Só recentemente tenho despertado do torpor profundo comum à
nossa civilização. Esporadicamente acompanho um programa matinal de uma rádio
de Porto Alegre, quando descubro estarrecido que praticamente 90% das pautas
versam sobre estradas, asfalto, buracos, trânsito, alças de acesso, viadutos,
duplicações, congestionamento, etc. Por outro lado, leio num jornal que o
problema do lixo em Porto Alegre está em situação caótica, com o poder público
desativando as poucas iniciativas de tratamento na própria cidade em prol da
solução mágica (e caríssima) de exportar o lixo para longe.
Portanto, lixo, desde que não esteja empestando o seu pátio,
não incomoda ninguém, não é prioridade, como também esgoto, saneamento,
transporte público, vias para pedestres... Por falar nessas vias,
invariavelmente as cidades que tenho visitado pecam no tratamento ignominioso
que reservam aos pedestres. Mesmo as cidades planejadas do centro do país, alocam
90% das vias de tráfego aos tão adorados veículos, ao passo que os 10%
restantes ficam entregues às traças, mais precisamente, ao mato, à caliça, aos
entulhos e aos buracos de dar medo.
Inventamos de fazer uma caminhada urbana na pequena cidade de
Bonito-MS e a experiência se revelou um desastre. Do hotel-fazenda até o centro
nos deparamos com uma estrada extremamente larga, bem asfaltada e bem cuidada,
margeada de calçadas descontínuas e intransitáveis, terrenos da lua, por vezes
até totalmente obstruídas, fato que nos obrigava a disputar espaço com o
todo-poderoso automóvel, motos e bicicletas ensandecidas.
Será que nós, poucos, estamos errados e o resto do mundo
certo? Espero pacientemente que o atual regime automobilicista atinja uma era de caos pós-apocalíptico, para que as pessoas descubram que têm duas pernas embaixo da bacia,
que servem também como um sensacional meio de transporte, não só para apertar
alavancas de freio e embreagem, que não sintam vergonha de poderem caminhar
livremente.
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