Apesar de haver uma ampla literatura técnica sobre piano, em português ela é dispersa e escassa. Amiúde tenho que recorrer à bibliografia em inglês para sanar dúvidas, entretanto, quanto aos termos usados, é difícil achar os congêneres na nossa língua, o que acaba gerando uma confusão de Babel.
1) Abafador (damper)
É uma peça dotada de feltro que na posição de repouso fica
pressionando as cordas. Sua função é impedir que a corda continue vibrando além
da duração da nota, o que redundaria numa desagradável mistura de sons.
Funciona conjuntamente com o pedal de sustentação (ver pedais).
2) Agraffe
Os agrafes são parafusos dotados de cabeça vertical furada.
Eles são atarraxados diretamente na chapa e servem para espaçar e alinhar as
cordas, também definem uma da extremidades do segmento vibratório (speaking
length) da corda. Agrafes nos graves e médios equipam todos os pianos de cauda
atualmente. Nos pianos verticais a sua presença é sintoma de qualidade, tanto
que os modelos profissionais usam agraffes em toda a extensão.
3) Barra de apoio das cordas (Bearing bar)
Depois que saem das cravelhas, as cordas são apoiadas em uma
barra de liga metálica dourada antes de atravessarem os Agraffes.
4) Barra de pressão (pressure bar)
Na região dos médios superiores e agudos o projeto de escala
dos pianos verticais costuma usar uma barra toda parafusada que determina faz
às vezes de "capo" (vide Agraffe) dessas cordas e serve de elemento
de separação.
5) Capo d'astro
Nem todas as cordas que partem das cravelhas são fixadas por
Agraffes. A partir dos médios agudos, num total de 35 uníssonos (pianos de
cauda), as cordas passam por baixo de uma das barras da chapa desenvolvida
precisamente para desempenhar tal função. Em baixo desta barra há uma
terminação em "V" que fixa as cordas e determina uma das pontas do
segmento vibratório.
6) Cepo (pinblock)
Na crendice popular há o enorme equívoco de chamar a espinha
dorsal do piano (chapa) de cepo. Nos anúncios lê-se "cepo de aço" ou
"cepo de madeira", quando na realidade o cepo é necessariamente de
madeira. O Cepo é uma placa de compensado multi-camadas (podendo ter em média
de 9 a 21 camadas) que recebe as cravelhas de afinação.
7) Costela (rib)
A tábua harmônica, para fazer às vezes de alto falante, tem
que ser mantida curvada num processo chamado coroamento. Para que esta
curvatura se mantenha ao longo do tempo, durante a fabricação são coladas ripas
torneadas de madeira com o objetivo de manter a placa vergada.
8) Caixa (case)
Nos pianos verticais a caixa tem função mais estética e
acabamento do que acústica, tanto que é confeccionada na maioria dos pianos
atuais em chapas de aglomerado MDF.
9) Chapa (plate ou cast iron frame)
O enorme esqueleto de ferro fundido (erroneamente chamado de
cepo de aço), sustenta as cordas e está no coração do piano. Ele é o esteio de
tudo, portanto, qualquer tipo de rachadura ou trinca é considerada uma situação
bastante grave que deve ser imediatamente sanada, pois sobre a chapa são
exercidas altas pressões de mais de 20 toneladas.
10) Contorno (rim)
Nos pianos de cauda a característica forma curva é composta
de contorno interno e externo, que desempenha papel importante de reflexão
acústica, por isso os contornos são confeccionados várias lâminas de madeiras
extremamente rígidas. O contorno interno abriga a tábua harmônica, que por sua
vez é colado ao contorno externo.
11) Corda (string)
As cordas são os elementos primários que vibram e geram o som.
Dividem-se em três tipos:
- cordas nuas de aço usadas em conjuntos de três para formar a nota (uníssono);
- cordas grossas (bordões) revestidos com fio de cobre;
- cordas médias também revestidas com fio de cobre, que são usadas em conjuntos de duas para formar a nota.
- cordas nuas de aço usadas em conjuntos de três para formar a nota (uníssono);
- cordas grossas (bordões) revestidos com fio de cobre;
- cordas médias também revestidas com fio de cobre, que são usadas em conjuntos de duas para formar a nota.
12) Cravelha (tuning pin)
É o pino onde está presa a corda que permite o processo de
afinação. Ao longo dos anos, as cravelhas começam a se "enterrar" no
cepo porque a cada afinação elas são torcidas e afundam cada vez mais para
sustentar a pressão da corda e estabilizar por alguns meses a afinação. A leitura minunciosa do estado das cravelhas é decisiva no momento da compra do piano usado.
13) Duplo escape (double escapement)
Foi necessário implantar um sistema de afastamento rápido do
martelo da corda para sanar os seguintes problemas:
a) quando permanecia encostado depois de tanger a corda, a
superfície do martelo funcionava como um abafador;
b) além de servir como abafador, a corda produzia ruídos
enquanto estivesse vibrando contra o martelo;
c) a velocidade de repetição da nota era bastante
prejudicada.
Por isso, nos pianos de cauda estabeleceu-se como padrão a
inovação de Sébastien Érard que permitia o retorno quase instantâneo do martelo
(escape simples) e também que a tecla pudesse acionar o martelo novamente
estando apenas na metade do curso (escape duplo). Por causa do duplo escape, há
uma posição da tecla conhecida como "degrau", que os pianistas de
piano de cauda aprendem a manejar. Assim, a velocidade de execução aumentou
barbaramente. Os pianos verticais, em razão dos custos, possuem apenas escape
simples.
