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30 de set. de 2014

Qual será o destino das megaestruturas herdadas da copa do mundo?



Sobre as arenas que o Brasil construiu em vários recantos desse imenso país, certamente o tempo pesará a mão sobre elas, assim como fez com outra ex-sedes extravagantemente pobres como nós. Hoje as nossas estruturas estão novas, reluzentes e com tudo funcionando, mas ainda não temos ideia do montante necessário para a sua manutenção e se conseguiremos destinar fartos recursos, não digo para a ampliação, mas para a sua simples manutenção.

Temos consciência de que somos um país pobre, ou deveríamos começar a tê-la rapidinho. E a Estônia, um país localizado lá no leste europeu perto da Finlândia também pode se considerar um país pobre, mais ainda depois da implosão do império soviético simbolizada pela queda do muro de Berlim em 1989.

Vamos recapitular aqui um pouco do destino de abandono vivido por uma superestrutura de competição esportiva herdada das olimpíadas de 1980 realizadas na União Soviética. Devido ao fato de Tallinn, capital da Estônia, ser banhada pelo mar Báltico, recebeu instalações apropriadas para receber as competições marítimas.

No bojo das instalações necessárias às olimpíadas, Tallinn ganhou uma sala de concertos de 3 mil lugares, como se pode observar na foto da época:

Na imagem de hoje, vemos o mesmo piano de concerto Estonia em estado deplorável, assim como o resto das instalações. 

Pelo piano e o entorno depreendemos que o local não foi completamente abandonado, mas que o dinheiro para a sua manutenção escasseou ao longo do tempo. Ainda hoje, o complexo Linnahall continua a ser eventualmente usado, mas sem ter jamais ter readquirido o esplendor da época do farto dinheiro russo.

Hoje no Brasil vivemos uma utopia semelhante à enfrentada pelo Linnahall. Temos moderníssimas arenas aparelhadas com as mais sofisticadas tecnologias, inclusive a arena do Sport Clube Internacional é dotada de gigantescos nobreaks, além dos geradores de energia reserva convencionais. Foi meio profético isso aqui, acabo de ler que os nobreaks do Beira Rio pifaram durante um jogo. Tão cedo?
- Fabricante será acionado para explicar apagão no Beira-Rio

No futuro, na medida em que a crise econômica global avança implacavelmente, as megaestruturas entrarão pouco a pouco em decadência. Essa é a palavra para o destino que assolou o LinnaHall, não o abandono, mas a decadência que se prolonga e se aprofunda por décadas.

Ainda não estamos vivenciando o gosto amargo da utopia que se desmancha no ar, mas brevemente começaremos a forma uma ideia de com quantos paus se faz uma canoa, ou melhor, quando dinheiro será necessário para manter as arenas, inclusive aquelas instaladas nos cafundós do Judas, funcionando.

Como prenúncio do nosso futuro, consulte os links abaixo para tomar ciência dos fatos acontecidos com o LinnaHall.

21 de set. de 2014

O que acontece com alguém que só faz a vontade dos outros?



A pergunta acima suscita alguns provérbios:

- Quem vive para os outros esquece de si.
 
- Quem muito dá, descobre que nada tem.

- Quanto mais você tenta agradar, mais exigentes as pessoas ficam.

- Satisfazer as expectativas da família é o caminho mais certo para a infelicidade.

- Quem se dedica a agradar todo mundo, um dia se descobre sozinho.

- Quanto mais valor você dá à opinião das pessoas, mais os seus próprios valores perdem importância.

- Não saiba o que as pessoas pensam de você, pois se soubesse, as mandaria àquele lugar.
 
- Não dê muita importância ao fogo efusivo das pessoas diante das suas conquistas, pois o combustível que o alimenta pode ser a inveja.

- A preocupação excessiva com o que as pessoas vão pensar é um traço característico das personalidades superficiais.

Mesmo que os ditos acima pareçam egoístas, tal comportamento não é adotado por pessoas altruístas, muito antes pelo contrário, a prática nos demonstra que as pessoas mais preocupadas com a opinião dos outros são as que cultivam os egos mais empedernidos. Por paradoxal que possa parecer, a trilha de devoção à satisfação das expectativas alheias pode ser o caminho do suicídio.

