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11 de dez. de 2011

A verdadeira origem dos pianos Michael


Se você abre o site do Mercado Livre, eles estão lá reluzindo, novos e negros a preços super convidativos. Desde os verticais aos de cauda, você pode encontrar verdadeiras pechinchas, a exemplo do M185 novo de ½ cauda por 34.990 reais, dito o “mais barato do Brasil”. E você se obriga a acreditar nisso, pois entre as outras marcas de ½ cauda, Fritz Dobbert, Kawai, Yamaha, o mais barato parte dos 50 mil reais.

Qual é a mágica para preços tão espetaculares? Ao visitar o site da Michael descobrimos que eles vendem de tudo em termos de instrumentos musicais, de violões, guitarras a acordeões, de sopros a violinos, de baterias a pianos. Mais especificamente, a minha curiosidade recaiu sobre os pianos; uma vasta linha composta de 5 tamanhos de pianos de cauda e 7 tamanhos de pianos verticais.

Infelizmente, a empresa que criou esta marca (inexistente fora do Brasil), omite a origem dos seus produtos e se limita a informar no seu portfólio: Todos os instrumentos Michael são concebidos para suprir os mais altos níveis de exigência nos quesito sonoridade, tocabilidade e acabamento final. O desenvolvimento é realizado internamente por uma equipe de especialistas técnicos com formação musical, que buscam sempre acompanhar as tendências mundiais e utilizar o que existe de mais atual em tecnologia e matérias-primas.

Ora, isto não é verdade com relação a nenhum dos itens do extenso portfólio de instrumentos, muito menos quando falamos de pianos. Corre na internet a informação de que o mix de pianos tem origem chinesa e a grande prova são os preços extremamente destoantes dos competidores.

Então, pacientemente fiquei quase um mês pesquisando na internet várias informações de fabricantes de pianos que produzem também em regime de OEM, ou seja, comercializam instrumentos genéricos que recebem posteriormente uma marca para serem negociados no país de destino. No mundo há grandes fábricas que realizam tal tipo de operação, a saber, Samick  (Coréia), Hailun (China), Young Chang (Coréia), Dongbei (China), Palatino (China), etc.

Aos produtos finais dessas fábricas são apostos diversos nomes (stencil brands) nos países destinatários: May Berlin (fabricado anteriormente pela Hailun sob supervisão e projetos da marca alemã Schimmel, atualmente Palatino?), Essex e Boston (ambas usadas pela Steinway & Sons para comercializar seus pianos de segunda linha fabricados na China sob supervisão e projetos da Steinway pela Young Chang), Weber (Young Chang), J. Pramberger (Youg Chang), Kholer & Campbell (Samick), Broadman (Hailun), Nordiska (Dongbei), Perzina (Yantai Longfeng), Wendl & Lung (Hailun), etc.

A conclusão lógica é que, se por um lado há centenas de marcas no mundo, por outro, o número dos reais fabricantes quase cabe nos dedos. Com base nisto, parti para a próxima etapa da investigação da genealogia dos Michael, usando como linha mestra a aparência e os tamanhos (alguns deles bastante insólitos, como o piano de ¼º cauda de 157 cm). Os dados não conferiam com a Hailun, nem Samick, Dongbei, Palatino, mas caíram como uma luva nos pianos Bergmann e Weber, duas sub-marcas utilizadas pela gigante coreana Young Chang, adquirida pela Hyundai em 2006, para comercializar a sua linha de produtos saídos da fábrica de Tianjin na China.

Porque os detentores da marca Michael subtraem a informação da verdadeira origem dos seus instrumentos? Pelo amor de Deus, como consumidor eu tenho o direito de saber de onde saiu um bem que adquiro com muito esforço, preciso ver as fotos da fábrica, a linha de montagem, os operários trabalhando, preciso de informações que vão abalizar a minha escolha!

Os músicos tem a fama de serem neurastênicos e detalhistas, por isso, os comerciantes deveriam se puxar para fornecer os mínimos detalhes, jogar de maneira transparente para que pudéssemos buscar nos fóruns internacionais as impressões de outros estudantes, pianistas, experts e técnicos. Afinal, ninguém adora gastar 34 mil reais somente olhando as belas fotos de um arquivo em PDF.

Sobre a qualidade dos pianos Michael pouca coisa sei, mas pelo que ouvi nos vídeos deles postados no Canal de michaelinstrumentos no Youtube, posso dizer que o som é sofrível, tanto dos pianos de armário, quanto os de cauda. A pobreza sonora pode ser resultante da péssima gravação, sei lá, mas é difícil de acreditar que um fabricante de instrumentos musicais não se disponha a produzir vídeos de qualidade profissional, o que é mais um indício de que há algo de podre no Reino da Dinamarca.

Aos interessados em adquirir um piano Michael, fica a dica de pesquisar no fórum Piano World as palavras-chave “Bergmann” e “Weber”, pois se você depender das informações encontradas no ciberespaço brasileiro, terá que esperar sentado.

Finalmente, os links que comprovam a procedência dos modelos de pianos comercializados no Brasil sob  marca "Michael":

Modelos Michael tamanhos de cauda: 150, 157, 175, 185, 228 - verticais: 109, 110, 112, 114, 116, 121, 131

Aqui você pode ver os modelos de pianos Young Chang da linha "Bergmann Traditional" chinesa

Modelos Young Chang de Cauda da Linha "Weber" produzidos na fábrica de Tianjin na China

Modelos Young Chang verticais "Weber" iniciados com a letra "W" de origem chinesa

7 comentários:

  1. Legal sua pesquisa, um aluno me perguntou sobre esse piano e eu nada sabia, o que me diz dos pianos SCHUMANN? Será que é a mesma linha de raciocínio?
    Obrigado!

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  2. A antiga marca de pianos americana Schumann foi comprada em 1979 pela gigante coreana Samick.

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  3. Olá amigo, a questão está resolvida aqui:

    http://tecladoserenata.blogspot.com.br/2011/05/excelencia-e-qualidade-em-piano.html

    É CHINÊS!!! Mas eu compraria mesmo assim, pois não tenho condições financeiras para um de renome.

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  4. nao importa a marca! Antes de comprar vc precisa experimentar o instrumento! Você poderá se surpreender com a qualidade de alguns chineses e porcaria de alguns Steinway & Sons, e Yamaha. Ou não.

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    1. Essa é a regra nº 1, experimentar antes, não comprar somente pela marca.

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  5. olá pessoal, também estou na mesma dúvida, comecei a estudar piano, e na escola estão vendendo um Michael digital , KDM 100 , posso dizer que toquei , realmente as teclas são pesadas, quase parecidas com a de um piano acústico, o som é bem mais baixo, para o meu propósito no momento e condições financeiras, ele seria o ideal, meu medo é quanto a durabilidade, e caso dê algum problema, se há onde consertar, e valor de manutenção do mesmo, se alguém puder me ajudar, agradeço desde já.

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    1. Quanto à manutenção, todos esses pianos digitais têm praticamente as mesmas peças dentro, logo não tem problema.

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