É exatamente neste item que as diferenças de preço entre os
pianos disponíveis no mercado se justificam mais. Mesmo que a peça seja feita
de tradicionalmente de compensado, como o Cepo, o custo de produção quando são
utilizados insumos de primeira aumenta exponencialmente. Então, o abismo
gritante entre Fazioli, Steinway, Sauter, Steingraeber, August Forster, etc, e
os outros não pode ser relegado à uma questão de grife, pois há pormenores
praticamente invisíveis definidores de qualidade, é o que vamos ver.
Qualidade do cepo
À esquerda cepo de piano caro com 7 camadas de madeira densa, à direita cepo de piano barato formado de dezenas de lâminas para compensar a baixa rigidez da madeira. |
O cepo é uma prancha de madeira onde as cravelhas de
afinação são atarraxadas. Apesar da sua pouca visibilidade, é uma das peças
mais importantes do piano, responsável pela estabilização da afinação e
uniformidade tonal. Para dizer pouco, o cepo define a vida útil do piano, pois
dificilmente um usuário se sentirá incentivado a trocá-lo no caso de uma
restauração, devido aos altos custos envolvidos.
CARO: devido à extrema exigência de suportar dezenas de
toneladas e a fim de dotá-lo de maior resistência possível, o cepo é
confeccionado invariavelmente em compensado. Uma das características que
notamos nos Cepos dos pianos em geral é o número de camadas. Só para sabermos, Steinway
= 7, August Forster = 5, Bosendorfer = 16. Por outro lado, a Schimmel usa 22 e a
Steingraeber usa compensados de 25 camadas. Ou seja, não é pelo número de
camadas do seu Cepo que vamos reconhecer um piano de excelência, mas pela
qualidade das madeiras empregadas na confecção das lâminas.
BARATO: é difícil de acreditar que alguns fabricantes
empreguem madeira maciça para a confecção do cepo, mas isso acontece no
tumultuado mercado de pianos. Também há os que apelam para o laminado de 3
níveis em forma de sanduíche, com uma madeira grossa preenchendo o meio e finas
camadas recobrindo as duas faces, arranjo que também é inaceitável devido à
pouca rigidez oferecida.
Por outro lado, se o material publicitário de um piano se
gaba da grande quantidade de camadas (alguns proclamam 41), logicamente isto
não quer dizer nada, ou melhor, quer dizer que ao aumentar a quantidade de níveis
compostos por cola, aumenta o risco das cravelhas não encontrarem madeira suficientemente
rígida para mantê-las imobilizadas por muito tempo – também significa que o
fabricante não quis empregar madeira de maior qualidade para fazer os
laminados.
Tipos de madeiras: o uso de aglomerados
Como 85% de um piano acústico é composto de diversos tipos
de madeiras, naturalmente os melhores instrumentos do mundo são construídos com
as madeiras mais nobres disponibilizadas pelas nossas, atualmente, agonizantes
florestas.
Amostras de compensados usados em piano de alta qualidade |
CARO: como um piano de 1ª linha prima essencialmente pela
qualidade, na sua feitura não são usados quaisquer tipos de madeira
"fake", ou seja, aglomerados de partículas prensadas e coladas, não
importa o nome que deem para eles, aglomerado simples, MDP, MDF, HDF, etc. Esta
é a principal explicação para esses produtos custarem "os olhos da cara".
As marcas de excelência empregam exclusivamente madeiras maciças e compensados
nos seus pianos.
Cortes de soalhos de teclado: do piano mais caro, médio e barato. |
BARATO: como cerca de 85% do piano é constituído de madeira e madeira
é uma matéria prima muito cara, uma das grandes maneiras de encolher o preço é
barateando este insumo. Logo, os pianos voltados ao grande público contêm
invariavelmente o máximo de componentes fabricados em aglomerados,
excetuando-se alguns poucos que não há condições de se empregar chapas de
partículas: pontes, tábua harmônica e contorno (pianos de cauda).
Quina de piano de armário danificado durante o transporte demonstra como são fabricados os gabinetes de pianos baratos, por baixo do grosso recobrimento de poliéster, aglomerado de baixa densidade. |
Até os grandes, tais como Steinway, Yamaha, Shigeru Kawai,
usam e abusam dos aglomerados nas suas linhas de pianos populares, no entanto,
os preços ficam bem além daqueles praticados pelos demais disputantes deste
concorridíssimo mercado. Isto é o que chamo de peso da marca!
Diante dos fatos, a conclusão brilhante é que se você não tem dezenas, centenas de milhares de reais na mão para comprar um piano de 1ª linha, a melhor opção é não comprar? Longe disto! A intenção desta série de artigos é disseminar as informações para que o amante de piano compre sabendo que, fora o glamour da grife, há diferenças gritantes entre um instrumento de 90 mil reais e outro de 30 mil. Contudo, se a sua bolinha dá apenas para o de 30 ou o de 15, ainda assim se pode maximizar a compra através da escolha inteligente. Felizmente para nós pobres mortais desafortunados, a diferença de tom entre os pianos caríssimos e os razoáveis não é mais tão gritante quanto foi no passado, uma vez que hoje os avanços nos projetos de escala e nas técnicas de fabricação reduziram bastante o abismo de sonoridade entre os primeiros e os segundos. Quanto à durabilidade, isso já é outro problema.
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