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22 de jun. de 2011

Diário de um Torturador de Bruxas da Idade Média.

Um dos aspectos mais violentos que engalfinhou sob o manto da injustiça a caça às bruxas, foi a crueldade indiscriminada destinada às mulheres suspeitas, desde os interrogatórios torturantes, aos exames públicos vexatórios e altamente dolorosos. Não raro, no decorrer do processo a acusada morria devido à severidade das técnicas. Para nós contemporâneos, surge uma pergunta estarrecedora: o que ocorria quando a vítima era declarada inocente? Que tipo de vida poderia retomar uma mulher depilada da cabeça aos pés, submetida às mais diversas sevícias (por vezes estuprada*) e tendo o corpo perfurado?
From Gallery of Nicolay Bessonovov
Tela de Bessonov Nicolay retrata uma sessão de interrogatório usando a técnica do Strappado.

Os especialistas agulhadores (witch prickers) encarregados do exame das acusadas de bruxaria procuravam principalmente por áreas do corpo marcadas por Satanás, notadamente, as que apresentavam insensibilidade à dor e não sangravam. Para tanto, eles perfuravam centímetro a centímetro o corpo das infelizes usando instrumentos dotados de longas agulhas. Claro, as “não bruxas” se contorciam de dor e sangravam abundantemente, o que aumentava o suplício daquelas que seriam declaradas inocentes ao final do exame.
From Wikipedia
Instrumentos de agulhamento (Pricking).

O texto a seguir é um excerto do diário do Agulhador Zebidiah Coventry. Na qualidade de sádico confesso e charlatão, ele ganhava dinheiro sob o pretexto de procurar “marcas do diabo” e “sinais de bruxaria” nos corpos nus das acusadas de bruxaria. Ele se gaba de ter levado mais de 200 mulheres à pena de morte em virtude das suas “comprovações”. A seguir, alguns fragmentos das suas visões.

28 de Outubro.
Hoje, recebi a incumbência do magistrado local para confirmar se uma jovem donzela é uma bruxa. Como acontece normalmente, saio vagando de lugarejo em lugarejo no encalço destas almas infelizes, para confirmar ou não as acusações que pesam sobre elas. O magistrado explicou-me que esta “bruxa” causou mal a alguns aldeões. Isto não me importa, já que o meu único intuito é encontrar os detalhes anatômicos de bruxaria e receber pelo meu trabalho. Logicamente, se não consigo encontrar as almejadas marcas, alego que o demônio removeu-as previamente no intuito de preservação do seu investimento diabólico. Afinal, 50 shillings seriam mais do que suficientes para que eu acusasse até a minha mãe.

Já agulhei mais de 230 acusadas de bruxaria. Nenhuma uma delas, julgo eu, era bruxa, mas apenas pobres e desafortunadas almas que despertaram ciúmes, inveja ou descontamento em membros da comunidade, familiares, parentes ou amigos. Desconfio que haverá um dia em que vou me deparar com uma bruxa verdadeira e este dia será escuro e triste. Neste dia, me recusarei a agulhar a bruxa e pedirei pela sua absolvição, e continuarei agulhando todas as outras, uma covardia que nunca será perdoada por Deus.

Suspeito que por trás destas acusações estejam a falta de meios de diversão nestes pequenos vilarejos. Penso que este povo necessitaria aliviar as tensões, coisa que os londrinos fazem indo ao teatro Globo (teatro construído por Shakespeare). Ahh, como gostei na Noite de Reis (peça de Shakespeare), tenho que voltar lá depois de terminar este trabalho vergonhosamente prazeroso.

29 de Outubro.
A acusada foi trazida à minha presença hoje. Que triste criatura! A sua aparência quase me fez desistir daquilo que seria obrigado a fazer com a menina. É uma garota muito bonita, em outras circunstâncias, eu a teria cortejado. Ordenei aos meus ajudantes designados que tirassem todas as suas roupas. O próximo passo foi depilar inteiramente o seu corpo, sem deixar sequer um só pelo. Então, ordenei que s enfermeiras depilassem os seu órgãos genitais completa e cuidadosamente, para não decepar quaisquer sinais ou marcas. Tenho que confessar que tive um imenso prazer em olhar enquanto a sua pele era depilada, ainda mais porque os meus 50 shillings estavam garantidos.

