Um dia desses acordei com uma ideia fixa na cabeça, mais precisamente provinda do filme Inception. Para quem não o viu é impossível explicar do que se trata. Para quem viu e não entendeu é fácil, pois este filme exige compreensão aos pedaços, quase como uma descompactação de arquivo RAR comprimido em partes.
Pois bem, trata-se de um filme de estrutura modal, em que a
primeira cena remete ao epílogo. Você só compreende isso quando chega ao fim,
porém, tal informação antecipada não chega a configurar necessariamente um spoiler e
você entenderá por que. Contudo, o meu
objetivo aqui não é dissecar os conteúdos semióticos da obra (que há muitos),
mas explicitar como um roteiro genial produziu um insight na minha visão de
mundo, mesmo estando entorpecido pelo sono.
Até em consequência do sono (e é nele que somos assolados
pelas melhores sacadas), o leitmotiv essencial do filme mergulhou fundo na
minha mente. Ou foi inserido por alguém em algum lugar? Não sei, só sei que
acordei com a ficção do filme plasmada. Melhor ainda, eu era a
consubstancialização daquela realidade, uma vez que uma ideia muito básica havia penetrado o meu subconsciente e passou a defini-lo.
Por diversos motivos, desde acontecimentos catastróficos até
um "insersor" ativo - corroborando o argumento do filme, uma pessoa que, conscientemente
ou não, insere um verme mental capaz de finalizar a pessoa – explodiu uma luz no
meu subconsciente sobre a inserção que me domina. Ela e o seu elemento motivador,
tudo muito simples e cristalino. Claro, acordei atônico porque o processo de
autoconhecimento está mais para o descarnar do que para uma epifania.
Se você espera que eu revele a inserção com todos os
detalhes, está redondamente enganado, pois este é o tipo de conhecimento de
fórum íntimo que merece continuar a ser protegido pela lei do sigilo. Mas o
bacana eu revelei, o quanto a nossa vida é pautada por poucas ideias simples,
praticamente todas advindas do exterior, que acabam determinando as nossas
ações futuras.
Se por um lado, graças às inserções Einstein concebeu a
Teoria da Relatividade, Newton formulou a teoria da gravitação universal e
Beethoven compôs as suas majestosas sinfonias, por outro, um mendigo se revolve
na sarjeta, um cantor em overdose morre afogado no próprio vômito, um viciado
em pornografia apaga a chama da existência, uma mulher se vilipendia em
cirurgias plásticas. Assim, sendo esse pressuposto fidedigno, enquanto uns
encontram a razão das suas vidas, outros a perdem definitivamente. Ahh... também há outros que não perdem e nem ganham, só continuam estagnados, tão somente cumprindo os repetitivos e vazios rituais sociais que levam do nada a lugar algum - apenas grãos de poeira flutuando fugazmente nas correntezas do dia cósmico.