Há um tempo tomei ciência através de um post publicado no
grupo Pianos & Teclas do Facebook da controvérsia que gira em torno do
diapasão orquestral adotado como padrão após a IIª Guerra Mundial. Contrapondo-se ao
polêmico 440 Hz, há o 432 Hz preconizado por Giuseppe Verdi e toda uma verve
holística propaladora dos incontáveis benefícios.
Graças aos debates estabelecidos no grupo, a professora de
piano Maria Angela Pires
mandou rebaixar os seus 3 pianos novos para a "referência de Verdi"
e, desde então, só fala maravilhas dos resultados dessa decisão, tanto que a
sua imagem de capa no Facebook mostra um teclado de piano com o número 432 Hz
sobreposto. Entre os benefícios elencados pela professora, a cessação da dor de
cabeça de ouvir alunos martelando os pianos o dia inteiro me parece ser o maior
deles.
Pois bem, o que para mim não passava de mais uma teoria como
tantas outras, tornou-se realidade quando solicitamos ao nosso afinador que
rebaixasse o diapasão do nosso piano de cauda que tem tão somente 2 anos de
vida.
Três fatores concorreram para me converter em aficionado dos
432 Hz:
1) O meu gosto primário nunca foi exatamente o piano, mas o
órgão de tubos. Contudo, muitos anos atrás numa galáxia distante, quando me
propus a procurar um professor de órgão, ele gentilmente me esclareceu que o 1º
quesito para adentrar ao aprendizado era a conclusão do curso de piano.
Frustradas as expectativas iniciais, continuei curtindo órgão e querendo algum
dia estudar piano. Muito tempo depois encetei o curso de piano, mas uma
particularidade timbrística deste instrumento sempre me incomodou, o tom um
tanto metálico e estridente, parecido com um martelo batendo numa bigorna.
Logicamente alguns pianos são mais metálicos do que outros, mas o nosso aqui de
casa, apesar de atender perfeitamente o nosso gosto estético, apresentava uma certa estridência incomodativa.
Concluo agora que a estridência não é coisa intrínseca ao
piano, mas da maldita referência do lá central em 440 Hz adotada pelos nazistas
para insuflarem o povo alemão à belicosidade.
2) Quando o afinador comparece aqui em casa, costumo ficar
todo o tempo acompanhando a afinação, pois nas horas vagas me meto a mexer no
piano, limpar o interior, tirar a mecânica e porventura ajustar algum uníssono
que esteja soando fora da casinha. Nas vezes anteriores em que ele seguiu o
padrão tradicional dos 440 Hz, numa determinada hora parecia que meus ouvidos
iam explodir devido às marteladas insistentes que os afinadores são obrigados a
perpetrar.
Desta vez aconteceu algo diferente quase mágico! Cada nota
tangida sendo migrada da referência 440 Hz para os 432 Hz acarretava um alívio
no cérebro, sentia instantaneamente como se ela tivesse encontrado o seu ponto
de repouso, harmônico. Por isso, ao contrário das afinações anteriores, em que
eu ficava cada vez mais exasperado (alimentando a ideia fixa de usar um
abafador auricular na próxima vez), fui serenando, apesar das muitas recorridas
por médios, agudos e graves que o afinador teve que percorrer.
3) O fator mais importante que reputamos é o prazer
redobrado de estudar/tocar piano adquirido com a mudança. Ainda estamos
tateando nos primórdios, quase como redescobrindo os timbres de cada estudo e
peça, alguns estranhamentos e outros tantos maravilhamentos, mas o período pós
libertação dos grilhões do 440 Hz descortina um novo mundo de sensações prazerosas,
assim como deve ser no universo da música!
E quanto ao temperamento?
Argumentam os detratores do lá em 432 Hz que o fator mais
importante é o temperamento. Ora, a questão do temperamento tem muito a ver com
o fato de você gostar ou não do trabalho de um afinador, é quase como a
apreciação da arte de um chef de cuisine.
Portanto, nesse quesito já estávamos satisfatoriamente aparelhados com os
préstimos do nosso afinador.
E quanto a opinião dos afinadores?
Todos eles acham esse lero-lero de 432 Hz uma absoluto bobagem. Do alto da sua qualidade de criaturas absolutamente conservadores, os afinadores preferem se manter no padrão definido pelos seus diapasões afinados na maldita.
E quanto aos supostos possuidores de ouvido absoluto?
Palavrinha errada essa, pois o que a civilização ocidental mais tem feito na história da música é trocar de padrão de referência. Se existisse um tal ouvido absoluto, ele deveria ter se mantido imutável ao longo dos séculos, seria uma frequência inata, e sabemos que isso não é verdade. Prefiro mudar o rótulo "ouvido absoluto" para capacidade de reconhecimento da frequência de referência, seja qual seja ela que esteja em moda no momento.
Consulte também:
Um site dedicado ao assunto: http://omega432.com/
Obrigada pela matéria e agradeço a referência a mim, só peço que faça uma pequena correção ( as dores eram de ouvido e não de cabeça) . Eu adoro ouvir os alunos tocando, aprendendo e evoluindo, não julgo serem marteladas, mas nos 440 às vezes pareciam por melhor que fosse o aluno. Obrigada ! M. Angela Pires
ResponderExcluirA Milsons ainda comercializa o Palatino de meia-cauda? Quanto você pagou nele?
ResponderExcluirAcredito que sim, paguei em 31 mil em 2011.
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