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2 de mar. de 2013

Não existem mais gaiatos, só autistas eletrônicos

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É verdade que as pessoas estão mais conectadas através dos seus dispositivos móveis. Mas, que fim levaram as longas horas de dolce far niente?

Lembramos, eu e a minha esposa, de um antigo caso ocorrido num velório cuja entrada se dava através de um longo corredor escuro. Todos que adentravam o recinto recebiam o aviso de uma voz que dizia "cuidado com o degrau!". Então as pessoas, como não conseguiam enxergar direito, vinham arrastando os pés até adentarem ao recinto iluminado. Logo, elas sentavam cientes de que tinham caído num golpe. Aí, ficavam na expectativa da próxima vítima, que tão logo assomava à porta, era alertada pela voz do gaiato: "cuidado com o degrau!".

Depois de darmos boas risadas em decorrência da rememoração, indaguei: o que aconteceria hoje em dia? Nada, a mulher respondeu, não existem mais gaiatos. A constatação foi feita a propósito do tema da nossa conversa, a compulsão moderna de conexão a qualquer momento, alimentação, sono, trabalho, lazer, e até sexo (o que ocasionará a impotência causada pela dispersão eletrônica).

Não existem mais gaiatos porque os espertinhos em potencial não estão mais observando a realidade e sim absorvidos pelas telinhas. Ou seja, se podemos comemorar por um lado que os oportunistas de plantão não estão mais à espreita por aí prontos para enganarem as próximas vítimas, por outro, devemos lamentar o fato de que as relações interpessoais estão se deteriorando a olhos vistos, se é que sobrou alguém para observar o restinho de tecido do real que ainda não foi açambarcado pela fúria devoradora dos touchscreens.

4 comentários:

  1. Se a televisão e os video games não mataram a imaginação da geração anterior(eu incluso), creio que tablets e smartphones também não terão muito efeito no espírito galhofeiro da geração atual.

    Fim das contas, toda geração tem o fim do mundo nas costas decretado pela anterior, e o mundo segue em frente. Eu só imagino o que esses aí vão dizer dos que virão...

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    Respostas
    1. Acho que estamos piorando. Essa geração smartphone enterrou um avião voando (Air France voo 447) no oceano Atlântico por pura estupidez.

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    2. A geração pré-TV encheu um balão com um gás extremamente inflamável com resultados catastróficos. Gerações antes, quase extinguiram a Europa ao matar indiscriminadamente os gatos, por serem animais de "mau presságio", facilitando assim a proliferação dos ratos e da Peste.

      Imbecilidade não é monopólio de nem uma geração ou povo. Se fosse, provavelmente estaríamos extintos há MUITO tempo.

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    3. Certamente. A ideia que me ocorreu de que estamos nos tornando piores, cada vez mais piores, foi gestada durante a estada no museu das armas de Viena. Tínhamos a oportunidade de pegar na mão uma cota de malha usada pelos cavaleiros medievais. Aquilo é um peso só! O detalhe é que o negócio não passava de uma das peças da indumentária, havia outras muito mais pesadas e os caras guerreavam vestidos com armaduras por dias inteiros, meses. Então, somos um pioramento bárbaro do que foram os medievais e estes por sua vez, foram resultado do apequenamento dos romanos. Voltando à geração smartphone, não vejo evolução quando a pessoa não consegue se concentrar no mundo à sua volta, aliás, não consegue mais se concentrar em porra alguma.

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