As inovações de hardware e projeto de escala introduzidas
pela firma Steinway foram tão tremendas e definitivas, que podemos afirmar que TODOS os pianos são mais ou
menos steinways. Graças aos aprimoramentos técnicos, hoje podemos afirmar com
certeza que o piano é o rei dos instrumentos! No entanto, quando se pensava que
todos se contentariam com a sonoridade definitiva, surge uma tendência
revisionista no século XX de retorno às raízes. Então, imperiosamente a presença do
cravo se fez necessária, assim como diversos outros instrumentos de teclas que veremos abaixo, nem todos vêm para
atender à demanda de peças do passado, mas também para se prestar à exploração de
sonoridades exóticas por autores contemporâneos.
E isso é muito bom, pois se toda a unanimidade é burra, todo
o monopólio é péssimo para os nossos sentidos tão achincalhados pela institucionalização do volume de som abusivo. Como a indústria descontinuou ao longo da história
a fabricação dos instrumentos aqui elencados, eles vão sendo reconstruídos artesanalmente com base
nos exemplares existentes e nos projetos remanescentes dos tempos em que o
barulho ainda não era interpretado como música. A propósito, há alguns luthiers trabalhando incansavelmente por esse Brasil afora, justamente construindo instrumento esquecidos através da história.
Fortepiano
O antecessor do piano moderno tem um som delicado,
cristalino e intimista, devido à o seu quadro feito em madeira e aos martelos
revestidos de camurça, mais estreitos do que o recobrimento de feltro grosso adotado
hoje. Como soa no fortepiano uma sonata expressiva como a Appassionata de
Beethoven? Para os meus ouvidos acostumados a trovões e relâmpagos, otimamente!
Cravo
Quem se interessaria pelo volume débil do cravo e sua
inexistência de dinâmica? Acredite que não são só os revisionistas estão a
revalorizá-lo, como também compositores atuais do porte de um Philip Glass (ouça seus consertos para cravo e orquestra) e
outros.
Cravo-pedal
O cravo-pedal foi usado nos tempos áureos do período barroco
como uma alternativa para se estudar órgão em casa, ou por indisponibilidade,
ou pelo desconforto causado pelo frio dos longos invernos europeus. Atualmente,
estão aparecendo álbuns executados nesse instrumento extinto e o bacana disso é
o ganho em nitidez de conhecidas peças de órgão ecoadas nesse aparato menos
ressonante.
Piano una corda
A maioria das notas do piano moderno é composta de três ou
duas cordas. Como soa um piano que tem apenas uma corda por nota? Há um nicho
garantido para este piano reduzido, feito sob medida para quem precisa de um
piano acústico portátil.
Lautenwerk (cravo-alaúde)
Um instrumento extinto dotado de sonoridade mágica é esse!
Ainda bem que ele ressurgiu nos dias de hoje para atender peças como esta, que
foi escrita originalmente para alaúde e transcrita para cravo.
Claviorganum
Você não vai acreditar na combinação deliciosa de
sonoridades que um claviorganum pode dar! Nascido da mescla dos projetos de um órgão
reduzido e um cravo, o que permite inúmeras combinações, é difícil entender porque tamanha preciosidade foi esquecida pelo gosto
estético da civilização. O mais famoso cravista do século XX Gustav Leonhardt gravou um álbum inteiro executando peças de vários compositores nesse instrumento.
Piano-Pedal
Um propugnador deste instrumento é Roberto Prosseda.
Imaginemos empilhar dois Steinways de concerto modelo D, destinando a um deles
os graves profundos, enquanto o outro se encarrega das demais tessituras! É um
instrumento “simples” conceitualmente (desde que você tenha dinheiro suficiente
para comprar dois grand pianos) que pode desempenhar perfeitamente a literatura
para órgão sem recorrência a transcrições.
Clavicórdio
Único instrumento de tecla capaz de produzir vibrato. Apesar
do débil volume sonoro, emite uma sonoridade transparente e agradável.
Excelente matéria, para mim que sou afinador de pianos muito me acrescentou quanto o processo evolutivo no aspecto estrutural e sonoro ao longo do tempo e os antecessores do piano que ai acima, foram exibidos, com sonoridades peculiares bastante interessantes. O parecer e o tema sugestivo do autor acima é de suma importância. Obrigado!
ResponderExcluirPena que a mentalidade moderna tenha simplesmente abandonado linhagens de instrumentos tão ricas!
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