Além de definir o preço, o uso de LDF, MDF e HDF influi
também, como não poderia deixar de ser, na qualidade sonora do piano. Por isso,
na hora de comprar um instrumento, não podemos deduzir que um piano de barbada
só tem esse preço porque o dono da loja está sendo bonzinho.
Tampo de piano de cauda
Até os caríssimos pianos europeus de alto pedigree utilizam aglomerados
na confecção dos tampos. Tal procedimento se justifica diante da grande pressão
exercida por entidades ambientalistas em nome da preservação dos recursos
naturais. Diga-se de passagem, o tampo feito de MDF em nada afeta a projeção do
som, exceto ser bem mais pesado de manusear. Portanto, não estranhe se você descobrir esse material no seu dispendiosíssimo piano de cauda (naturalmente, o fabricante jamais mencionará tais pormenores nas especificações).
Teclas
Curiosamente, um afinador encontrou teclas confeccionadas em
HDF (High-density fiber) num piano vertical Kawai. Tradicionalmente num piano
bem construído, as teclas são feitas de abeto (spruce) alpino. Seria
catastrófico se sobre o teclado fosse derramado qualquer líquido, acidente que
não é difícil de se imaginar em pianos domésticos e de bares.
Tabuleiro do teclado
Pelo mesmo motivo exposto acima, não é recomendável que a
madeira que serve como fundo do teclado seja de aglomerado, contudo, alguns
pianos baratos usam MDF nesse lugar crítico para a longevidade do piano.
Tampo harmônico
Segundo as palavras do afinador Francisco Motta: Em alguns pianos de baixo custo foram
utilizados compensados especiais no próprio Tampo Harmônico, por exemplo: Yamaha
e Baldwin. No Brasil foram utilizados até compensados comuns de Virola, como se
pode observar no M. Schwartzmann.
Fiz uma pequena manutenção num Schwartzmann desses que ainda
andam por aí e garanto que aquela coisa foi uma das puras enganações aplicadas
pela antiga e famigerada indústria nacional de pianos.
Estrutura
Principalmente nos pianos verticais, os fabricantes cada vez
mais ousam (eventualmente abusam) nos aglomerados, especialmente no fabrico de peças
curvas. Contudo, as partes responsáveis pela integridade estrutural (exemplo:
colunas), e aquelas que contribuem para sonoridade (caixa) não deveriam ser de
aglomerado.
Resumindo, se você verificar nos sites dos fabricantes, não
verá nenhuma menção ao uso de aglomerados, simplesmente encontrará omissão onde
porventura houver. Por outro lado, em relação aos componentes confeccionados em
madeira, o fabricante ostenta em letras bem destacadas "madeira maciça"
nas especificações, fato que o mercado percebe como um sério indicador de alta qualidade.
Num dia qualquer vi numa loja de instrumentos musicais da
minha cidade um pianinho de armário Suzuki (nome que tenta ganhar uma certa
respeitabilidade na carona do método de ensino musical japonês, quando na realidade
integra o time dos pianos chineses da mais pura ralé). E o pouco que vi é
impressionante em termos de baixa qualidade e fragilidade. Como seria esperável, na sua estrutura pululavam
componentes de aglomerado, fato que nos fornece um paradigma de avaliação bastante
objetivo: no estado da arte atual, a proliferação de componentes feitos de aglomerado
é sintoma gritante de baixa qualidade.
* Por causa de determinados pianistas não aceitarem a
sonoridade empobrecida dos pianos novos, uma vez que as suas entranhas desconhecem
as antigas castas de madeiras nobres, o mercado de pianos usados continua a florescer
e a praticar preços absurdos até por pianos cuja capacidade de produzir som
decente já se extinguiu devido ao término da vida útil das suas partes acústicas.
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