Sabe qual é o piano de molas? Por serem máquinas, todos são!
Porém, alguns são mais do que outros, particularmente os pianos verticais,
também conhecidos como pianos de armário.
O funcionamento do mecanismo concebido para os pianos
verticais depende exclusivamente do bom desempenho de centenas de
molas, pois o retorno dos martelos ao estado de repouso não ocorre por
gravidade [como acontece nos pianos de cauda] e sim pela pressão exercida por molas, que devem estar intactas e equanimemente tensionadas, para que a
uniformidade do toque seja garantida.
Em pianos novos tudo é uma maravilha, pelo menos enquanto as
molas funcionam em uníssono, como se integrassem uma orquestra! Contudo, com o
tempo de uso avança a fadiga dos metais, a ferrugem e as deformações, então os pianos
verticais tendem a apresentar irregularidades no toque próprias deles. Para
testar, basta tocar com o pedal abafador acionado e você poderá constatar
possíveis problemas. Nessa posição em que o pedal abafador aproxima os martelos
das cordas, qualquer desalinhamento entre os martelas é ampliado, ou seja, você
conseguirá perceber bem melhor as irregularidades. Em pianos mais antigos, que
não sofreram reforma séria nos últimos anos, é impossível usar razoavelmente o
pedal da esquerda em virtude da desregulagem e desgaste das peças e a desuniformidade
na tensão das molas.
A parte ruim da história é que a cessação dos sons também
depende da ação de molas. Enquanto nos pianos de cauda os abafadores repousam
em cima das cordas, não custa lembrar que, pelo fato das cordas dos pianos
verticais estarem na vertical, os abafadores só são mantidos grudados nas
cordas enquanto as molas que os empurram estiverem íntegras. Logo, é mais um
fator na cadeia de fragilidades que uma mecânica construída verticalmente tem
sobre outra disposta horizontalmente, esta que exige do pianista o único
esforço de se embater contra a força gravitacional, que garantidamente exerce a
mesma pressão sobre todas as peças.
Na cruzada contra as forças que mantém as peças da máquina
pianística em repouso, quem tem mais sucesso são os felizardos que tocam em pianos
orquestrais imensos, com mecanismos igualmente imensos que se aproveitam na
plenitude do efeito alavanca (veja tocabilidade e efeito alavanca neste
link). Assim, se tivermos que estabelecer uma escala crescente de tocabilidade
no mundo dos pianos, teremos como menos tocáveis os verticais pequenos,
passando pelos modelos médios até os grandes. Depois, a escala progride pelos diversos
tamanhos de pianos de cauda até chegarmos ao modelo de perfeição, o rei dos
pianos, o Grande Concerto, ironicamente (por ser exclusivamente destinado aos
virtuoses), é o mais fácil de ser tocado porque é o que apõem menos inércia contra as investidas do executante.
Em caso de reforma do mecanismo de pianos verticais, se a
coisa é encarada seriamente, TODAS as molas devem ser trocadas e não somente as detonadas, pois as novas tensionam mais fortemente do que as antigas.
Leia também:
Toques sobre reforma de pianos verticais: Replacing
Upright Hammer Butt Springs
Diagrama do mecanismo: The Inner
Workings of One Note in an Upright Piano
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