Então, sendo um tema quentíssimo, me dispus a levar a minha
pipoca para a frente da telona do projetor para ver mais esta produção hollywoodiana.
E a experiência foi decepcionante porque é nitidamente um filme feito para ter
sequência. Eles simplesmente renunciam a qualquer tentativa de explicação
"científica" sobre as causas do fenômeno. Vírus ou bactéria? Como um
espectador nerd, sai frustrado porque o roteiro desvia olimpicamente do
aprofundamento, mais ainda, adota o pressuposto teórico imbecil de que a melhor
maneira de ficar invisível aos zumbis seria a autoinfecção com uma doença
mortal.
Os roteiristas perderam uma ótima oportunidade para esmiuçar
o drama da zumbificação vivido nos nossos tempos. Na vida real, ao contrário do
filme, vejo nitidamente a causa da proliferação dos nossos zumbis: a necessidade
premente de conexão mandatória e imperativa.
Você pode passar uma semana, um mês, quiçá um ano teclando furiosamente
o seu celular noite e dia, mas posso lhe garantir que ao cabo de alguns anos o
seu cérebro terá se transformado numa geleia mole. Acho que
no fundo e canhestramente é isso que este Blockbuster tenta nos passar; os futuros milhares,
milhões de zumbis sequelados pela ansiedade provocada pela voracidade conectiva.
Em tempo: quando os zumbis são deixados a esmo, sem nenhum estímulo auditivo,
ficam se mexendo intranquilamente a todo o momento, mas estáticos e
silenciosos, no máximo batendo os dentes – provando que nem a zumbificação elimina a ansiedade.
Não gostei daquele mar de zumbis se movimentando no filme,
apesar de flagrá-los nas ruas, dirigindo carros, atendendo nos balcões de
comércio, etc. Sou servido por zumbis, transportado por zumbis e almoço com
zumbis, mas não gosto da ideia de ver um filme se desperdiçar tanto nos efeitos
especiais de multiplicação de zumbis, que inundam as ruas e se amontoam aos
milhares para sobrepujar o muro inexpugnável de Jerusalém.
Talvez eu não tenha gostado do filme por ter sido fantasioso
demais ou realista demais? Talvez eu não tenha gostado porque ele não quis se
apropriar do paralelo que acontece no mundo real. Estamos nos zumbificando e
não nos damos conta disso, certamente, até porque a inconsciência é uma das
principais característica da existência dos mortos-vivos.
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