Amarrei os braços da acusada e suspendi uma das suas mãos acima do chão. Inspecionei o seu corpo à procura por algum sinal de bruxa, ou marca de Satã, a teta extra com que ela alimentaria as entidades que lhe eram familiares. Muitas vezes, nas áreas genitais se encontrava uma terceira teta. Logo, inspecionei esta área com especial atenção. Por cinco horas examinei o seu corpo, com meticuloso zelo usando as minhas agulhas. Sem hesitação, agulhei o seu corpo para expor a marca e a cada agulhada, ela emitia horríveis gritos de dor. As bruxas não sentem dor, pensei.
From Gallery of Nicolay Bessonov
Tela de Bessonov Nicolay retrata uma sessão de agulhamento.

Ela não renunciou a Deus nem confessou ser uma concubina de Satanás. Nenhuma confissão partiu dos seus lábios, não importando o quanto profundamente eu inseria a agulha dentro das suas carnes. Sei que eu não deveria ter prazer no meu trabalho, no entanto, como os que me rodeiam pensam que estou fazendo “o trabalho de Deus”, ter um pouco de prazer não é um mal negócio afinal. Assim, vou falando comigo mesmo enquanto continuo o meu trabalho diabólico.

Meu coração aperta, mas tenho consciência de que uma moedinha cai a cada agulhada na tenra pele. Quando maior agonia elas sentem, maior o meu prazer. Continuo a agulhar sistematicamente cada centímetro da sua carne, isto lembra a minha mãe quando costurava para o Suserano. Mamãe usava uma pequena almofada para guardar as suas agulhas, e é este papel desempenhado pelo corpo desta pobre garota: seu corpo está servindo de almofada para as minhas agulhas. É claro que a minha mãe não aprovaria o que estou fazendo, caso estivesse viva.

Ao final, não achei nada. E olha que não faltou determinação, pois enquanto desempenhei a minha tarefa, as enfermeiras inspecionavam o corpo conjuntamente com o magistrado. Logicamente, o coitado do magistrado não teria percebido as marcas de bruxa nem se elas tivessem adquirido pernas e chutado o seu traseiro. Logo, eu estava impossibilitado de referendar as acusações, sem ter achado algo palpável. Então, comuniquei ao Magistrado que eu e as ajudantes não encontramos quaisquer marcas naquele corpo e justifiquei que o próprio demônio poderia ter removido a sua marca, como uma precaução para preservar a sua possuída. A acusada começou a chorar e a protestar contra o fato de ter sido acusada injustamente.
Meu veredito havia sido proferido e a minha missão fora cumprida com toda a dedicação.

30 e Outubro.
Depois de realizada a tarefa, eu precisava receber os meus ganhos, que totalizavam 100 shillings. O Magistrado se recusou a pagar-me devido ao fato de que fui incapaz de achar nenhuma marca no corpo daquela pobre garota. Soube que, pelas costas, ele me acusou de ter sido relapso. NEMO ME IMPUNE LACESSIT (ninguém me ataca impunemente!). Na tentativa de infundir-lhe o terror da denúncia, informei-o que o meu superior iria entrar em contato com o seu superior para que resolvêssemos tal pendenga de maneira civilizada.

Como o Magistrado era deveras um homem culto, terminei a minha prediga com a esta máxima latina: IUCUNDA MACULA EST EX INIMICI SANGUINE (o sangue do inimigo não passa de uma mancha agradável aos olhos). Quando o Magistrado percebeu que eu não desistiria dos meus honorários, ordenou a um servo que me entregasse 150 shillings e uma garrafa com o seu vinho mais fino, para compensar os meus aborrecimentos. Dei-me por satisfeito com o pagamento, mesmo depois dele ter feito de tudo para manchar o meu nome. Informei ao servo que o pagamento estava quitado e mandei os meus cumprimentos ao seu Mestre. Penso que agora é hora de retornar a Lodres e usufruir a companhia de um jovem rapaz, claro, pagando uma ninharia.

