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13 de mar. de 2012

O piano Pleyel mudo de Chopin grita contra os fortíssimos percutidos em seu nome


Comparado aos Steiways atuais, o piano da marca Pleyel fabricado em 1848 é uma mimosidade frágil e escassamente sonora. No entanto, os atletas bombadões atuais que esmurram Steinways de puro aço talvez tenham esquecido e certamente matado a verdadeira herança musical de Chopin, que era tímida, frágil e diáfana, tão contrastante aos fortíssimos brandidos em seu nome nas salas de concerto, que em pouca coisa se diferenciam de arenas de touros bravios, onde o ensurdecimento embrutecedor é o objetivo final... tão distante do intimismo proporcionado pelas salas de câmara características dos tempos de Chopin.

Por isso às vezes me pego na vontade de ouvir Chopin num Pleyel, ou Ravel e Debussy num Erard da sua época, para tentar recriar o tempo em que a música além de não ser barulho, se dava ao luxo de carrear um silêncio contagiante. Como estamos rodeados de Steinways tonitruantes por todos os lados, de vez em quando um pouco sutilidade e recato não podem fazer mal a ninguém.

No vídeo abaixo a insigne pianista canadense Janina Fialkowska discorre sobre um Pleyel recentemente restaurado que resgata em termos sonoros a sutileza há muito perdida.


1 – A madeira usada no gabinete é o Mogno cubano (Swietenia mahagoni), um tipo de madeira raro hoje em dia e está em risco de extinção.

2 – A largura das teclas do Pleyel de Chopin era sensivelmente mais estreita do que os pianos atuais. Portanto, quando você observa o abuso de oitavas nas obras do Mestre, pode se dar conta o quanto ele com sua mão pequenina tinha dificuldades bem menores do que as enfrentadas por você no tecladão moderno.

3 – Enquanto o piano moderno tem 88 teclas, o piano de Chopin possui apenas 83 teclas, por isso toda a sua obra nunca ultrapassou tais limites.

4 – O curso da profundidade da tecla do Pleyel era 8 mm e o piano moderno é de 10 mm. Isto implica em maior sensibilidade e facilitação das passagens rápidas por um lado, e maior margem a erros por outro.

5 – Os pianos dos idos do século XIX tinham muito menos metal do que os atuais. Isto significa que eles não tinham a chapa inteiramente feita de ferro fundido, como as que equipam todos os pianos modernos, todos herdeiros das modificações introduzidas pela família Steinway & Sons. Se por um lado somos beneficiados pela maior estabilidade tonal e período de afinação mais longo, nossos ouvidos recebem de troco o agressivo timbre metálico característico dos pianos modernos.

6 – Conforme se nota no vídeo, o Pleyel de Chopin tinha encordoamento reto. Ora, a preferência atual recai unanimemente sobre o sistema de cordas cruzadas, que se permite cordas maiores, também é responsável pelo desagradabilíssimo efeito dos “dois pianos em um”, quando você nota a quebra no timbre no limite onde as cordas se cruzam. Dependendo da qualidade do projeto de escala do instrumento, este efeito pode ser bastante desagradável.

7 – Os martelos projetados naquela época eram delgados e delicados, pois não eram pensados para esmigalharem-se contra cordas dotadas de capacidade para produzir barulhos suficientemente altissonantes para sonorizar auditórios apinhados com milhares de ouvintes.

Um comentário:

  1. Eu tenho um piano Pleyel de cauda inteira de 1950 e posso afirmar que quando toco uma Polonesa,faço todos os fortissimo necessários sem problema. Também tive oportunidade de tocar num Pleyel de encordamento reto. Achei que a potência era boa, apesar da antiguidade, e não sugere essa fraqueza em que se supõe que Chopin pensava toda a sua música. De qualquer forma, o que sempre achei é que um Pleyel sempre permite maiores "nuances", e a resposta às intenções de toque são admiráveis. É uma pena que a marca não concorra como se merece no mundo. Contudo, há um problema: há pianistas que se queixam da perda de volume nos baixos com o tempo. Talvez aconteça com alguns modelos, não sei.
    Acrescentando em outro ponto, há uma história - verdadeira ou não - que fala acerca de um pianista da época de Chopin (não me lembro do nome neste momento) que após uma execução da Polonesa Heróica foi muito aplaudido pelo público, mas pediu pessoalmente desculpas a Chopin, que estava presente, por ter tocado com tanta força, porém, disse ele mesmo, assim era como sentia a música. Parece que Chopin lhe respondeu: "Tomara que eu pudesse tocar assim, com essa força!"
    Na minha opinião, coincido com a de vários pianistas que tentam derrubar aquela imagem delicada, às vezes quease feminina, de um Chopin fraco. As biografias sérias revelam episódios da sua vida que correspondem a um homem de carácter romântico, mas não precisamente "fraquinho". Esse "Chopinzinho" que faz deleite de um público que não seria correto chamar de "sensível" deveria desaparecer definitivamente.

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