Aos medievais agradava a ideia de que o nosso corpo é a
morada primeira de Satanás. Passados alguns séculos, não podemos desprezar a
premissa, uma vez que deixados para trás os tempos de exaltação à virtude,
adentramos na era do culto ao corpo.
Por ele todo o sacrifício é válido, até a própria vida. Por
ele preenchemos os nossos interstícios de silicone, anabolizamos os nossos
músculos e entorpecemos a mente com drogas em busca do gozo mais intenso.
Agorinha mesmo passei por um bêbado que mora na rua ao lado
da sua garrafa de caninha. Ela lhe provê toda a subsistência, desde a água
preciosa até ao ATP para as suas células. Ele vive sob o reinado do corpo, é o
demônio do corpo que lhe guia os passos cambaleantes ao outro lado da rua,
onde se esborracha na grama da praça e se joga nos desvarios do apagamento sem
lembranças.
No caminho me deparo com outros escravos(as) do corpo, com
suas panças rotundas governadas pelo diabo da gula. São tantas as instâncias de
servilismo ao corpo, que me pego por instantes pensando na infinitude*.
Continuo com o meu rápido passar por entre essas cenas; enquanto elas ainda
cintilam nas retinas, contribuem como tema de reflexão sobre o nome que atribuirão
futuramente à nossa idade; provavelmente será a “Idade do Diabo”, uma
classificação justíssima! A era em que os seres humanos divinizaram o vício e
satanizaram a virtude. Isto me faz lembrar um certo Filósofo Pedófilo, que
paralelamente à demonização da menor suspeita de cristandade, prega a plenos
pulmões a carnalização absoluta da Lilith
nua.
* Ainda que tivéssemos mil línguas para falar e um palato de aço, mesmo assim não conseguiríamos enumerar todos os nossos demônios cabalmente. Virgílio
Esse post me lembrou Dante e sua Divina Comédia, ele foi muito discreto em sua descrição do planeta em que vivemos, o fez de uma forma que tudo parecesse que fosse um outro lugar, uma outra dimensão talvez...mas não é não, é tudo aqui mesmo...
ResponderExcluiros textos ja foram melhores...
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