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27 de ago. de 2014

O poder infinito das explicações mágicas

Aprendemos com o lendário filme “O Mágico de Oz” a diferenciar magia de mágica. Enquanto a primeira emprega se utiliza de técnicas ocultistas, a segunda é charlatanismo puro inventado para enganar bobo.

Isto posto, vamos a elas, as explicações petrificadas que sempre bailam na boca do povo na hora e ocasião apropriadas.

Os parentes do defunto sempre têm uma explicação, plausível a eles, para o passamento do ente querido. A coisa invariavelmente envereda pelo erro médico, relapsidão do atendimento, demora do socorro, etc, (como se as pessoas não estivessem fadadas a morrer desde o nascimento). Se a quantidade de erros médicos alegada fosse real, não haveria mais médicos na ativa, já estariam todos metidos na prisão ou no mínimo com os registros cassados. Aí percebemos como a sociedade convive e tolera pacificamente a explicação mágica, todo mundo ouve mas os que têm poder de coerção não levam à sério, ou não deveriam.

Quando ao cabo de certo tempo as pessoas aparecem obesas, a velha explicação mágica vem à tona: foi um remédio, uma desilusão amorosa, uma perda, etc, que redundou em aumento de peso. Como a pessoa jamais se culpa por ter excedido na quantidade de alimentos ingerida, a explicação mágica vem para atenuar o juízo interno e conceder absolvição absolutamente injusta.

Na dolorosa circunstância em que um membro da família cai no caminho do mal, a explicação mágica é posta para isentá-lo de toda culpa e culpar as más influências dos outros. Ou seja, ninguém do meu sangue e mau por natureza, a não ser que seja corrompido por entes maléficos alheios ao sangue da família.

Então, a explicação mágica tanto é usada individualmente, quanto socialmente, com a função nem um pouco mágica da pessoa ou grupo se isentarem da culpa. Não conseguimos nos livrar dela por estarmos tão atavicamente programadas para tecer longas redes de evasivas.

Mesmo que dificilmente acreditemos nas explicações mágicas dos outros, da nossa feita somos dominados pela ilusão de que as NOSSAS explicações são tão convincentes quanto cristalinas. Tanto acreditamos na nossa falsidade forjada, que para nós ela adquire os contornos de tênue verdade... ainda bem que os outros não se veem ofuscados pelo sono da nossa razão, porque aí surge uma chance de acordarmos, sacudirmos a poeira e enfrentarmos as nossas culpas de frente.

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