Parte do texto referente ao diário traduzido de: Diary of a Witch Pricker.

*Quando uma linda mulher despertava o desejo sexual nos seus algozes, dizia-se que o próprio Satanás, inquilino daquele corpo, induzira-os a tal ato, o que de certa forma os absolvia do pecado.

19 comentários:

  1. Meu Deus! Isaías, por que vc não vai colocando mais desses excertos?

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  2. Dentro de textos tão legais conhecidos deste blog, apareceu esta triste e infeliz redação.

    Ao contrário de Luciana, recomendo não continuar, maldade já basta!!! eu quero é Paz!!! quero ler sobre homens que contribuíram para o mundo, não sobre estas escórias

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  3. Luciana e anônimo,
    nunca é demais estudar a história, estudar e relembrar para não repetir os mesmos erros. Quem não conhece a história, se torna escravo do destino.

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  4. Eu acho que vc deveria postar mais sobre isso...é bem interessante saber como eram as coisas no passado(mesmo sendo tão cruel) !

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  5. Boa noite! Interessante o texto, cruel, porém, verdadeiro!
    Existe um erro na tradução no final você traduz que ele precisa de uma jovem mulher, mas no texto original ele anseia por um jovem rapaz!

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  6. Plock, não havia erro de tradução, na hora eu LI "young lady" - não podia acreditar que esta besta monstruosa era gay - mas é o que está escrito e já foi corrigido.

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  7. O comentário do Isaias parece preconceituoso, quando diz que "não podia acreditar que esta besta monstruosa era gay". Porque? Só heterossexuais podem ter atitude monstruosas? Os gays são todos boas pessoas? Seu comentário parece heterofóbico.

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  8. Pois é... ainda bem que os heterofóbicos ainda não estão sendo caçados e arrebentados.

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  9. Porque será que não me ensinaram isso nas aulas de historia? Humm, psicopatas a serviço do governo e da igreja católica.

    Parabéns pela iniciativa, valeu a pena parar por alguns minutos no seu blog.

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  10. O "Melleus Maleficarum" deveria ser reescrito pra uma caçada aos gays...Antes que comecem a caçar os heterosexuais. Belo post, parabéns

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  11. Não ensinam isto nas aulas de história porque os conteúdos escolares foram feitos para serem chatos e inúteis e olha que esta disciplina tem tudo para ser a mais interessante de todas.

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  12. A realidade daquela época era muito triste.

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  13. Talvez isso tenha acontecido realmente dessa maneira, naquela época, mas esse não me parece um texto escrito por uma pessoa daquela época... Nem a versão em português, nem a em inglês.

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    1. Concordo 100%! Para mim é só mais daqueles textos escritos para falsificar a historia, pratica muito comum, falsificadores de fatos historicos, motivados por fanatismo politico, fama, dinheiro ou o simples prazer de fazer uma brincadeira que acaba sendo levada muito a serio. Cuidado a parte com textos assim, eles além de expressarem uma inverdade, confundem, e costumam levar a um fanatismo perigoso. Mas no caso deste texto ele apenas ilustra uma realidade, mas no fim deixa uma mensagem homofobica...

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  14. "Penso que agora é hora de retornar a Londres e usufruir a companhia de um jovem rapaz, claro, pagando uma ninharia."
    Só podia ser GAY mesmo, pra cometer tamanhas ATROCIDADES contra uma mulher! Pq homem que é H-O-M-E-M COM H MAIÚSCULO não maltrata mulher nenhuma!

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  15. Nunca um gay me fez mal até hoje, Anônimo. Somente "homens" com h "minúsculo" ("h", para não dizer outra coisa).

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