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30 de abr. de 2012

Quando o piano soa pior do que o cravo


No princípio era o cravo e depois veio o pianoforte do italiano Bartolomeu Cristofori, que acreditava-se no apogeu do romantismo, acabaria com o canto da antiga musa. De fato, a decadência e praticamente extinção do cravo se estendeu até o nascer das luzes do século XX.

Com a ressurreição do cravo perpetrada pelo gênio rebelde da cravista polonesa Wanda Landowska, hoje sabemos que não podemos prescindir desse antigo instrumento e seu delicado timbre metálico, assim como não podemos abrir mão da ressonância monumental do piano moderno.

Como a minha educação musical já superou a esfera das coleções dos mestres da música, me dou ao luxo de colecionar diversas versões das mesmas obras (e por que não?), interpretadas com instrumentos de tecla de épocas diferentes.

O fato de ter aprendido a “ouvir” o cravo concedeu-me o poder de aproveitar o melhor de cada mundo. Para ilustrar a questão, nada melhor do que o exemplo notável do Concerto em Ré Maior número 9, Opus III, para Violino de Antonio Vivaldi (RV 230), tocado aqui na sua forma original pela célebre orquestra Europa Galante sob a regência e solo de violino de Fabio Biondi.
Mais especificamente, dos três movimentos, Allegro, Larghetto, Allegro, vou me ater apenas ao Larghetto devido à sua potencialidade expressiva.

Ora, o Grande Johann Sebastian Bach transcreveu o concerto RV 230 para instrumento de tecla, que podemos ouvir aqui sob a interpretação do cravista Hans Ludwig Hirsch, aliás, uma bela intepretação que explora com maestria a textura delicada conferida pelo teclado superior desse belo instrumento.

O que acontece quando um instrumento percutido como o piano moderno é tocado à moda do cravo, sem a exploração da essência pianística, que é a extensão dinâmica entre o pianíssimo e o fortíssimo? Neste caso, o piano se aproxima do cravo, mas a um custo enorme, já que a qualidade ressonante joga contra.

A interpretação “quadrada” utilizada pelo pianista Cory Hall no Larghetto, tocada dessa maneira com fim didático, serve perfeitamente para demonstrar o quanto um Steinway pode soar ruim se tocado à maneira do cravo, sem a exploração da sua amplitude dinâmica.

Nessa apresentação ao vivo do regente e pianista ucraniano Boris Bloch, assistimos o pleno uso dos recursos expressivos do piano moderno, que mesmo aplicados a uma peça barroca – período tido pelos puristas como refratário a arroubos românticos, não se pode simplesmente abstrair os recursos que constituem a excelência do piano.

A resultante dessa carga expressiva é o enlevo transcendental do pianista, fato que nos evoca a indagação do quanto Bach teria repensado a sua obra se tivesse tido acesso aos impressionantes recursos tonais do moderno piano de concerto.

Um comentário:

  1. Não acredito não! Lá vem você com negócio de piano de novo!
    Cara você tem problema sérios! Vá se tratar!

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