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28 de abr. de 2013

O olhar de Darwin sobre a natureza de Sossego (RJ)


Diário de Darwin parte 20.

Nesta parte do seu diário, Darwin descreve a vegetação da propriedade do Senhor Manuel Figuireda em Sossego (RJ), como podia ser admirada em 18 de abril de 1832.
Casa central do Engenho de Sossego, visitado por Darwin em 1832 (Selle e Abreu, 2002)
 Ao finalizar esta parte do seu diário, ele enfatiza de forma poética que grande parte da beleza está nos olhos de quem vê, por isso não existem palavras capazes de descrever o que sentiu:

 É fácil de se especificar os objetos de admiração individual nestas cenas grandiosas, mas não é possível transmitir uma idéia adequada do que sejam as sensações de maravilha, surpresa e devoção que enchem e elevam a mente”.

Para ler o texto completo acesse o Teliga

Referências
1- Darwin, C., Viagem de um Naturalista ao Redor do Mundo - Vol.1, Nova edição, 1871. Abril Cultural. Companhia Brasil Editora, São Paulo, s/d.
2- SELLES, Sandra Escovedo e ABREU, Martha. Darwin na Serra da Tiririca: caminhos entrecruzados entre a biologia e a história. Revista Brasileira de Educação. Nº 20, Maio/Jun/Jul/Ago 2002 . http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n20/n20a02.pdf

23 de abr. de 2013

É o fim do estilo de vida Moderno?

Quase ninguém sabe o que é teoricamente, mas agimos como modernos no ideário e nas atitudes. Crenças como o futuro ufanista, lucro, desenvolvimento infinito, consumo ilimitado de recursos, a doutrina de que o planeta está aí para nos servir (antropocentrismo) e a certeza de que a tecnologia resolverá todos os nossos problemas nos faz modernos da pele aos ossos, mesmo não entendendo nada de Keynes, Marx, Kant ou Freud.

A realidade é que o modernismo não se rende facilmente e, tanto é verdade, que ele inventou a palavrinha caprichosa sustentabilidade para se proteger. Entretanto, nossas cidades continuam inchando, nosso crescimento demográfico é explosivo e o nosso consumo de recursos naturais exigiria que tivéssemos mais planetas terra à disposição para serem exauridos.
Quando se dará o fim do Modernismo? Quando os recursos naturais escassearem efetiva e definitivamente, quando o FIM do atual estilo de vida for uma realidade palpável para quem é bafejado pelos confortos tecnológicos, eu e você. O primeiro reflexo do fim da modernidade será o esvaziamento das grandes cidades. Contrário senso ao arquétipo futurista moderno que vangloriava as megacidades tecnológicas, acredito no abandono progressivo do modelo urbano concentrador, talvez porque vida mais simples nada tenha a ver com o ideal modernista de amealhar uma quantidade cada vez maior de bens.
Todavia, o fim do modernismo não se dará pela via da conscientização das massas, não, essas são modernas até à medula e nenhuma luz cósmica será capaz de debelá-las do seu firme propósito de consumir, consumir, consumir. Exortam-nos a  abandonar as sacolinhas descartáveis, preferir produtos orgânicos, tomar remédios somente quando necessário, trocar menos roupa, carro e telefone, gastar menos energia, tudo isso são movimentos negatórios da modernidade, mas que não encontram âncora nos corações e mentes. Exemplo de dissolução da lógica moderna do "viver para trabalhar":
Por uma vida mais ordinária
Então, o fim da modernidade se dará pela agonia da arrancada do bebê dos braços, do despejo do apartamento - realização da vida, do abandono do carro por falta de meios de manutenir-lo. A melhor imagem que emblema tal visão apocalíptica é uma Brasília arruinada tomada pelo mato. Quando realmente ruir o estilo de vida moderno, certamente o seu maior símbolo cairá junto com ele, a cidade futurística construída no meio do nada, que teve o seu momento, e será reabsorvida pelo nada do cerrado.

18 de abr. de 2013

Os piores pesadelos do piano da série "se o meu piano falasse"

por
O ato de aquisição de um piano envolve toda a família, tanto no dispêndio de recursos financeiros, quanto nas preocupações e cuidados posteriores. Afinal, um piano passa a ser um membro da família e merece ser tratado como tal. Agora, imagine um membro da família inteiramente paralisado que fosse sistematicamente deixado aos desmandos de faxineiras, crianças bagunceiras, visitantes relapsos... isso seria considerado um ato intolerável. Então, vamos cogitar por um momento que o piano é um ser dotado de inteligência e veremos o que ele pensa sobre as vicissitudes a que é submetido.

