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15 de mai. de 2013

Estão matando o computador, mas alguém afundará com ele

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Minha mulher comprou um telefone desses ditos "inteligente", mais conhecido como smartphone, mas quem está emburrecendo é ela, depois que passou a se preocupar diuturnamente com a danada da carga da bateria que volta e meia está a 30%, o que em termos da "inteligência" desses telefones não é nada, uma metáfora equivalente a zero.

Enquanto a carga do meu burrofone dura 2 meses, o dela ela tem que sair por aí ligando promiscuamente em qualquer tomada de luz ou de carro, para alimentar aquele monte de estrume, digo inteligência, como se fosse um tamagotchi esfomeado. Ora, se já é verdade que os tais dos smartphones estão matando o computador, depois que a Microsoft inventou o fiasco do Windows 8 feito pra tablet ver, vejo que é verdade.

Entretanto, você não vai me convencer a abandonar o meu mainframe, afinal, alguém tem que afundar junto com essa coisa toda, alguém tem que continuar a se conectar somente quando senta na sua confortável cadeira Herman Miller Celle Chair repousando os olhos num confortável monitor de 20" Dell 2007 WFP com tela LCD de alta fidelidade cromática do tipo S-IPS.

Fora daí, nem o meu burrofone me tira do sério, pois na maior parte das vezes ele está bem desligadinho no bolso, economizando bateria. Por isso entendo pouco a geração do pescoço caído ficando cada vez mais burra na frente da telinha de telefones cada vez mais inteligentes. Será que a evolução natural da nossa espécie descambará para o desenvolvimento de olhinhos pequenos e pontudos de toupeira, dedos fininhos de guaxinim e pescoço calcificado e curvo de orangotango velho?

Acontece isso em todas as revoluções humanas, enquanto uns embarcaram na onda das geladeiras, carros e televisões, outros ficaram meio arredios ao estilo século dezenove. Agora, se sucede outra revolução em que as pessoas ficam conectadas até durante o cocô, sexo, sono, comida, cinema, aula, dolce far niente, direção do carro, discussão da relação, estudo, férias, recreio, piscina, doença, casamento. Agonia e último estertor?

Se eles estão matando o computador, agrada-me a ideia de que também estão cometendo suicídio, não aquele banal de se atirar de cima da ponte, mas a opção insidiosa de morrer de câncer provocado pela lenta irradiação de micro-ondas, não só, as vértebras cervicais C1 a C7 cobrarão o seu preço sob a forma de lesões invalidantes e permanentes – isso que não estou falando da deterioração da saúde em função das horas de imobilidade de queixo quase a encostar no peito.

Quem não virar um mutante baixinho, corcunda, míope, possuidor de dez tentáculos longos e fininhos viverá e verá o futuro sombrio.

Notícia inspiradora deste post:

Um comentário:

  1. Isaías, seus textos são muito esclarecedores. Às vezes leio para poder voltar à realidade. Aqui nos EUA me vejo conectado 24 horas. Alguém envia um e-mail, WhatsApp, Facebook, Linkedin, ou qualquer outra baboseira antissocial, e eu recebo instantaneamente. É bom a gente se desconectar um pouco desse mundo virtual e passar a viver no real.

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