Não é apenas uma questão de estética, já que a protuberância
abdominal vai além, é uma maldição masculina, talvez uma das não documentadas
lançadas por Deus durante a expulsão do paraíso. Enquanto elas engravidam de
filhos, engravidamos das facilidades da vida.
A verdade é que um dos preços a ser pago pelo ato da Eva ter
comido a maçã, foi o nosso embarrigamento, pois acreditamos que no Jardim do Éden
não havia espaço para pneus e rotundidades lipídicas. Assim, além da condenação
específica ao eterno e infrutífero trabalho no
suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela
foste tomado; porquanto és pó, e em pó te tornarás. Intui-se que Adão passou a sofrer a
danação velada da barriga que se avoluma na medida do avanço da idade, ou seja,
quando a volta ao pó se aproxima.
Logo, a personalidade do homem pode ser perfeitamente
definida pelo tamanho da sua barriga. Se depravado de custumes, lhe surgirá o indefectível
calo sexual, se bebedor, a famosa barriga dura de chopinho, se for rato de
academia, ostentará os místicos "six pack" (mormente confundido com
gay), se sedentário e comedor de lixo, terá a barriga mole escorrendo para fora, se vegetariano
e fisicamente ativo, exibirá uma barriga chapada raramente encontrada em homens acima
dos 40.
Quando me dei conta de que a minha barriga, fruto de anos de
excessos que para mim não foram tão excessivos assim, não estava me levando a
lugar algum, resolvi mudar a fotografia. Dois anos depois de dar adeus os
churrascos, pizzas, jantas copiosas, Bib's, confeitarias (sinônimo de toneladas de gordura hidrogenada), cervejas, refrigerantes
normais-ligh-diet-zero, açúcar branco, frituras, festas de fim de ano, sal, x-burguer,
adoçantes artificiais, lasanha, sorvetes, batata frita, maionese, sobremesas,
restaurantes, etc*, ainda espreito uma barriguinha teimosa.
Ela está lá resistindo bravamente sem dar sinais de se chapar, talvez num aviso de que
o tamanho da minha continuidade de propósitos ainda é tenuemente curto. O bom é que
descobri nessa altura do campeonato que a privação de gulodices gordurosas e
açucaradas, que antes era uma autêntica renúncia ao prazer, hoje é renúncia fácil
a itens que provocam uma leve sensação de enjoo. Saberei depois se a anulação da danação
do paraíso tem a ver com a adoção irrestrita de vida de monge, ou se é de caráter irrevogável.
O bom resultado das renúncias é que viver sem barriga (ou pelo menos com uma pochete) é como
voltar a vivenciar o paraíso do maior vigor sexual, fôlego redobrado, disposição,
desaparecimento das dores articulares, sono tranquilo, etc. Certamente, por vias transversas, o
jardim das delícias do Éden não foi afastado tanto assim do nosso alcance, desde
que nos capacitemos a reconquistá-lo.
* não mencionei café porque acho que ele não engorda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário