Recentemente enfrentamos o dilema da escolha do nosso upgrade de piano, quando depois de 8
anos passaríamos de um velho piano de armário para um piano de cauda. A
princípio, por questões econômicas, a decisão lógica deveria ter sido um modelo
pequeno de piano de aproximadamente 150 cm de comprimento. No entanto, os dados
levantados na internet acenderam o sinal vermelho. Assim, mesmo com a nossa
faixa de preço extrapolada, acabamos optando por um piano de meia cauda, já que
não queríamos conviver com futuras dúvidas que seriam fatalmente ensejadas pela
nossa aguçada (paranoica?) sensibilidade.
O vídeo determinante para a tomada de decisão foi encontrado
por acaso no Youtube. Trata-se de uma entrevista concedida pelo projetista de
pianos Tom Goudy, que trabalha para a marca americana Hallet Davis & Co. Nele
o especialista compara diversos tamanhos de pianos de
cauda. A conclusão óbvia é que, por mais que os projetistas se esforcem para
alcançar os melhores resultados na construção de pianos de cauda pequenos, não
há como ludibriar as leis da física, pois os pianos de tamanho reduzido padecem cronicamente de
problemas tais como: baixos pouco profundos, médios razoáveis, mas a zona
dos agudos, mesmo que tenha bom volume, apresenta não o desejável timbre de
sinos, mas uma estridência desconsoladora. Ademais, a inamornicidade absurda nos pianos pequenos,
tanto nos de cauda quanto nos verticais, aumenta inversamente proporcional à redução
do tamanho. Qual é a consequência do aumento da inarmonicidade? Notas de
oitavas distanciadas da região central do piano “fogem do tom”, ou seja, o
resultado prático é um piano menos “cantante” e desequilibrado entre os diversos
segmentos da sua tessitura. Pergunte para o afinador sobre a existência de pianos “naturalmente”
desafinados e você se surpreenderá com a resposta!
Aspectos
acústicos da afinação de pianos e definição de inarmonicidade
Evidentemente, além do depoimento do vídeo acima, colhi diversas
outras resenhas nos fóruns da internet que me levaram a decidir por um tamanho
de piano maior, mesmo com a espada da falência sob a cabeça:
- Piano de ¼ de cauda é mais um belo mobiliário decorativo
do que um instrumento musical por excelência.
- O Yamaha GB1 4'11" (apesar da reduzida profundidade de 149 cm e
preço robusto de aproximadamente 30 mil reais), é desapontador em se tratando
da sua atividade fim de produzir música. O porta-partituras é fixo, o estilo é
minimalista, não tem pedal sustenuto, as teclas (mecanismo) são um tanto “grudentas” e o timbre deixa a desejar; soando estridente e artificial nos agudos e raquítico nos baixos.
A título de comparação, a interpretação do Prelúdio em Dó# menor Opus 3 Nº 2 no Yamaha GB1 Baby Grande Piano e o mesmo prelúdio num piano de armário. Note como os tons no minúsculo piano de cauda exibem uma pobreza espartana, enquanto o piano vertical aparentemente perpassa, e não pense que tal pobreza só acontece nesta gravação, pois em outras do GB1 se sucede a mesma coisa, ou seja, não é mera coincidência:
A título de comparação, a interpretação do Prelúdio em Dó# menor Opus 3 Nº 2 no Yamaha GB1 Baby Grande Piano e o mesmo prelúdio num piano de armário. Note como os tons no minúsculo piano de cauda exibem uma pobreza espartana, enquanto o piano vertical aparentemente perpassa, e não pense que tal pobreza só acontece nesta gravação, pois em outras do GB1 se sucede a mesma coisa, ou seja, não é mera coincidência:
- Num piano de ¼ de cauda os cavaletes (bridges) são
posicionados tão próximos à traseira do corpo do piano, que não resta muita
área livre disponível para a vibração, o que acaba comprometendo a profundidade
sonora.
Nem o famoso Steinway Model S escapa das leis da física
O modelo testado foi o Hamburg 5-155 de 155 cm (5’1”), o
menor piano de cauda de Steinway com preço de gente grande, no Brasil custaria algo
ao redor de 130 mil reais! Apesar da excelência óbvia do mecanismo, acabamento
e todo o resto, o comprimento reduzido compromete a força dos baixos e provoca agudos
perfunctórios. Isto prova que ninguém consegue ludibriar as leis da física, nem
mesmo um Steinway. Note como uma tecla dos baixos deste piano recém restaurado leva um tempão para retornar.
- Poucas pessoas recomendam um piano de ¼ de cauda, e um dos
motivos é a resposta do mecanismo muito parecida à dada por um piano de
armário. Por isso, a melhor opção para quem procura um piano de cauda é
escolher a opção economicamente mais dispendiosa e partir para o tamanho de ½
cauda (ou comprar um piano de armário grande, economicamente muito mais viável).
Enquanto a medida de profundidade dos pianos classificados como de ¼ de cauda
(baby grand) varia de 146 a 160 cm, os de cauda reais começam em 170 cm, ou
seja, são instrumentos que não apresentam dúvidas em termos acústicos e de
tocabilidade.
- Certamente, a mecânica de um piano de cauda pequeno não é
a mesma do piano vertical, pois, evidentemente, ela é horizontal como a do
piano de cauda real. Contudo, isto não significa que o mecanismo dará a mesma
resposta do piano maior em termos de controle, que é na minha opinião muito parecida
àquela proporcionada por um bom piano vertical grande.
- Extensão dinâmica, sensibilidade do toque e controle num
piano de cauda real são muito superiores a qualquer ¼ de cauda. Numa das salas
onde dou aulas há dois pianos dos quais posso falar por experiência própria: um
Kawai GM-10 (150 cm) e um Kawai KG-3 (186 cm, antiga versão do RX-3). A
diferença de resposta do mecanismo do primeiro para o segundo é simplesmente
espantosa!
Como tudo na vida requer uma segunda opinião, achei um artigo altamente favorável aos Baby Grand Pianos de menos de 5 pés de comprimento (152 cm), escrito pelo famoso avaliador de pianos Larry Fine e colaboradores. Será que os chineses enganaram finalmente as leis da física? Durma-se com este barulho!
Buying a Grand Piano less than five feet long
Como tudo na vida requer uma segunda opinião, achei um artigo altamente favorável aos Baby Grand Pianos de menos de 5 pés de comprimento (152 cm), escrito pelo famoso avaliador de pianos Larry Fine e colaboradores. Será que os chineses enganaram finalmente as leis da física? Durma-se com este barulho!
Buying a Grand Piano less than five feet long
Referências:
Muito elucidativa a sua "reportagem" e eu sempre ouvi falar em "Caudas", mas quando via o Rubinstein, sempre trepava num instrumento com dez km de fundo... a gente nem via o fim!
ResponderExcluirNa prática, via as caudas de Galinho Garnisé com meio metro com som de piano de armário. Eu mesmo tive um piano que não dava afinação, judiação!
Quando toquei num Bechstein de 1.914 com teclas de marfim e uns dez metros de cauda, foi tudo tão fácil! Que pena que não pude comprá-lo, quem sabe fosse o Volodos de hoje!
Parabéns!
Perfeitamente explicada a relação das leis da física com o som dos pianos! Realmente, há pianos verticais ainda maiores do que os cauda 1/4, portanto, com mais som!
ExcluirCaso alguém se interesse pelas jóias importadas, estou à disposição na representante nacional das melhores marcas! Flávio Carrara - Gluck Pianos - 3892-0011, 3892-0022, 3892-0033
Por trás de todo o grande músico há um excelente instrumento? Mesmo que a recíproca não seja verdadeira, é assim que a coisa acontece.
ResponderExcluirIsaias
ResponderExcluirMuito interessante a sua pesquisa.
Toco piano como hobby (não sou profissional) e estou interessado em comprar um piano. Toquei no GB1 e achei o som muito bom para quem está acostumado a tocar em um Essenfelder vertical da década de 90 (com suas teclas pesadas). Na tua opinião qual piano vertical da Yamaha teria um som proximo do de cauda.
grato pela atenção.