Pianista me tocando com dedos de estivador
Sabe aquele visitante eventual dotado de dedos de ferro que gosta de dar uma tocadinha? Ele me desafina, provoca sulcos nos meus martelos e até achatamentos irreversíveis. De quebra, ele até consegue me quebrar alguma corda no furor dos seus Liszts inflamados.

Faxineiras, minhas algozes mais encarniçadas!
As faxineiras são os animais superiores meus inimigos nº1 (a contraparte dos seres vivos inferiores, traças, brocas, cupins, mofos, etc.). Elas riscam os meus tampos, limpam meu móvel pintado de poliuretano com álcool, deslocam-me temerariamente, engorduram o meu teclado com lustra-móveis, batem, riscam, esbarram, etc.

Nosso antigo piano vertical passou maus bocados. Como ele era torto na base, devido à torção exercida pela tensão das cordas contra a chapa, me obriguei a fazer um balanceamento com toquinhos de madeira, de modo que a alinhar os 4 apoios. Além disso, como o piso é de madeira e os rodízios afundavam por serem muito estreitos, os tacos serviam também para suspendê-los do chão.
Pois bem, diante de toda essa precária engenharia, a faxineira simplesmente moveu o piano do lugar e, logicamente, jamais conseguiu repor os tocos nos seus respectivos lugares. Só aí me dei conta de que ela eventualmente movia o piano, apesar das ordens expressas terem sido taxativas justamente para não mexer naquela coisa monstruosa.

Diante da inevitabilidade dos fatos, quando compramos o novo piano de cauda e depois de descobrir que a faxineira começava a desenvolver uma verdadeira obsessão em trabalhar ao redor e embaixo dele, passei a cerca-lo previamente com um fio vermelho e encher de tralhas o espaço do cercadinho. Assim, no quadrilátero do piano limpamos tão somente eu e a minha mulher. Logo, qualquer coisa que aconteça é da nossa exclusiva responsabilidade. Taí a foto do cercadinho que construo religiosamente a cada vez que a faxineira vem guaribar o nosso cafofo.

Mães ou parentes desastrados que me deslocam no afã de preparar uma festa
Em hipótese nenhuma permita que qualquer pessoa leiga me desloque, pois certamente a coisa acabará em m...
Foi o que aconteceu com essa mãe, que no calor da febre de decoração da festa de halloween, moveu o piano de cauda alguns centímetros, o suporte rompeu e a perna quebrou. O piano só não se esborrachou no piso porque havia uma caixa de brinquedos embaixo que o amparou.

Entenda no link abaixo que, pelo fato do encaixe da perna de um piano de cauda ser frágil, ele não pode ser movido frequentemente, menos ainda por pessoas atabalhoadas.

Minhas teclas engorduradas com lustra-móveis (mais um capítulo da história das faxineiras)
As minhas teclas não podem ser ásperas demais, nem lisas demais, tanto que o marfim foi durante muito tempo o único material cabível, justamente por apresentar o balanço exato entre a aspereza e a lisura. Logo, quaisquer produtos químicos são uma verdadeira desgraça e podem causar danos irreparáveis

O pianista Álvaro Siviero nos conta no vídeo o resultado funesto do zelo excessivo dos ajudantes de palco. Por essas e outras, os pianos de sala salas de espetáculos acabam se arruinando.

Tranqueiras me soterrando!
Sou um instrumento musical e não um anteparo de bagunças!
Acredite, embaixo de tudo isso jaz um piano de cauda!
Doí-me na alma quando me deparo com pianos servindo de armário, principalmente os de cauda. Por isso, a minha política caseira é a de manter o piano livre de quaisquer objetos decorativos ou utilitários.

Transportadores de piano
Acreditem-me, não existe experiência pior para mim do que uma mudança executada por seus lacaios brutais! Por isso dizem que desafino depois do transporte, também pudera, passo por tantos abalos emocionais traumáticos, que levo no mínimo dois meses para me refazer!

