uma sonoridade americana.

Sonoridade europeia
É ambiguamente difícil e fácil de falar sobre a sonoridade europeia, pois ela é predominante na maioria das gravações eruditas que ouvimos, mais especificamente, o modelo D fabricado em Hamburgo-Alemanha pela Steinway.
Se ele é o modelo padrão a ocupar as salas de concerto do mundo todo, então podemos dizer que tal estética sonora, que podemos denominar de "grife" europeia, é o sucesso musical mais duradouro do planeta. Tal sonoridade europeia é caracterizada pelo maior foco nas notas fundamentais. Suas principais características são a tocabilidade do outro mundo, qualidade do cantábile, clareza, responsividade estonteante, robustez, riqueza e profundidade das cores tonais, sustentação longa, percussividade, precisão nos ataques (devido ao feltro empregado nos martelos ser originalmente duro e posteriormente submetido ao agulhamento, até atingir a maciez desejada). Sinceramente, os virtuoses de pedigree suficientemente merecedores para possuir um desses, atingem o estado do nirvana dos pianistas!

16 de out. de 2013

O inimigo público número 1 do emagrecimento

por
Se você chegou até aqui é porque está curioso de que raios de inimigo será esse! Então façamos pouco de enrolação, não é açúcar branco, frituras, não é o tipo de alimentação, não é o fracasso da dieta, não é o sedentarismo ou falha no programa de exercícios, não é leseira do nutricionista, não é nada disso.

Meu irmão acaba de declarar todo alegre que está iniciando novamente um regime, só que dessa vez será para ir a fundo, segundo ele. Ora, mais um reflexo deste setembro (o mês hemisférico dos inícios de dieta) que nesse bombou total, pois vejo uma correria de fofinhos e fofinhas se puxando de todos os jeitos.

Só que tem um problema... o ano não é composto apenas de setembro e do seu sucessor, dias excitantes de ares primaveris, que as pessoas inalam a plenos pulmões e fazem juras eternas à boa saúde. O ano lança logo ali tentações irresistíveis para os amantes do bom garfo e da boa bebida. Novembro enfarrusca o tempo com churrascos, formaturas, jantas de firmas, confraternizações e as sonhadas festas de fim de ano, capazes de inflar quatro quilos de gordura nos setembristas bem intencionados somente na última semana do ano entre natal e réveillon!

Nessa altura do campeonato você já deve ter matado a charada proposta neste texto ao suspeitar que o maior inimigo do emagrecimento é o tempo. O tempo é o fator determinante do desmilinguir das intenções, é o pai do famoso efeito sanfona.

Para combater os efeitos do tempo, a fórmula é simples de explicar e difícil de seguir. Em 1º lugar você deve responder sinceramente se o seu negócio é conseguir emagrecer para satisfazer um motivo ou outro ou se a coisa é pra valer, mudar o estilo de vida. Caso você se enquadre na 1ª resposta, então siga algum tempo uma das dietas da moda, mas não nutra grandes esperanças de vencer o inimigo.

Agora, se a sua decisão é ir efetivamente a fundo, então faça um teste: assuma o compromisso moral de cancelar todas as comilanças de fim de ano que os endiabrados meses de novembro e dezembro carreiam. Isto significa planejamento; a única forma de derrotar o tempo é trabalhar adotando as suas próprias regras. Isso significa renúncia? Sim. Isso significa dor? Talvez. Isso significa atitude antissocial? Sim, se não gostarem do fato de você comparecer e ficar tomando água mineral enquanto todo mundo enche o pandulho.

O método para derrotar o tempo é tão banal quanto prescrever a um viciado em sexo que deixe de frequentar puteiros, ou a um drogado que abandone as bocas de fumo. Contudo, para o gordo nada disso é óbvio porque o grande palco das suas orgias é encenado no seio da sacrossanta família e entre as pessoas mais amicíssimas.

Ninguém suspeitaria de um dependente se drogando numa festinha de aniversário um ano de um anjinho! Ninguém suspeitaria de um drogado consumando seus prazeres numa confraternização de amigos! Portanto, se o rito alimentar virou drogadição, o tempo nunca será seu aliado, a menos que seja usado para decretar moratória, que sirva para você pensar em termos mínimos de 5 anos. Aí vou acreditar nas suas promessas do tipo "comecei o regime de novo e vou ver se vou a fundo desta vez...".

Veremos se nos próximos 5 anos poderemos retirar as reticências...

10 de out. de 2013

Dimensões da interpretação pianística com exemplos

por
Reconhecer as qualidades de uma execução é um dos grandes prazeres reservados aos ouvintes. Normalmente, quando vemos críticas sobre uma determinada peça, termos como "paleta de cores", "fluidez", "respiração", "clareza" costumam ser empregados. O que a princípio parecem ser julgamentos apriorísticos e puramente subjetivos, são instâncias que se repetem e que o ouvido pode começar a vislumbrar, desde que tenha acesso ao treinamento adequado e este treinamento só é obtido ouvindo, estudando, perscrutando e ouvindo mais ainda.




Fraseado: Maria João Pires
Fraseado significa incorporar na execução o ato da respiração e isso concede uma fluidez toda especial, cativando o ouvinte pela organicidade. Uma das pianistas detentoras de um dos fraseados mais lindos que conheço é a portuguesa Maria João Pires. Veja como ela faz o seu Scarlatti respirar, um compositor visto tradicionalmente como autor de 555 sonatas pedagogicamente áridas.

Precisão: Arturo Benedetti Michelangeli
Clareza, regularidade rítmica e fidelidade à partitura são qualidades não raras vezes transformadas em pejorações do tipo "pianista cerebral", "pianista metronômico", "pianista robótico", etc. Entretanto, é essa classe de pianismo que pode nos descortinar quiçá as reais intenções do compositor. Intérpretes do porte de um Artur Schnabel, Josef Hofman, Claudio Arrau, Alfred Brendel, Rudolf Serkin, Wilhelm Kempff, Pierre-Laurent Aimard e, naturalmente Michelangeli além de nos concederem o seu lirismo, nos legaram o total respeito à obra dos autores, sem se deixarem cair na tentação dos rasgos perfunctórios e dos rubatos egocentristas.

Articulação: Glenn Gould
A capacidade de destacar as notas de maneira límpida, situando a execução entre o staccato e o legato, foi a marca registrada deixada por Glenn Gould, que desenvolveu arduamente esta técnica conjuntamente com o seu mestre Alberto Guerrero. Uma das herdeiras dessa escola é a fantástica pianista e professora canadense Angela Hewitt.

Dinâmica: Ernst Levy
O poder de fazer o piano emitir sons fracos e fortes constitui a essência do instrumento e os grandes contrastes caracterizam o périplo musical de Beethoven. O pianista do vídeo acima exemplifica o triunfo da técnica e o terror dos técnicos de estúdio que se meteram a gravar a façanha.

Colorido tonal: Guiomar Novaes
Estranhamente, mesmo o piano disponibilizando notas fixas e estanques por acionamento indireto através de teclas, há todo um jogo de sonoridades possíveis a ser explorado pelo uso sutil e intensivo dos pedais. E na história da música não há que mais tenha convertido em realidade a famosa técnica de uso dos pedais do professor Luigi Chiaffarelli do que a grande Guiomar Novaes. Assim, aliando o toque de natureza única à destreza do uso dos pedais, esta pianista consegue exprimir uma fecundidade tonal jamais vista na história do piano!

Cantábile: Vladimir Horowitz
Um dos grandes paradoxos que cerca o piano é a possibilidade de se fazer cantar um instrumento fundamentalmente percussivo. Contudo, este dom só é permitido aos titãs dos teclados, aos que imortalizaram seus nomes na história do piano. A execução privilegiada com cantábile mais comovente e arrebatador nos foi legada por Horowitz, único e eterno!

6 de out. de 2013

Darwin caçando macacos prego??!!!

Nessa parte de seu diário Darwin descreve suas observações e experimentos com planárias terrestres. Ao final, descreve sua participação em uma caçada, quando observou a grande destreza dos brasileiros no uso da faca.

Os brasileiros são tão destros na faca que são capazes de atirá-la com certeira pontaria a alguma distância, e com força suficiente para infligir um ferimento mortal. Vi um número de meninos que praticavam a arte como meio de diversão, e, pela habilidade com que acertavam o alvo, um pau vertical, muito prometiam para o caso de empreendimentos mais sérios. (Darwin, 1832)


Estranha-se o fato de um naturalista participar de uma caçada, onde morreram macacos-prego, papagaios e tucanos, mas lembremos de que no Brasil de 1832 via-se o ambiente natural como algo inesgotável, especialmente porque e a mata Atlântica ainda era uma densa e gigantesca floresta.

Veja o texto completo “Darwin e as planárias terrestres”.