A introdução da resina ABS (Acrilonitrila butadieno estireno)
e compostos sintéticos mesclados com carbono mudou completamente o cenário de descrédito
em relação à durabilidade. Inclusive há uma onda de ufanismo sobre o uso de
tais materiais em substituição à madeira, cujas irregularidades e comportamento
errático são perfeitamente conhecidos. No entanto, apesar da Kawai ter começado
a usar compostos sintéticos nas suas mecânicas há 40 anos, até hoje persistem as
discussões sobre o assunto e o fato é que a tradição da madeira tem reinado
soberana, pois a maioria dos fabricantes permanece fiel à obra prima
tradicional. Isso por causa de prováveis deficiências no
funcionamento, ou será por imposição do mercado?
Agora, em meio às vozes que fazem juras de amor aos
plásticos modernos, ouçamos algumas vozes dissonantes que falam de questões
bastante pontuais e caras aos pianistas, que são os verdadeiros interessados
nessa guerra entre o seguimento da tradição e a abertura de espaço para a introdução
de novos materiais.
O problema da rigidez dos pinos dos martelos
O vídeo acima demonstra como a extrema variabilidade na
flexibilidade das madeiras pode minar o equilíbrio na produção da nota de tecla
para tecla. Ora, o oposto também é um problema. A rigidez dos tubos de carbono
usados como pinos dos martelos dos mecanismos fabricados pela Wessell, Nickel and Gross” (uma subsidiária da fábrica de pianos norte americana Mason and Hamlin), pode tornar o som muito "seco", fato que restringe a
capacidade expressiva dos pianistas. Será que este motivo fez com que a Kawai tivesse
permanecido fiel aos pinos de martelos de madeira? A primeira foto da página
ilustra uma mecânica Kawai, enquanto a foto abaixo mostra um mecanismo WNG (Wessell,
Nickel and Gross).
Segundo palavras do projetista de pianos Del Fandrich "o peso dos pinos de martelos produzidos pela WNG é quase idêntico aos tradicionais pinos de madeira fabricados pela Renner, porém eles são significativamente mais rígidos, tanto no sentido longitudinal, quanto no rotacional".
O problema da rigidez total da mecânica
Se a questão estrita da rigidez dos pinos dos martelos pode
ser um problema, pode-se cogitar o quanto a rigidez total das partes de
plástico altera o toque ao pianista, desejoso antes de tudo de ter um teclado
altamente responsivo, mas que não vê com maus olhos uma pitada de resistência.
A madeira, com certeza, dá esse componente orgânico em alto grau, apesar da sua
irregularidade e de ser vulnerável às variações de umidade.
Não transmite as vibrações aos dedos
Um depoimento intrigante dado por esse pianista lança luz
sobre uma das maiores vantagens do instrumento acústico sobre os seus
congêneres digitais: a capacidade que os primeiros têm de transmitir as
vibrações via teclado aos dedos, coisa que os teclados eletrônicos não transmitem
absolutamente. Pois bem, o pianista relata que notou tal deficiência quando
experimentou um piano Mason and Hamlin equipado com mecanismo de plástico.
Ora, sabemos que a madeira de fibras longas é uma ótima condutora de som, por
isso ela é usada em praticamente em todos os instrumentos musicais acústicos.
O que pode garantir essa mesma capacidade condutora nas resinas de
plástico?
Problema na cola
Especificamente quanto aos mecanismos WNG, que usam martelos
de madeira colados a pinos de carbono, uma escola de música de Ontário (Canadá)
documentou um acontecimento estranhamente desolador. Eles compraram um Mason and Hamlin orquestral CC 9'4" em 2009. Depois de afinado, regulado e entonado,
ele ficou sem uso até 2012. Quando foram usá-lo, eis a amarga surpresa: todos
os martelos estavam incrivelmente desalinhados. Ora, sabemos que pianos com
mecânica de madeira chegam a permanecer décadas parados num canto sem que os
"fantasmas brincalhões" consigam transformar os martelos num lixo puro.
Ruídos
Este usuário relata os barulhos que tem experimentado no seu
Mason and Hamlin modelo AA recém comprado. O ruído, que ocorre quando o
martelo percute a nota, é mais pronunciável na zona dos agudos, diminui nos
médios e quase não é notado nos graves. Ele comparou com outro modelo
semelhante dotado de mecânica de madeira e não constatou os ruídos. A
explicação pode ficar por conta do item "O problema da rigidez dos pinos
dos martelos" visto acima.
Mecanismo leve demais
Uma medição do peso exercido pelo bascul sintético sobre a
tecla revela que ele é 2,5 gramas mais leve do que o equivalente de madeira. Se
por um lado há a vantagem dessa leveza significar a diminuição do uso de chumbo como contrapeso da tecla (por ser um material altamente tóxico), por outro, o
pianista pode se sentir desconfortável com um toque demasiadamente macio - fato que remete aos famigerados teclados eletrônicos.
Maiores informações sobre o uso de novos
materiais em pianos:
Realmente será muito difícil entrar nesse mundo místico e cheio de tabus no campo pianístico e dos instrumentos acústicos. Mas, é claro que lentamente uma coisa vai substituindo outra como no início, apesar da resistência de muitos conservadores, porque a evolução, felizmente, não para. Umas coisas darão certo e outras não, mas, com certeza, será sempre para melhor e, a flora agradece...
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