O proprietário de piano que passa por uma mudança nunca esquece! Para o bem, ou para o mal, são os minutos mais angustiantes das nossas vidas. No vídeo a seguir Die Martins-Passion, veja o rosto encrespado do nosso grande pianista João Carlos Martins contemplando o terror do seu lindo Petrof orquestral balançando perigosamente na ponta de uma corda bamba no rumo incerto do seu apartamento de cobertura.

Crianças endiabradas derramando coca-cola nas minhas entranhas
Deixai vir a mim as criancinhas diz Cristo! Já a mim, que venham apenas as que estão tendo aulas de piano!
As crianças são adoráveis! Desde que permaneçam longe dos pianos! Por isso, a regra aqui em casa é muito simples: crianças são tocam no piano para estudar e não para socar as teclas, esmurrar, chutar, derramar líquidos, etc. Uma vez uma menina, que já tivera aulas de piano, depois de tocar comportadamente, resolveu apatifar batendo nas teclas de qualquer jeito... naturalmente ela foi "convidada" a retirar as suas mãozinhas enquanto o tampo era respeitosamente baixado.

Pessoas que mexem nas minhas entranhas
Minhas cordas enferrujam só de olhar, imagine alguém encostando nelas!
Isso acontece principalmente com piano de cauda com o tampo aberto. Certas visitas abelhudas tendem a meter os pés pelas mãos, ou melhor, meter as mãos no que não deve dentro de piano, aliás, dentro do piano não há coisa alguma que possa impunemente receber mãos curiosas.

Um raio de sol só me deixa pálido
Pode até ser poético um raio de sol, mas para mim isso é uma calamidade!
Pianos devem estar localizados em lugares sem umidade, luz solar direta, correntezas de ar, calor excessivo, frio excessivo, mudanças bruscas de temperatura. Piano, na qualidade de "ser vivo", se dá bem no mesmo local em que você vive bem e tem a sua saúde preservada. Portanto, ele viverá bem compartilhando o mesmo espaço que lhe traz bem estar.

13 de abr. de 2013

A dieta dos anos 50!

por
Em março de 2012 já havia reduzido 6 kg, até abril de 2013 foram perdidos mais 10 kg.

Como muitas pessoas me perguntam o que  fiz para perder 16 kg, já tendo passado dos 50 anos, resolvi compartilhar o dia-a-dia da minha dieta pessoal.

Na verdade, meu padrão de alimentação foi mudado desde 1980, pois entre 1977 e 1979 eu havia me tornado obesa com 80 kg distribuídos em 1,54 m. 

Porém, a mesma dieta que havia funcionado tão bem nos anos 20, quando passei de 80 a 53 kg em 1982,  já não funcionava mais nos últimos anos e eu estava aumentando, gradativamente de peso até atingir o limite da obesidade 70 kg em 1,54 m.

Assim, desde agosto de 2010 readaptei a antiga dieta e consegui voltar aos 54 kg. Os ajustes foram os seguintes:

1- Radicalização.

Algumas concessões que eu fazia na década de 80 e conseguia reverter, já não consigo mais, assim, alguns alimentos ou ingredientes tiveram que ser erradicados do cardápio, são eles:

No final de 1983 eu mantinha 53-54 kg em média.
Como se observa à esquerda.
a) Qualquer tipo de doce (balas, docinhos, bolachinhas, sorvetes, etc).

b) Qualquer alimento que contenha ‘glutamato monossódico’ (para saber se tem é preciso consultar o rótulo na seção de ingredientes).

c) Salgadinhos, frituras e qualquer alimento cremoso onde sejam adicionados queijos ou creme de leite.

d) Embutidos (presuntos, salames, mortadelas, salsichas, etc).

e) Licores em geral (a combinação de álcool, açúcar e leite é uma bomba de engorda).

f) Produtos de origem suína (carne de porco, bacon, embutidos, etc), pois tais produtos são de difícil digestão e desencadeiam desejo por alimentos açucarados.

2- Redução das quantidades.

Em 1982 perdi 15 kg apenas eliminando açúcar e doces de uma dieta à base de alimentos integrais. Nesse tempo não me preocupava com quantidades e comia bastante.

Porém, à medida que envelhecemos, nosso metabolismo reduz sua atividade e precisamos de menor ingestão calórica. Manter o mesmo padrão de consumo que eu tinha na década de 80 e conseguia manter o peso, se tornou motivo de ganho de peso. Por tal motivo, reduzi as quantidades de alimentos a menos da metade do que costumava comer.

