Atesto para os devidos fins que a era analógica foi
caracterizada pelo direito ao descanso do cérebro, direito esse que está
efetivamente banido do nosso cotidiano.
Nossas telinhas, múltiplos compromissos, trânsito caótico,
simultaneidade comunicacional, informações em tempo real, tudo isso são
antídotos contra o ato de dormir, atividade absolutamente natural para os
nossos ancestrais, que hoje se tornou uma jornada química.
E a razão das pessoas enfrentarem cada vez mais dificuldades
para dormir está justamente no mar de excesso de estímulos em que vivemos
mergulhados. Você pode não acreditar, mas o processo de sonolência inicia
quando a “rotação” de cérebro entra em marcha lenta, vai aos poucos
desacelerando até que o sono sobrevém naturalmente sob falta de estímulos
visuais e auditivos.
O problema é que no estilo de vida moderno as fontes de
estímulos estão onipresentes e miniaturizadas. Se antigamente tínhamos a
presença da TV até no quarto de dormir, hoje temos smartphone e tablet à guisa
de travesseiro.
Aí surge a questão, como induzir o cérebro a produzir ondas
alfa sem alijá-lo da cacofonia de estímulos? Teríamos de parar de checar
mensagens, parar de responder chamadas do Whatsapp, sair do Facebook, suspender
as selfies, encerrar o Instagram.
Antigamente, no mundo analógico, as pessoas pegavam um livro
antes de dormir e começavam a entrar docilmente em ondas alfa até não
conseguirem mais segurar o peso das pálpebras. Então, quando mal tinham forças
para colocar o livro no criado-mudo, apagavam a luz, viravam para o lado e
dormiam o sono dos justos. Assim, na presença da fecunda escuridão, sem luzinhas
piscando, sem burburinhos eletrônicos e sem a mínima expectativa de ser
interrompidas, o sono contínuo e reparador acontecia.
Hoje, é muito mais fácil recorrer às chaves químicas de
desligamento proporcionadas pelas pílulas do que que se dedicar à higiene
mental capaz de produzir sono. Entretanto, o desligamento químico cobra um alto
preço incrível traduzido em neurônios mortos e outras sequelas neurológicas que
vão se acumulando ao longo do tempo até redundar na demência. Por falar nisso,
a demência precoce já pode ser considerada como um dos males do século!
Uma das consequências desta super estimulação é a dificuldade dos estudantes universitários criarem memórias trabalho.
ResponderExcluirO trabalho docente tem se tornado ainda mais desgastante, pois é preciso repetir, repetir e repetir uma mesma informação, utilizando diferentes estratégias para uma memorização que deveria ser imediata.