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8 de jul. de 2011

Cérebro de Pipoca, efeito colateral devastador do vício do século.

Quando Hilarie Cash chega em casa, ela tem duas opções: cuidar do jardim, ou futricar no notebook. Os lilazes precisam realmente de um trato e o computador pode esperar, já que o expediente acabou. Não obstante, Cash se sente atraída pelo computador como se fosse um imã puxando-a. Talvez tenha um e-mail urgente, ou um tweet engraçado, ou novas imagens postadas no Facebook. Acho extremamente difícil me desconectar diz ela, "é muito difícil dizer a mim mesma, não faça isto e vá ao jardim".

Será que o dilema entre cuidar do jardim e permanecer online é importante? Os especialistas afirmam que sim. O problema é que o novo estilo de vida online está criando um fenômeno, denominado pelo pesquisador David Levy de "cérebro de pipoca" – um cérebro tão habituado aos constantes estímulos provenientes das conexões eletrônicas, que quando se desconecta das relações virtuais, não se acostuma mais com as coisas incrivelmente lentas dos contatos presenciais.

Pequena amostra do que o Admirável Mundo Novo nos reserva. 

Prefere o celular a conviver com o filho.
O professor Levy da Universidade de Washington narra uma história que se tornou famosa numa empresa de alta tecnologia. Depois do almoço, um funcionário contou que na noite anterior a sua mulher pedira-lhe para dar banho no filho. Ao invés de aproveitar o tempo para conviver com a criança, ele ficou distraidamente futricando o seu smartphone, mandando mensagens e respondendo e-mails, o seja, seu trabalho do dia já havia terminado, mas o impulso de teclar no telefone era mais irresistível do que aproveitar os momentos lúdicos proporcionados pelo contato com o filho.

A coisa é realmente onipresente, declara um conselheiro que trata pessoas viciadas em gadgets. Não conseguimos mais simplesmente sentar em silêncio e esperar um ônibus e isto é muito ruim, pois o nosso cérebro precisa de tempo para descansar e poder assimilar as informações. O psicólogo Clifford Nass da Universidade de Stanford alerta para os resultados de pesquisas que mostram como o ambiente de multitarefa da internet prejudica a capacidade do ser humano de reconhecimento das emoções. Quando algumas fotos de rostos foram exibidas a usuários pesados de internet, eles levaram muito tempo para identificar as emoções expressadas. Quando histórias foram lidas a estes mesmos usuários, eles tiveram grandes dificuldades em distinguir as emoções dos personagens, ou seja, a interação humana é uma faculdade aprendida, que se não é praticada, aos poucos se perde.

Os efeitos da tecnologia sobre o cérebro.
O cérebro humano se vicia na gratificação instantânea, ritmo acelerado e imprevisibilidade proporcionados pela tecnologia: nunca sei quando chegará o próximo tweet, ou quem me enviará um e-mail. O que encontrarei no próximo clique do mouse? Quem estará esperando por mim no instant messenger? Contudo, sei exatamente o que me espera no jardim.

A Dr. Nora Volkow, diretora do Instituto Nacional de Abusos de Drogas, admite que tenta de todas as maneiras resistir à tentação de dar uma espiadinha no seu BlackBerry: no meu tempo livre, consulto-o mesmo que não precise. Enquanto caminho com o meu marido, não consigo combater o impulso de checar os e-mails, claro, mesmo me sentido culpada, acabo fazendo-o.

Ela própria, na sua condição de especialista em drogas, explica que a constante estimulação mental pode ativar as células produtoras de dopamina (hormônio neurotransmissor) no nucleus accubens, o principal centro de prazer da estrutura cerebral.
Ao longo do tempo de uso intensivo de internet, a estrutura do nosso cérebro muda em virtude da sua capacidade plástica, de acordo com um estudo recente. Pesquisadores chineses fizeram ressonância magnética nos cérebros de 18 estudantes que ficavam no mínimo 10 horas online por dia. Surpreendentemente, ao serem comparados com um grupo de controle, que dispendim menos de 2 horas/dia online, os estudantes viciados apresentaram menor volume massa cinzenta, que é a área cerebral onde acontecem os pensamentos.
Microstructure Abnormalities in Adolescents with Internet Addiction Disorder. 

Como frear o efeito cerebral da pipoca?
É preciso alternar o estilo de vida movimentado proporcionado pelas infovias da internet com o ritmo extremamente mais lento e previsível característico do mundo real. Se você é uma das pessoas que não consegue se desgrudar nunca do seu aparelhinho, aqui vão algumas dicas:

1- Registre quanto tempo fica online.
Mantenha um controle do tempo em que você fica online. Ao fazer isto, se torna possível estabelecer uma linha divisória entre os dois mundos e preparar-se para o próximo passo.

2- Limite o tempo de internet.
Imponha-se um tempo específico – digamos 2 horas – para responder e-mails, Facebook, Google+, chegar SMS, etc. Depois de tudo, chega o tempo de desligar o computador e, principalmente, o telefone. Veja, isto é muito importante, pois se você se propuser a desempenhar uma tarefa no mundo real e levar consigo um penduricalho do virtual, pode cair facilmente na tentação das espiadinhas, o que anulará todos os esforços.

3- Olhe pela janela.
Disponha ocasinalmente de uns dois minutos para ficar simplesmente olhando pela janela. O professor Levy explica que isto ajuda o seu cérebro a desacelerar.

4- Estabeleça intervalos de tempo livre.
Principalmente para quem tem o tique de ficar a todo o momento olhando o celular, estabeleça um período em que você NÃO checará as suas mensagens, digamos de 6 às 9 horas da noite. O professor Leahy, diretor do Instituto Americano de Terapia Cognitiva, recomenda que você se dê uma recompensa por cada hora de sucesso: “diga a si mesmo que você está lutado por uma vida melhor”.

5- Telefone de verdade para um amigo de carne e osso.
Ao invés de mandar mensagens de texto, opte pela coisa mais lenta, tal como convidar um amigo, ou amiga para dar um passeio e aproveite para desligar o celular durante o percurso.

6- Descubra se você é viciado conectivo.
Ao tentar aplicar as diretrizes aqui listadas, você terá a noção da sua dependência. Se, durante o tempo desconectado você sentir tonturas, pânico, vertigens, formigamentos, dor de cabeça, insegurança, suor frio, sensação de vazio, medo de que alguém possa estar chamando, ou que não possa ser localizado, então é melhor procurar ajuda porque a sua qualidade de vida já foi pelo ralo abaixo.

Traduzido e adaptado por Isaias Malta de: [CNN] Does life online give you 'popcorn brain'? 
Outro texto sobre o mesmo assunto: [Catraca Livre] Cérebro de Pipoca.

3 comentários:

  1. Hã... linha divisória entre os dois mundos? Existem quantos? Mundo da internet, mundo da televisão, mundo do telefone...? afe!

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  2. Existem dois mundos, o da Matrix e o real.

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  3. Dois mundos, Miley Cyrus e Hannah Montana.

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