3- Utilização de Produtos Naturais Sinergéticos ao emagrecimento.

 Alguns produtos naturais auxiliam a redução de gorduras localizadas ou ativam o metabolismo, sendo bem-vindos numa dieta, pois aceleram os resultados. Exemplos são o óleo de cártamo, óleo de coco, chá verde, chocolate com 85% de cacau, Keffir de água, gengibre, guaraná.

Dezembro de 2008, com sobrepeso.
Apesar da dieta natural.
Além destes produtos, o colágeno hidrolisado auxilia a manter a firmeza, rejuvenescendo a pele, durante e após o emagrecimento. Modeladores também ajudam o processo de emagrecimento, pois ativam a circulação periférica.

4- Realização de atividades físicas aeróbicas.

É importante realizar caminhadas vigorosas, pelo menos, três vezes na semana durante 45 min a 1 h. Além disso, exercícios que trabalhem postura, alongamento e respiração são necessários, pessoalmente, faço Taichi Chuan, mas o Pilates também traz muitos benefícios.

5- Disciplina.

Para mudar o peso corporal e não voltar a engordar é necessário manter a disciplina por, no mínimo, 5 anos. Quem faz dietas repletas de ‘folgas’ ou ‘pequenos deslizes’ acaba desistindo e recuperando o peso perdido na fase da ‘largada’.

Ou seja, é muito fácil começar um ‘regime’ mas é muito difícil permanecer nele. Desse modo, desde que tinha 21 anos compreendi que era necessário mudar o padrão alimentar e nunca mais voltar para alguns velhos hábitos.

6- Consumo estrito de alimentos integrais.

Cereais refinados “não enchem” a barriga! Explico: quem tem tendência genética para engordar, demoram mais para sentir saciedade e acabam comendo mais do que precisam, engordando. Por isso a escolha pelos alimentos integrais que estimulam melhor o intestino a produzir o neurotransmissor PYY, que atua nos centros de saciedade do cérebro.

Além de escolher alimentos integrais, uso os de produção orgânica, pois promovem maior saciedade e melhor nutrição.

7- Comer ‘racionalmente’ e não ‘instintivamente’.

Enquanto os magros tem uma capacidade natural de consumirem as quantidades certas, as pessoas com tendência a engordar devem “saber” o que estão fazendo e comer apenas a quantidade certa. Na prática, acaba-se saindo da mesa com ‘fome’ ou, na verdade, com vontade de ter comido o dobro do que se consumiu. Porém, passados uns 30 min já não se sente mais a fome.

 
Em abril de 2013, novamente com 54 kg.
Considerados os 7 pontos anteriores vejam o meu cardápio cotidiano:

Amanhecer: inicio o dia tomando um comprimido para a tireoide, receitado pela minha endocrinologista, pois tenho um leve hipotireoidismo. Após 10 minutos, tomo um copo de 300 mL com chá NRG da Herbalife mais uma cápsula de óleo de cártamo com coco, 30 minutos antes do café da manhã.

Café da manhã:
Tomo uma xícara de café puro orgânico, sem açúcar ou adoçantes.
2 fatias médias de pão Tijolo, feito com farinha integral ou granola. Na falta do pão tijolo utilizo cucas integrais orgânicas adoçadas com frutose apenas.
Para passar no pão há vários sabores de patê de tofu. Também costumo acrescentar uma fatia de queijo tofu. No caso de preferir um café mais ‘doce’ substituo o patê de tofu por Tahine e acrescento um pouco de mel.

Após o café faço uma caminhada de 1 h na rua ou de 30 min numa esteira (nem sempre é possível, mas pelo menos 4 vezes por semana faço isto)

Lanche matinal: após a caminhada, tomo um copo de Keffir com chá solúvel sabor frutas e uma colher de sopa de colágeno hidrolisado (aproximadamente 10 g).

Antes do almoço como uma fruta, em geral, uma banana orgânica.

Almoços:
Três dias na semana substituo o almoço por Shake da Herbalife. Em dois destes dias almoço num espaço da Herbalife, onde é servida uma dieta padrão com dois chás e um Shake. No final de semana utilizo shake ou sábado ou domingo, ajustando ao voo livre. Neste caso, faço uma versão mais reforçada, adicionando frutas ou suco de açaí e, no lugar dos chás, consumo uma barra de proteínas e uma de frutas.

