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5 de mar. de 2010

Tempos modernos deformam os relacionamentos humanos.

Os novos tempos moldam as relações humanas à sua imagem e semelhança, adaptando-as à nossa dependência cada vez maior ao uso de artefatos tecnológicos.
Tempos modernos
Os fenômenos que relataremos aqui tem a ver com a desintegração do sujeito moderno e com a fragmentação dos referenciais teóricos unificantes. Assim, bem vindo ao Admirável Mundo Novo* da pós-modernidade e as suas drásticas transformações!



Marido ----» Parceiro (muito provavelmente homem-objeto-sexual).
Homem objeto
O homem perdeu ao longo do tempo o seu status de cabeça de casal, para ocupar algum lugar situado entre os papéis de companheiro e objeto sexual, tudo graças à completação da emancipação feminina.
Leia sobre O que temem essas criaturas tão frágeis chamas homens.

Sexo -------------» DST.
As doenças sexualmente transmissíveis não foram inventadas ontem, contudo, depois do surgimento da AIDS, o sexo voltou a ser envolvido pelo manto do medo, desta feita não sob a ótica moralista do pecado, mas diante da morte certa que se avizinhava. Isto até a invenção dos coquetéis mitigadores dos sintomas do vírus HIV, pois, doravante, a pós-modernidade açambarcou de tal maneira essa doença, que convive pacificamente com ela e até a deseja ardentemente, como se constata na infecção voluntária das práticas insanas de Barebacking.
Leia também Hábitos seguros não são o mote das campanhas de prevenção contra as DST.

Conjunção carnal ---------» Sexo sem penetração.
Modern Affair
Felizmente o antigo intercurso sexual baseado na animalidade da conjunção carnal e ejaculação está cedendo a novas formas possíveis de amor, baseado em práticas prolongadas de carícias, intimidade e auto-conhecimento. Isto prova que nem tudo no front da pós-modernidade é de se jogar fora!
Recomendo um ótimo texto versando sobre esta nova modalidade de sexo no Blog [nãodois nãoum].

Namorado ------------» Ficante.
Ficantes
Os antigos estados civis situados entre solteiro e casado foram substituídos por complexos matizes que vão desde o pegar, ficar, passando pelo rolo, até o namoro, tudo em nome do medo do compromisso.

Gravidez -----------» Reprodução assistida.
Reprodução assistida
Antes as mulheres mantinham relações sexuais e ficavam grávidas. Hoje o quadro se complicou, pois se fala em produção independente, fertilização in vitro e, quando tudo o mais falha, barriga de aluguel.

Casamento -------------» Relação.
Casamento moderno
A habitualidade do relacionamento configura, de acordo com a legislação atual, um casamento de fato. Isto significa que, mesmo arcando com todos os prejuízos da união estável, tais como divisão de bens, pagamento de pensões e obrigações legais, os ajuntamentos informais não usufruem as vantagens institucionais. Logo, se tudo é casamento, nada é casamento; portanto, tudo se reduz a complexas relações jurídicas que drenam a vitalidade das pessoas.

Paquera -------------» Sexo virtual.
Sexo virtual
O tempo do latim gasto em convencer garotas a namorar foi substituído pela realidade da Webcam a mostrar detalhes explícitos de corpos refugiados no conforto do lar e protegidos sob a cortina do anonimato concedido pelos pseudônimos (nicknames).

Beleza feminina natural -----------» Silicone.
Atualmente, a Roberta Pedon, um dos símbolos máximos de beleza dos anos 70 e 80, musa da era dos grandes bustos naturais, seria considerada uma mulher de seios caídos e fatalmente seria encaminhada para a implantação de próteses de silicone.

Mito da eterna juventude ----------» Photoshop.
Miragem de Photoshop
Como teria sido possível na era pré-photoshop, uma sexagenária se apresentar ostentando um corpo de adolescente de 15 anos? Hoje, esta e outras ilusões são fatos tão corriqueiros, que recheiam as páginas de todas as revistas voltadas para o segmento masculino burro e cego.

Conclusões:
Entre perdas e ganhos, ainda é difícil fazermos um balanço das vantagens auferidas com o desenvolvimento técnico galopante registrado nas últimas décadas. Quanto mais refletimos, mais cortejamos a certeza de que estamos incorrendo no perigo antevisto pelo movimento Cyberpunk: na medida em que os humanos se mecanizam, as máquinas se humanizam.

