Por que homens feios, sujos e malvados tem lugar garantido no paraíso?

O título mais apropriado para este texto seria: Como as mulheres veem os homens?

A posse presidencial de 2011 foi definitivamente marcada, não pelos costumeiros atores políticos do processo, mas pela exuberante e jovem loira, esposa do vice-presidente Michel Temer. Graças à Deus a voz do povo não é a voz de Deus, pois se fosse, certamente seria maledicente.

Digo isto porque as múltiplas repercussões sobre o fato de Marcela Temer ter escolhido como marido um cara com a diferença de idade de mais de 40 anos, foram no sentido de levantar suspeitas sobre a forma como a ex-miss de 20 anos encarou o pretendente sexagenário (quando se casaram em 2003).

É lícito rotular a operação de golpe do baú, ou existem sutilezas no olhar da mulher que vão além da nossa vã filosofia? A contrapor-se ao senso comum, que é radicalmente taxativo na condenação, há o fato insofismável de que as ações das mulheres se fundamentam em parâmetros não lineares, melhor dizendo, se valem de regras e leis ditadas a partir de um mundo subjetivo só por elas cognoscível.

Sob tal lógica disruptiva, como elas definem um homem bonito, feio, velho, másculo, novo, atraente, repulsivo, afeminado, atraente, afetado? Alguns alegam o complexo de Édipo, outros apontam o oportunismo para justificar o matrimônio dos Temer. Mas, será que a verdade se deixa entrever de maneira tão ridiculamente simples? Não conheço detalhadamente a visão feminina sobre os homens e, possivelmente, elas também desconheçam a inteireza da sua racionalidade, já que, como foi falado acima, as mulheres não se movem sob pressupostos lá muito sólidos.

Por isso temos sorte, já que até os espécimes considerados mais desprezivelmente horrendos do nosso gênero, desfrutam de surpreendente acolhimento entre as mulheres. Ou porque elas tem pena e se apaixonam, ou porque desprezam e se culpam, ou porque nos acham tão pateticamente esperançosos, que se condoem da nossa estupidez e nos transformam em seus maridos.

Por isto não me canso de dizer: você não precisa ser um Gianecchini para conquistar uma mulher arrasa-quarteirão. Nem, para a frustração das más línguas, é necessário ter o bolso do Bill Gates. Basta ter uma tremenda cara de pau acrescida do imprescindível poder de se colocar no papel de coitadinho. Viu como a questão é deliciosamente complicada?

Assim, devido às complexidades imperantes nos meandros do coração feminino, a maioria de nós, que nunca chegará aos pés de um Brad Pitt, mesmo que sejamos feios, velhos, gordos, barrigudos, carecas, pobres, sujos e malvados, podemos competir de igual para igual com qualquer Apolo, porque elas possuem o dom para ver a nossa beleza interior. Inspirada nesta capacidade sui generis, foi construída uma das maiores fábulas da literatura universal: a Bela e a Fera, ou seria a Bela e Temer?