Nos outros quatro dias meu almoço consiste de:
2 colheres de servir (maiores do que as de sopa) de arroz ou (ou o equivalente em massa sete grãos, aipim, batata, polenta, etc).
1 Concha de feijão ou outras leguminosas como lentilha, grão de bico, ervilha, etc.
150 gr de proteína, neste caso vario sempre a fonte: num dia como omelete, noutro guisado de soja com cogumelos, noutro carne vermelha (ovelha ou gado), noutro carne de peixe.
1 xícara de vegetais refogados.
Verduras cruas à vontade.
25 g de chocolate com 85% de caçou como sobremesa, mais uma fruta seca (tâmara, ameixa preta ou damasco).

Lanche da tarde: uma fruta

Janta:
A janta deve ocorrer até as 19:00 horas, após este horário não consumo nenhum tipo de farináceo.
Janto um sanduíche de pão tijolo com patê de tofu, sempre que possível. Uma segunda opção é uma barra de proteína mais uma barra de creiais 7 grãos, preferencialmente, orgânicas.
Como bebida, costumo usar café preto amargo.

Ceia:
Chegando em casa, após a aula, consumo uma fruta e uma xícara de leite de soja ou yogurt.
Antes de deitar ainda tomo uma xícara de Chá de Ervas Aromáticas da Herbalife com suco de cranberry.

A dieta descrita acima gira em torno de 1000 kcal (nos dias em que o almoço é substituído pelo Shake) a 1500 kcal nos demais dias. Como resultado, perdi peso de forma lenta no primeiro ano em torno de 6 kg, mas a redução foi mais acentuada a partir do segundo ano com perda de 10 kg e redução de medidas.

Conseguir reduzir a ingestão para 1000 kcal em dois dias da semana, sem reduzir o padrão nutricional, tem sido crucial para atingir os resultados, sem comprometer a saúde.

10 de abr. de 2013

Pianos que o mercado não quer: mitos e verdades

por
Quem acompanha os anúncios de pianos, logo percebe a repetição de certos jargões do tipo "cepo de metal", "cordas cruzadas", "original", etc. Então, tentaremos separar o joio do trigo na verdadeira cortina de fumaça que os vendedores de pianos erguem na tentativa de comover os ingênuos. E o garimpo de informações é muito importante, pois as chances de você comprar um piano errado do tipo "gato por lebre" são assustadoramente alarmantes.

Piano deve ter cordas cruzadas
Piano de cordas retas
O grande alarido das cordas cruzadas não chega a ser uma grande vantagem na prática. O sistema de cruzar as cordas foi inventado para que os pianos pudessem ter cordas maiores e, consequentemente, maior volume sonoro. No entanto, este avanço acarretou algumas desvantagens: nublou a separação entre os tons graves, médios e agudos e introduziu mudanças tonais na transição entre os sons graves e médios. No exato ponto onde há a mudança da inclinação (além do ponto de mudança entre as cordas recobertas de cobre e de aço puro), os pianos apresentam uma sutil mudança de timbre, uns mais e outros menos. Efetivamente, se o uso doméstico e em pequenas salas de concerto não terem sido radicalmente beneficiados com o ganho extra de sonoridade, acredito que a propaganda das cordas cruzadas impacta muito mais aos compradores desinformados do que os que desejam realmente adquirir um bom piano.
Mito: certamente um piano com cordas retas é muito velho (com todos os seus problemas), mas tal característica não deve ser o principal critério para a compra.

Piano bom só com "cepo" de metal
O piano de Mozart tem quadro de madeira
Há exatos 189 anos não são fabricados pianos com quadro de madeira ou qualquer outra coisa que o valha. Logo, não há a mínima chance de você encontrar dando sopa por aí um piano que não tenha harpão forjado em liga metálica. Assim, o chamariz de venda "cepo de metal" é totalmente inverídico, pois, além disso, o cepo (placa de madeira onde são fixadas as cravelhas de afinação) é sempre de madeira.
Mito: não há chance de você topar com um desses rolando por aí, por isso rio alto quando vejo estampado nos anúncios o tal "cepo de metal".

Piano que não foi usado é melhor
Muitos anúncios de pianos se gabam de pouco ou nenhum uso, como se tal característica fosse a mais desejada do mundo.
Mito: jamais compre um piano que passou muito tempo sem quaisquer manutenções, pois talvez tenha chegado a hora de uma restauração completa, ou seja, você gastará nela mais do que pagou pelo piano.

