Aquela garota feia quando se sentava ao piano era como se a
musa se descortinasse no seu rosto, tamanha beleza que resplandecia!
Aquela garota feia deixava de ser notada ao apagar das luzes
da ribalta, só persistia a sombra que nublava o foco dos seus olhos
melancólicos.
Aquela garota feia enfeixa muitos personagens que tenho
acompanhado, ao piano são princesas que desabrocham em ternura e simpatia. Encantam
pela força e autoridade com que atacam os acordes, a suavidade dos arpejos, a
engenhosidade dos rubatos, a expressividade das melodias. Fico com medo por
elas quando descem do palco e se misturam ao vulgo tão despreparado para reconhecer
beleza latente, que se desvaneçam na vida ordinária.
Aquela garota feia que sobe ao palco torta de tanto desajeitamento,
tão logo seus dedos arrancam imperiosos os primeiros sons do teclado, encarna a
musa eterna dos nossos devaneios e a vontade secreta de sermos iguais aos
Deuses!
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