Simetria, beleza, paz, harmonia, são sentimentos abstratos relacionados
à música que exigem crença, fervor, entrega praticamente religiosa. Ou você se
deixa encantar pela musa, ou se converte em remoedor de engenhocas estéreis.
Recentemente, ao longo de uma discussão com céticos musicais
numa rede social, veio-me à tela mental a seguinte imagem: tentar provar a vitalidade
da corda vibrante (que anima todos os instrumentos de corda) e da coluna de ar
(que anima todos os instrumentos de sopro), é o mesmo que tentar provar a
maravilhosidade da luz ao cego de nascença.
O sentido do verbo tocar em música vai muito além da simples
execução de um instrumento, pois há o sujeito ativo que toca e se deixa tocar.
Eis o grande dilema da música: alegria versus orgulho. A música pode ser uma
arena em que se esgrimam egos gigantes inflados de habilidades hereditárias, como
também um oásis de humildade e congraçamento, já que abriga a única linguagem verdadeiramente
universal desde o erigimento da torre de Babel.
Qual é o sentido da música senão curar? Curar os males que
abundam no mundo e nos corações dos homens. Discussões com ateus materialistas
me fazem realizar o quanto tenho e quão pouco eles possuem. A arte sem função,
constructo meramente intelectual, serve para isso, para se discutir obviedades,
discussão impensada entre dois videntes, mas eternamente recorrente quando toca
convencer o cego da inefabilidade do raio de luz.
E de novo vem à baila o verbo “tocar”! Tocar e ser tocado, me
parece que isso é tudo!
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