Pouco importa se o piano está guardado numa garagem
Não há coisa mais preocupante do que você ir no local onde está sendo anunciado um piano e ele está largado numa garagem com todos os problemas típicos do local, tais como sujidade, umidade e grandes variações térmicas.
Mito: melhor não arriscar num piano que ficou jogado em condições tão insalubres. Afinal, pianos usados bons "moram" necessariamente nas mesmas condições ambientais favoráveis aos humanos e nenhum dono de imóvel se sujeita a morar na garagem ou num depósito sujo e poeirento.

Piano com peças de plástico dá muitos problemas
Quem consegue saber se um piano tem antigas peças de PVC na máquina se não abri-lo e examiná-lo? Sabemos que uma antiga fábrica Irlandesa (Rippen) utilizava maciçamente plástico nas máquinas dos seus pianos. Sabe-se que as marcas nacionais Essenfelder, Fritz Dobbert e outras também usaram e abusaram dos plásticos em algumas épocas.
Verdade: tais pianos devem ser evitados a qualquer custo, pois os componentes de plástico tendem a se desintegrar em dez anos. Contudo, como para o usuário comum é impossível distinguir pau de pedra, a melhor solução é contar com a ajuda de um afinador de confiança antes de fechar a compra, de preferência, leva-lo para examinar o piano.

Pianos grandes não têm grandes diferença dos pequenos
A verdade é que a maioria das casas e apartamentos não comporta pianos de cauda e muito menos os que ultrapassam ¼ de cauda.
Mito: se você tem espaço na casa e folga no bolso, não hesite em investir num piano maior, pois nesse negócio tamanho é documento, seja de cauda ou de armário.

Piano que não aceita afinação em 440 Hz não é bom
O conjunto cordas-cravelhas de pianos muito velhos pode já não aguentar a afinação no padrão orquestral convencionado atualmente.
Mito: caso o piano não seja usado para tocar com outros instrumentos, não há nenhum demérito que ele seja afinado numa frequência de referência menor, desde que mantenha a afinação por um período razoável de meses.

Piano "guaribado" não presta
Pianos reformados e restaurados costumam despertar preconceitos injustificados no mercado.
Mito: a verdade é que se um piano antigo foi submetido a uma boa reforma, tanto melhor, pois cedo ou tarde todos os pianos devem sofrer reformas e, em casos mais graves de deterioração, restaurações completas.
Cuidado! Desconfie de pianos de mais de 20 anos cuja propaganda se baseia no fato de nunca ter sido mexidos. Ora, isso significa que, ou esteve atirado sem uso durante todo este tempo, ou foi usado e não recebeu a devida manutenção. Ambas alternativas são igualmente funestas, pois denunciam um piano em péssimo estado.

Piano de professora requer muita reforma
Há dois tipos de pianos problemáticos de acordo com o tipo de uso: os que nunca foram usados e os que o foram intensamente. É o caso dos instrumentos destinados ao uso didático e comercial.
Verdade: o mercado está certo quando decreta que piano de professor normalmente precisa de muita reforma (principalmente no mecanismo e troca de cordas), ou seja, é algo a ser evitado.

Pianos com menos de 88 teclas não são bons
As lojas do ramo simplesmente não aceitam este tipo de instrumento na troca e os usuários comuns embarcam na onda.
Mito: certamente, são instrumentos bem antigos e também têm pouca sonoridade, mas não é quesito impeditivo para a compra, desde que a manutenção não tenha sido negligenciada ao longo dos anos.

Pianos com mecanismo de gaiola são a treva!
Sim, eles são efetivamente ruins e a sua manutenção é ruinosa! Por isso, a maioria dos anúncios de pianos verticais que se referem à máquina apelam para o termo "mecânica aberta".
Verdade: agora, se você topar com um desses, certamente estará diante de uma peça de museu, pois o emprego deste tipo de mecânica se extinguiu em 1900!

