Sabemos que grandes instrumentos produzem sons baixos e
pequenos instrumentos sons altos. Leves mudanças na forma de um instrumento são
responsáveis por um som mais agudo, ou com menos variações. Então, como é que
se determina o tamanho exato e, consequentemente, a afinação exata?
A resposta é: tudo é feito arbitrariamente. Quando uma única
nota é fixada, todas as outras a acompanham. Há séculos, o tom de referência é
o lá acima do dó médio. Este é o som que se eleva de um oboé, quando uma
orquestra afina.
Hoje, esse lá,
habitualmente, é fixado em 440 ciclos por segundo, mas nem sempre foi assim.
Antes da invenção do diapasão, no tempo de Handel, as orquestras eram afinadas
com um registro amplo, e o lá médio era entoado mais baixo do que hoje, em
cerca de 420 ciclos por segundo. Isto corresponde a uma diferença de quase meio
grau em relação à afinação moderna, de tal forma que o lá tocado antigamente
seria, segundo o padrão atual, um lá sustenido.
Consequentemente, interpretamos hoje todas as composições do
tempo de Beethoven, e de antes, mais ou menos meio grau acima do que se
pretendeu. Os sopranos precisam alcançar essa altura muito maior numa ária de
Mozart e muitos dos grandes violinos de Stradivarius e Guanierius tiveram de
ser reforçados internamente para não desabarem sob o aumento de 12 por cento na
tensão das cordas. Essa mudança de afinação também significa que tocamos
composições pré-românticas num tom diferentes daquele com em que foram
escritas. Lembre-se disso da próxima vez em que alguém lhe disser que o dó
sustenido menor foi a escolha perfeita de tom para a abertura da Sonata ao
Luar.
A mudança no padrão de afinação surgiu de uma longa
rivalidade entre cordas e sopros. Não se pode fazer muita coisa para elevar o
tom de um oboé, mas sempre se pode apertar um pouquinho mas as cordas de um
violino. Com a afinação um pouco mais aguda, as cordas assumem uma clareza de
som que prende a atenção do ouvinte – desviando-a dos instrumentos de sopro que
permanecem aprisionados a um diapasão mais baixo.
Em resposta, os artesãos construíram instrumentos de sopro
com diapasão mais alto. Então, as cordas foram afinadas ainda mais alto, e a
disputa prosseguiu incansável. Em meados do século XX, o lá médio, em algumas
orquestras, já se elevava a uma altura de 465 ciclos por segundo. Mas os
músicos tocavam um dia em Praga e outro em Los Angeles. Um clamor em favor de
um padrão internacional levou ao compromisso dos 440 hz.
Naturalmente que nem todas as orquestras do mundo seguem tal
normativa, por exemplo, a Orquestra filarmônica de Berlim usa 444 hz e algumas
orquestras russas adotam os 446 hz.
Contudo, em consonância com o movimento que preconiza o
rebaixamento do diapasão para um valor mais humanamente aceitável, que valorize
o poder curativo dos sons e não objetive somente fazer mais e mais barulho,
surgem orquestras com instrumentos afinados exclusivamente no lá4 = 432 hz,
considerado como o lá de Verdi, visto por alguns como um padrão mais
introspectivo e relaxante. The 432
Chamber Orchestra
Fonte: livro Música, Cérebro e Êxtase de Roberto Jourdain.
Leia mais sobre afinação no texto publicado pela Loja do Afinador
Nenhum comentário:
Postar um comentário