Leandro Becker
Em termos de sonoridade quase não difere a do GB1 dos pianos verticais (sem os tampos) por causa da equivalência do comprimento das cordas. A principal diferença reside no toque, pois os pianos de cauda têm mecânica horizontal e nos de armário ela é empilhada.
ExcluirOlá! Estou vendendo um piano YAMAHA GB1K, que comprei em 10/2012. Sou a única dona, e quase não o utilizei.
ExcluirSe tiver interesse, entre em contato.
Obrigada.
Anuncie com fotos no grupo do Facebook Pianos & Teclas https://www.facebook.com/groups/pianoseteclas/ lá sempre tem pianistas interessados em comprar.
ExcluirOrlando Fiori
ResponderExcluirtudo bom Isaias!! é muito bom poder ler esse material, sou pianista formado, e sou aqui do rio de janeiro, to na vibe de comprar um piano de cauda, há 10 anos tenho meu armário Fritz Dobbert modelo 114, então vc entende meu sofrimento, armário (pequeno, som aberto e estridente), teve uma vez q testei um piano Kawai, e não lembro se o modelo era o Gm-10, gostei muito (praticamente amor a primeira vista), e não lembro dele ser muito pequeno, se for quero saber se vc já teve a oportunidade de testar esse modelo gm-10 e quais foram suas impressões?
Não conheço o GM-10. Mas, todos os pianos de cauda atuais na faixa dos 1,50 m de comprimento se equivalem. Kawai e Yamaha são fabricados na Indonésia. Os outros modelos de mesmo tamanho Palatino, Michael, Schumann, Fritz Dobbert são de origem chinesa. Pelo Essex, que tem projeto da Steinway, você vai pagar 35 mil, ou seja, desembolsar 10 mil a mais, pelo mesmíssimo modelo fabricado pela chinesa Pearl River. Resumindo, a escolha deverá ser feita na base do detalhe, acabamento, da sonoridade que mais lhe agrada.
ExcluirOrlando Fiori
Excluirvaleu pela atenção, esse piano q testei da kawai tava na faixa de 30 mil, acredito q seja mesmo o gm-10, alguns outros modelos tmb testei, o Cs-150 da fritz dobbert, sonoridade muito esquisita, na faixa de 20 poucos mil, o Michael tmb testei na expo music, nunca achei um piano de cauda tão ruim, o ambiente muito barulhento tmb não favoreceu, no conservatório aqui no rio tem 2 yamahas, mesmo modelo, devem ser um pouco maior q 1,60, não lembro o modelo, não gosto de nenhum deles 2, mas são os pianos q normalmente me apresento, teclado muito duro, pesado, e os graves não possuem aquele som redondo, nítido, deve ser a tal da inamornicidade.
Tem coisas q a gente também tem q levar em consideração, esse kawai q testei tava num espaço relativamente pequeno e com vários pianos do lado, o q absorve os excessos de som.
Ja conhecia as duas avaliacoes,mas concordo plenamente com a do Larry Fine.O desequilibrio existe,porem os baby grand nao foram criados para pianistas em salas de concerto, mas para uso domestico.Nao ha tremos de comparacao entre qq.piano vertical e um baby grand.Pelas mesmas leis da fisica, a mecanica e diferente.Obviamente nao ha comparacao entre um baby grande e um piano com 3,0 m.
ExcluirPossuo um Kawai GM10 e toca-lo e muito mais prazeroso do que qq.piano vertical,mesmo dos grandes.
Vejam video abaixo
http://www.youtube.com/watch?v=ZD1QxoxabMQ
Se em termos acústicos um baby grande pode até deixar a desejar em relação ao vertical pleno, a mecânica horizontalizada não tem como bater em termos de conforto e controle.
ExcluirNada se compara ao cauda inteira. Na verdade, o que ninguém comenta é a capacidade financeira de cada pessoa. Ter um 1/4 é uma grande satisfação incomparável para estudo residencial/apartamento.
ResponderExcluirTem gente que escolhe muito, mas na hora de tocar . . . fica muito aquém do instrumento, mesmo sendo um piano modesto.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente artigo. Vejo 1/4 cauda com outros olhos depois desta leitura.
ResponderExcluir