Pianos chineses e coreanos não prestam
Primeiro apareceram os pianos japoneses e eles não prestavam. Passadas algumas décadas,  Yamaha e Kawai se tornam padrão de referência de qualidade. Com chineses e coreanos tende a ocorrer o mesmo, pois a própria sacrossanta Steinway abriu duas linhas de pianos de entrada fabricadas na China. A marcas Essex e Boston têm desenho de escala feito por projetistas da firma Steinway, mas são fabricados pelos orientais. Os Essex são fabricados pela chinesa Pearl River Piano Group e os Boston são fabricados pela japonesa Kawai.
Mito: se a própria Steinway se rendeu ao labor dos chineses, não serei eu que cometerei o pecadilho da generalização condenando toda a produção deles. 
O que posso dizer é que há coisas boas, muito boas e coisas bastante ruins. Cabe ao comprador pesquisar bastante a marca e verificar na loja (através das características da chapa) saber qual é a procedência DAQUELA peça, pois como as marcas chinesas costumam trabalhar bastante em regime de OeM, a tampa pode ostentar um nome e o interior do piano ter outra origem, melhor, igual ou pior.

1 de abr. de 2013

A saga de Delorges o herói adivinhador de senhas

por
Em flagrante contraste com a antiguidade, quando o "must" era adivinhar pensamentos, na idade moderna a predominância dos sistemas informáticos decretou que a grande chave de dominação consiste em adivinhar tão somente UMA pequena memória. E Delorges nasceu com um dom perfeitamente ajustado aos novos tempos: só de olhar para a pessoa ele adivinhava quaisquer senhas que houvessem caladas no seu íntimo.

Hoje em dia, quem quer saber de pensamentos se podemos "ler" integralmente uma pessoa através do acesso ao seu universo cibernético? Todavia, não podemos qualificar Delorges de hacker, porque hacker ele nunca foi. Na verdade, seu maior deslito moral foi se fanfarronar diante dos amigos e parou por aí. Apesar de jamais ter tirado proveito pessoal do seu poder, como eu disse, a fanfarronice foi o ácido letal determinante da sua ruína.

Não tardaram a aparecer amigos e conhecidos, supostas vítimas, interessados em quebrar senhas, a princípio sob os motivos mais nobres e enaltecedores. Uma esposa traída que queria escarafunchar a vida do marido, um chefe lesado pelo gerenciador do caixa 2, um pai zeloso querendo confirmar as suas suspeitas sobre a filha.

E Delorges, ciente de que um dom abstrato dado por Deus deveria ter alguma serventia prática para a sociedade, atendia aos reclames sob três condições: não cobrava nada, o motivo deveria ser justo e ele tinha que entrar em contato pessoal com o alvo. O que Delorges não se deu conta é que, se por um lado era muito fácil saber a senha de uma pessoa simplesmente olhando para a cara dela, por outro, ele nunca teve o dom de decifrar os recônditos das almas dos reclamantes.

Em breve, começaram a fazer gato e sapato do nosso bom Delorges, abusando da sua ingenuidade e violentando os seus robustos preceitos morais. Portanto, faltou a ele o contraponto de um leitor de corações corrompidos, coisa que o teria impedido de cometer atos absurdamente insanos.

A tragédia do bem intencionado Delorges foi lastimosa. A quebra de senhas no nosso mundo automatizado de hoje permite absolutamente tudo: roubo ilimitado de dinheiro, chantagens, livre acesso a segredos industriais e dados militares confidenciais, apropriação de ideias alheias, etc. Além disso, no plano individual a derrubada de senhas oportuniza a dominação de pessoas, pois como ninguém é santo na intimidade, qualquer um cai quando é lançada sobre ele a feroz lupa da espionagem, fator que municia chantagens das mais diversas naturezas.

E a maldição de Delorges foi usada das maneiras mais infames: foram derrubados governos legítimos, guerras sujas foram legitimadas, inocentes foram arrastados às barras dos tribunais, pedófilos conseguiram cravar as presas nas suas vítimas. E o corolário de desgraças teria chegado às raias do inferno, se a providência não tivesse intervindo. Algum explorador maquiavélico do dom, temeroso de que seus inimigos pudessem recorrer ao mesmo expediente contra a sua pessoa, resolveu finalizar a vida do miserável sujeito que só quis, por princípio, fazer o bem.

Delorges será reconhecido num futuro próximo como a primeira vítima da nova caça às bruxas iniciada no século XXI. Num mundo onde os segredos estão cada vez mais escassos, pessoas como ele são consideradas armas tão letais quanto artefatos radioativos e merecem ser exterminados. Seu corpo foi encontrado despido num beco do setor bancário e a suposta causa da morte foi creditada a um provável desentendimento entre moradores de rua.