Nem vou me dar ao luxo de falar do vício em internet, porque
tais informações já são sobejamente batidas na própria internet e nos meios de
comunicação tradicionais. Neste caso, a coisa mais importante é a constatação
dos fatos que estão acontecendo ao meu redor.
E a situação não está nada boa, veja, por exemplo, o cinema.
Pô, aqueles minutinhos preciosos que poderíamos usar para nos desligarmos do
mundo lá fora, são torrados freneticamente por compulsivos checando seus
smartphones. Mesmo que o incômodo não seja audível, o distrativo rastro luminoso dos
aparelhos sendo manuseados acaba irritando quem deseja tão somente imergir na
experiência por qual está pagando. Será pedir demais?
E a coisa não para aí, pois recentemente numa petshop
aconteceu algo que dá o que pensar sobre a queda de qualidade dos serviços
prestados por compulsivos. Quando chegamos na loja o atendente estava vidrado
no seu smartphone e a muito custo levantou o rosto para ouvir o pedido da minha
mulher. Com um olho na freguesa e outro no aparelho, ele chegou a repetir
mecanicamente o produto solicitado, como forma de memorizar algo que deveria o
seu objetivo primeiro: atender eficazmente os clientes. Ao longo do atendimento,
na passagem ele sempre esticava os olhos para o smarphone e posso dizer que o
atendimento se alongou somente devido à sua desatenção. Uma cartela de
vermífugos que ele havia partido foi reposta indevidamente à gaveta onde
estavam armazenadas as demais caixas. Enquanto esperávamos pacientemente que o
camarada “reachasse” a caixa perdida, fiquei matutando sobre as perdas de
produtividade que os checadores impõem aos negócios.
Acho que os selecionadores de mão de obra devem começar a se
preocupar em evitar a contratação de possíveis checadores de smartphones (através
de testes psicológicos?). Suspeito que o vôo 447 da Air France tenha acabado no
fundo do oceano Atlântico graças às decisões imbecis tomadas por integrantes da
geração smartphone. Afinal, quem nunca consegue se desgrudar das minúsculas
telinhas, acaba transformando seu cérebro numa pasta gosmenta e inútil incapaz
de se concentrar em coisíssima nenhuma.
Pense nisso e comece a ficar com medo da próxima vez em que
avistar um checador compulsivo ao volante de um carro vindo na sua direção.
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