20 de set. de 2014

O lado compulsivo da Sonata ao Luar e morte à richardclaydermanização!


Quem ouve a sétima sinfonia de L.V.Beethoven não consegue deglutir que o compositor das batidas insistentes, das repetições obsessivas, dos contrastes violentos claro/escuro, tenha se descaracterizado ao ponto de escrever uma peça comportadinha feita sob medida para comercial lacrimoso de margarina.

Definitivamente não foi Beethoven que apôs à sua opus 27 nº 2 o qualificativo “ao luar”, claro que não, tal infâmia só teve oportunidade de se insinuar após a sua morte. Para provar que a “richardclaydermanização*” dessa sonata foi uma blasfêmia levada a cabo pela posteridade, resgato aqui duas versões bastantes distintas, porém complementares.

Na primeira delas ouviremos a sonata como ela teria soado aos ouvidos do Mestre, tocada num instrumento de época. Note como ela soa soturna, seca e pouco afeita aos romantismos que foram contaminando-a ao longo dos séculos vindouros. Aprecie a peça executada no temperamento histórico e experimente algumas sensações novas, a exemplo deste comentário postado no vídeo: “a surprisingly nice tenor section and bass though a little cloudy is fairly powerful. This must be a historical temperament, most evident to me between tenor and treble sections”.

Agora, se você quer uma mondscheinsonate realmente lúgubre tocada num piano moderno, então prepare os seus ouvidos para o inusitado! Prepare-se para um adagio sostenuto que faz jus ao nome da palavra, em que cada arpejo escorre pesadamente destacado (gosto de pensar nesses arpejos assim, mais a la Philip Glass do que qualquer coisa, separados, frios e impessoais, do que um legatto tocante e meloso). Quando de repente irrompe a melodia sob a forma de vigorosas batidas de bigorna, aí você vê verdadeiramente Beethoven expressado com seus dilemas e contradições.
Aconselho vivamente que prepare seus ouvidos para a estridência exacerbante do presto agitato, o contraste lancinante que se ergue contra os arpejos lúgubres e fantasmagóricos ecoados no primeiro movimento. Diga adeus ao pesadelo do Beethoven romântico!

* Pianista Richard Clayderman: notabilizado por seus arranjos que transformam peças populares do repertório erudito de piano em musiquinhas romantiquinhas de caixinha de música.

18 de set. de 2014

Música, quem crer será salvo, que não crer está condenado!



Simetria, beleza, paz, harmonia, são sentimentos abstratos relacionados à música que exigem crença, fervor, entrega praticamente religiosa. Ou você se deixa encantar pela musa, ou se converte em remoedor de engenhocas estéreis.

Recentemente, ao longo de uma discussão com céticos musicais numa rede social, veio-me à tela mental a seguinte imagem: tentar provar a vitalidade da corda vibrante (que anima todos os instrumentos de corda) e da coluna de ar (que anima todos os instrumentos de sopro), é o mesmo que tentar provar a maravilhosidade da luz ao cego de nascença.

O sentido do verbo tocar em música vai muito além da simples execução de um instrumento, pois há o sujeito ativo que toca e se deixa tocar. Eis o grande dilema da música: alegria versus orgulho. A música pode ser uma arena em que se esgrimam egos gigantes inflados de habilidades hereditárias, como também um oásis de humildade e congraçamento, já que abriga a única linguagem verdadeiramente universal desde o erigimento da torre de Babel.

Qual é o sentido da música senão curar? Curar os males que abundam no mundo e nos corações dos homens. Discussões com ateus materialistas me fazem realizar o quanto tenho e quão pouco eles possuem. A arte sem função, constructo meramente intelectual, serve para isso, para se discutir obviedades, discussão impensada entre dois videntes, mas eternamente recorrente quando toca convencer o cego da inefabilidade do raio de luz.

E de novo vem à baila o verbo “tocar”! Tocar e ser tocado, me parece que isso é tudo!