14) Escala dupla (duplex scaling)
Foi um estratagema criado pela Steinway (e adotado posteriormente por vários
fabricantes) para encorpar a sonoridade da região dos agudos. São pequenas
pirâmides metálicas que criam uma secção vibrante, mas não afinável, depois do
término do segmento vibrante propriamente dito. Há gente que gosta do efeito,
enquanto outros detestam o tal reforço que se apresenta como um som agudinho
ouvido acima das notas. Quem não gosta, tem a opção de mandar o afinador
instalar tiras de feltros para abafar a sonoridade extra.
15) Estrutura
A integridade estrutural de um piano é composta de vários
travessões de madeira que garantem resistência e rigidez contra a tendência ao
torcimento da estrutura devido à pressão de 23 toneladas exercida pelas cordas
contra a chapa.
16) Mesa (keybed)
A mesa é base de madeira localizada abaixo do teclado. A sua
importância se dá porque é ali que se acumula toda a sujeira resultante dos
maus hábitos do pianista, a bebida derramada, a poeira de quem deixa o piano
aberto todo o tempo. Certamente, mesmo que os devidos cuidados sejam tomados,
de tempos em tempos o teclado tem que ser retirado para que seja feita a devida
higienização, faxina que pode ser realizada pelo próprio pianista. Nos pianos de cauda isto é fácil, pois basta retirar o conjunto mecânico, já nos pianos verticais é necessário retirar todas as teclas uma a uma, nada que um proprietário inteligente não tenha condições de fazer.
17) Ponte (bridge)
Se você observa por cima as cordas de um piano de cauda na
região oposta ao teclado, vê que antes delas serem presas nos pinos da chapa,
passam por cima de um lingote maciço de madeira. A ponte é o componente
importantíssimo que transmite a vibração das cordas à tábua harmônica. Nos
pianos mais sofisticados ele é confeccionado em compensado de madeira
constituído de lâminas orientadas verticalmente. Nos pianos comuns de boa
estirpe, opta-se por madeira maciça e em alguns vagabundos são encontradas
pontes feitas com compensado feito de lâminas coladas horizontalmente. Quando
aparece qualquer tipo de trinca na ponte, o som fica terrivelmente prejudicado,
aparecem os tais "grilos" que ninguém sabe de onde saem.
18) Mecanismo (action)
Também chamado máquina, é o conjunto de peças móveis que
transmite o impulso mecânico originado na tecla à corda. Um piano de cauda é
dotado de dezenas de milhares de peças, cada uma sujeita a desgastes e
desajustes ao longo do tempo e uso.
19) Martelo (hammer)
É uma cabeça de mateira revestida de feltro grosso
responsável pelo golpeamento da corda. Como o uso, costumam aparecer sulcos no
martelo, que na medida em que se aprofundam prejudicam a sonoridade.
20) Lira (lyre)
Interessante saber que até hoje o suporte de fixação dos
pedais ao piano se chama lira porque realmente nos primeiros pianos ele era
esculpido em forma de lira.
21) Pedais
1º) sustentação (sustain) – pedal da direita: quando
acionado, afasta os abafadores das cordas de modo que todas ficam ressoando ao
mesmo tempo.
2º) Una corda ou surdina – pedal da esquerda: nos pianos de
cauda ele desloca todo o conjunto de martelos
para a direita, fazendo o martelo tanja uma só corda das notas que são
produzidas por um conjunto de 3 cordas. Nos pianos verticais, o pedal apenas
aproxima os pedais das cordas para que tenham um toque mais suave.
3º) Sustenuto – pedal do meio: em alguns pianos de cauda que
possuem este terceiro pedal, ele serve para sustentar somente as notas que
foram tocadas instantes antes do seu acionamento. Nos pianos verticais este
pedal baixa uma faixa grossa de feltro que serve para abafar bastante o som
produzido.
4º) surdina – pedal adicional que equipa o modelo Fazoli
F308 que tem a função de aproximar os martelos das cordas. O seu objetivo é
suavizar o som sem modificar o timbre
Pedais adicionais: quaisquer pedais adicionais existentes em
pianos antigos acionam timbres de cravo, harpa, celesta, etc
22) Pino de fixação (hitch pin)
23) Tábua Harmônica (soundboard)
A imensa chapa de madeira localizada embaixo das cordas
serve de elemento secundário na produção do som. Ela é formada de dezenas de ripas de abeto (spruce) coladas entre si, ou outra madeira que tenha fibras longas e paralelas, nos pianos nacionais usa-se o pinho (Araucaria angustifolia). O seu papel é concentrar o som
gerado pelas cordas e dirigi-lo ao ambiente, servindo assim de transdutor
acústico, semelhantemente ao funcionamento do autofalante.
24) Tampo (lid)
O tampo do piano de cauda é objeto que chama maior atenção
devido às suas dimensões. Atualmente, tampos, tampas e gabinetes de pianos são
confeccionados em aglomerados do tipo LDF e MDF, tanto por razões ecológicas,
quanto à crescente escassez de madeiras maciças. O estado do tampo denuncia em muito o tipo de tratamento ao qual aquele piano foi submetido.
25) Teclado (keyboard)
É a parte do piano que permite o tangimento das cordas. Até
a IIª Guerra Mundial as teclas eram recobertas por marfim extraído de presas de
elefantes, um material reconhecidamente bonito e que possui a propriedade muito
especial de semiporosidade que não deixa a tecla escorregadia na presença do
suor. Com a proibição da caça aos elefantes na África, a solução adotada foi o
plástico, cujo principal defeito é ser liso demais. Hoje, os modelos mais
sofisticados de pianos vêm com teclas cobertas de "falso-marfim", que
é um material plástico que imita as desejáveis propriedades do marfim orgânico.
Referências:
The
Anatomy of the Piano