por
Isaias Malta
Está certo, você decidiu comprar um piano usado e dá largada
à maratona da procura pelo instrumento que poderá chamar de seu. Só que quem
não tem conhecimentos técnicos suficientes corre o risco de fazer uma péssima escolha.
Eu, por exemplo, acabei optando por comprar o usado numa loja conceituada, mas
não me dei inteiramente bem. Apesar da sonoridade bacana, segurar a afinação,
etc, a mecânica estava muito gasta e os martelos idem. Resultado, passei anos
eu mesmo reparando, regulando, trocando molas oxidadas, camurças gastas, etc.
Ao final, ainda não me dando por satisfeito, acabei trocando o velho piano de
armário por um reluzente de cauda... novo, desta vez para não correr o risco de
passar os próximos anos à cata de molinhas, pedaços de camurça, feltros e
outros babados.
Para resumir a ópera, tenho a oferecer a você candidato a
piano usado a minha experiência adquirida depois de cair no erro. Assim,
sabendo-se que é muito difícil ter um afinador a tiracolo na hora de examinar
um piano, a informação pode ser o diferencial entre embarcar numa tranqueira,
ou entrar em lua de mel com o piano dos sonhos.
Folga e/ou problemas de mobilidade nas Teclas
O problema das teclas presas normalmente é minimizado sob o
seguinte argumento "ele está assim porque não é tocado há muito tempo".
Todavia, algo que parece simples está revelando anos de descuido e exposição a
altas taxas de umidade. Você pode testar a folga das teclas movimentando-as
lateralmente com os dedos. Nos pianos novos a folga é a mínima possível, o
suficiente para permitir o movimento. Se houver folga excessiva, a precisão do
toque fica prejudicada e significa que o embuchamento de feltro das teclas
precisará ser trocado.
Desgaste do Mecanismo
Examinar o mecanismo de um piano usado só é possível nos de
armário, uma vez que nos pianos de cauda é necessário retirá-lo para fora, o
que é uma operação complexa que o comprador normalmente não permite sem seja
pelas mãos do afinador.
No caso de piano de armário, peça para o vendedor retirar o
tampo frontal e examine cuidadosamente o mecanismo para procurar eventuais
sintomas de desgaste. Veja se os corinhos vermelhos estão íntegros e todos no
lugar, se não há ferrugem nas molas e nos parafusos. Preste atenção também no
estado das camurças, pois se estiverem muito desgastadas, isso pode trancar o
movimento das teclas.
Martelos muito achatados e vincados
Se o proprietário afirma que "esse piano quase nunca foi tocado" e você percebe achatamento e marcas profundas nos martelos, certamente isso é uma mentira! Evite comprar pianos que foram excessivamente usados, menos ainda aqueles que foram martelados por pianistas campeões do UFC!
Cravelhas enferrujadas, inclinadas, atoladas
Observar atentamente o estado das cravelhas pode evitar que
você embarque numa canoa furada, ou seja, compre um piano condenado. Explico; as
cravelhas que você vê denunciam o estado do cepo que você não vê e o cepo é
responsável pelo piano "segurar" a afinação. A seguir publico fotos
de cravelhas que denotam uma história triste.
Cravelhas enferrujadas: devem ser substituídas, inclusive
com as cordas, o que significa alto custo.
Cravelhas inclinadas: essa posição quer dizer que não
seguram mais a afinação, ou seja, tais cravelhas deverão ser substituídas por
outras de maior calibre.
Cravelhas afundadas: isso significa que as cravelhas não têm
mais folga em relação ao cepo, fato que inviabiliza as tentativas de afinação.
A solução paliativa é a troca das cravelhas por outras mais grossas e, se não
resolver, a troca do cepo. Agora falemos francamente, a troca do cepo implica
em gastar no piano praticamente o preço que você pagará por ele.
Cordas e/ou bordões enferrujados
Cordas enferrujadas produzem um som feio e oco e devem ser
trocadas, pois perderam a elasticidade. Dependendo do número de cordas
afetadas, o preço do serviço pode ser bem custoso.
Manchas de líquido derramado na tábua harmônica ou no cepo
Denunciam que o piano teve donos negligentes, pior ainda,
que aquele instrumento pertenceu a um bar. Fuja de pianos de bar!
Marcas de copos no tampo
Eu comprei um piano de armário que provavelmente pertenceu a
um bar, pois havia marcas de copo no tampo superior. Esse é o tipo de besteira
que eu não faria hoje em dia.
Marca de sol no gabinete
Pianos de bar tendem a ficar nos piores lugares, logo, facilmente
eles podem passar anos expostos à incidência direta do sol, coisa que determina
a ruína do piano. Portanto, procure atentamente no verniz para detectar áreas
claras no verniz que denunciam um passado ruim. Por cargas d'água, o meu antigo
piano tinha marcas de sol e eu não prestei atenção a isso na época da compra.
Presença de gambiarras em algumas cordas
Quaisquer gambiarras (feltros afixados) nas cordas denunciam
que elas não estão vibrando a contento e devem ser trocadas. Se for o caso dos
bordões, a troca costuma ser dispendiosa.
Costelas devem ser inteiras
Um piano de qualidade se caracteriza por ter costelas que
vão até o fim da tábua harmônica, conforme a foto.
Já esse piano é considerado de baixa qualidade, pois as
costelas não vão até as bordas (flutuantes) – melhor evitar a sua aquisição.
Rachaduras na tábua harmônica
Rachaduras não significam a morte do piano, mas podem trazer
futuros aborrecimentos. Imagine você tocando num daqueles dias úmidos e começam
a aparecer zumbidos irritantes. O conserto de rachaduras no tampo harmônico é
muito relativo, pois os resultados são incertos.
Costela (baralho) descolada
Esse é o tipo de problema bem mais grave que exige reparação
imediata, pois os ruídos produzidos são inevitáveis. É preferível não comprar
um piano usado nesse estado.
Costela quebrada
É um caso mais raro, mas acontece ou por batida durante o transporte ou por fadiga do material. Dependendo de onde ocorre, esse problema pode alterar a curvatura (coroa) da tábua harmônica e consequentemente a ressonância.
Cavalete (ponte) rachado
Um cavalete rachado ou quebrado implica em impossibilidade de
estabilização da afinação no piano enquanto a peça não for substituída. Como o
custo dessa reparação é muito alto, a compra desse piano é altamente
desaconselhável.
Chapa (harpão) trincada ou rachada
Se você perceber qualquer espécie de trinca na grande peça
metálica que sustenta as cordas do piano, rejeite imediatamente o instrumento
pois isso significa que se trata de um instrumento condenado, já que é absolutamente
inviável a substituição da chapa.
Referências: