A vida virtual é uma comédia, mas nem tanto, pois pode superar e virar tragédia.
Naturalmente, sob este ponto de vista, há no Facebook muita tragédia, mas essas
passam longe, pois os meus amigos são mais ou menos loucos, mais ou menos
suicidas, mais ou menos revolucionários, mais ou menos auto-flageladores e não necrófilos, homicidas, nazistas, pedófilos, sado-masoquistas, psicopatas.
Enquanto um perfura o pênis com grampeador de estofado,
outra tatua a sua genitália e a expõe como se fora ato comum de exibir um
lanche. Por falar em lanche, dezenas de amigos fotografam iguarias e as publicam
obsessivamente, talvez num esforço derradeiro de cooptação de mentes igualmente insaciáveis na volúpia por comida.
Por outro lado, há gente bacana que provoca haustos de
refrigério, induzindo-me a pensar que o mundo vale a pena. E talvez valha, se a
alma não é pequena, parafraseando Pessoa!
Já vi gente se declarar nocauteado na lona existencial:
Amigos sei que não sou santo já fiz muita coisa errada
nesta vida, mas hoje mudei, não sei se foi por tantos erros que cometi que
estou pagando hoje, mas sei que a minha dor é muito grande, minha mãe se
suicidou seis anos atrás e meu pai sofreu um AVC e faleceu no ano passado, meu
irmão briga comigo por herança, hoje moro no litoral na praia sozinho, só tenho
vocês aqui para desabafar, se não fosse vocês já teria feito uma besteira,
agradeço por todas suas palavras, hoje fico trancado no quarto no escuro e sem
comer, parece que minha vida acabou, choro o tempo todo e tomo remédios para
dormir, acordo e volto a tomar remédios, peço a todos pelo amor de Deus que
orem por mim estou no fim do poço, sei que aqui encontro amigos mesmo que
virtuais verdadeiros, cansei de ser o Forte.
(No dia da publicação, não tive coragem de curtir nem interagir com isso daí, só pude ler e ficar chocado, o que não deixa de ser uma espécie de cumplicidade muda e telepática.)
Vi gente em estado terminal, gente se recuperando de operações,
mazelas e crises e há os que se despedem inúmeras vezes e retornam recalcitrantes,
enquanto outros somem sem deixar bilhete ou vestígio.
Outros não desaparecem, mas continuam lá na linha do tempo praticamente
esquecidos, talvez vítimas da bipolaridade que as impele eventualmente a interagirem freneticamente, ao passo que tempos depois mergulham num mutismo inexpugnável.
Enfim, este é o mosaico que se me apresenta, estilhaços de
vida faiscando como em contas de vidro.
pois é, e de vez em quando alguém me pergunta, vc tem face? aí eu digo (mantendo a educação),
ResponderExcluirputs, sabe que ainda não.
Mas fazer o que, só posso me sentir feliz por realmente não me fazer falta uma coisa dessas...