Enquanto isto, nos enterneçamos com uma bela figura feminina ressurgida das sombras do passado, reminiscências da década de ouro da beleza feminina, onde a plena pujança caótica das curvas indômitas reinava absoluta.

(*) Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley – Livro que pode ser lido/baixado em PDF aqui.

8 comentários:

  1. Texto incrível! Um verdadeiro retrato da humanidade hoje.
    Um convite: essa semana no Dea e o Mundo textos inéditos de autores convidados, sobre a mulher,em vários estilos de trabalhos, fotos, contos, poemas, tirinhas, venha conferir.
    Um beijão.

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  2. Muito bom, faz tempo que não leio um artigo moderno sobre filosofia, humanidade e tecnologia! Um abraço!!!!

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  3. As novas tecnologias alteraram substancialmente o conceito de vida social. A dependência delas faz-nos reflectir nas incertezas do amanhã.
    Na relação homem versus mulher tudo se alterou de forma profunda.
    Neste contexto ocorre-me uma interrogação.

    O que ganharam as mulheres com a independência financeira?

    Antes de pôr esta questão, gostaria de saber quantas mulheres podem afirmar que são, de facto, financeiramente independentes.
    Tirando as herdeiras, as bens divorciadas, ser bem divorciada também é uma vocação e as que trabalham com sucesso por conta própria ou em cargos de chefia, as mulheres não estão ainda no patamar desejável de independência.
    Com a crise instalada, o retrocesso é inevitável.
    Há hoje muitos casais que não se separam porque não podem; o embate financeiro seria demasiado grande, sendo mais fácil viver, ou sobreviver, debaixo do mesmo tecto e rachar contas e responsabilidades, sobretudo quando há filhos.
    Voltando às mulheres que já alcançaram o patamar tão desejado da independência,afinal o que ganharam elas?
    Autonomia quanto às decisões, liberdade total de movimentos, gestão livre do seu tempo, espaço e voz para fazer valer as suas vontades e desejos.
    Tudo isto tem um preço a pagar.
    O reverso da medalha é que os homens, das duas uma: ou se sentem ameaçados com tanta independência, ou então aproveitam para extrair alguns dividendos.
    Um casamento é juridicamente um contrato, mas não pode ser um contrato de trabalho.
    Um homem que se casa com uma mulher julgando que, por pagar as contas todas, faz dela gato-sapato, merece um bom advogado do lado dela quando chegar a hora da verdade.
    Se pensa que a comprou, então terá de pagar por ela até ao fim da vida, ainda que esta deixe de lhe aquecer os pés e de lhe fazer as vontades.
    Como qualquer jogo de interesses tem sempre os dois lados do espelho, também é legítimo que uma pistoleira profissional que se casa para ter um bom nível de vida e sacar ao marido tudo o que pode, saia do ringue com as mãos a abanar.
    Então porque é que há ainda tantos homens que preferem uma pistoleira a uma mulher independente?
    Porque, em primeiro lugar, e por mais que lhes custe admitir, ou não percebem que estão a ser usados ou, ainda que o reconheçam, consideram mais seguro ter uma mulher com preço do que com valor.
    A era do eu quero posso e mando acabou.
    Que fazer então?
    O retorno não é possível nem admissível.
    Não podem ignorar.
    É melhor sentarem-se e falar.

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  4. Fora do contexto.
    Aceitei a sua sugestão e já adquiri vários contos do autor e já li O Alienista.
    Que bela critica social com uma ironia que dá gosto. É um clássico no seu melhor. Adorei.
    Dei comigo a pensar que talvez o Albertus Camus (A Peste) se tenha inspirado em Machado Assis.
    Obrigado

    PS. Tenho agora que ler os outros seis

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  5. O comentário do Mário Ventura faz refletir:
    Triste o caso em que a dependência financeira seja o único vínculo num casal.

    Sobre o texto como um todo:
    O antídoto aos efeitos colaterais da tecnologia é o amor. Como já cantava a Legião Urbana: É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra pensar, na verdade não há.

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  6. Nossa, isso que dá essa nova era da juventude...
    Quem disse que elas precisam de nós?!
    Quem disse que elas não brincam a sós?!

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  7. É por isso que as mulheres hoje estão fazendo isso com os homens, e não estão nem aí:

    Chifres de Amor :DDD

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