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31 de out. de 2012

Reclamações sobre os mecanismos de pianos feitos de compostos sintéticos

por Isaias Malta
A tentativa de trocar a madeira por materiais compostos em pianos não é de hoje, pois a coisa começou mais intensamente na década de 40 nos pequenos pianos do tipo espineta. E a novidade não foi muito longe porque o PVC empregado não resistia durante muitos anos e se tornava quebradiço. Hoje são encontrados por aí pianos nacionais com mecânica de PVC, naturalmente imprestáveis. Já o uso de plástico em substituição ao marfim na forração das teclas se tornou imperativo devido à proibição da caça ao elefante depois do fim da 2ª guerra mundial.

A introdução da resina ABS (Acrilonitrila butadieno estireno) e compostos sintéticos mesclados com carbono mudou completamente o cenário de descrédito em relação à durabilidade. Inclusive há uma onda de ufanismo sobre o uso de tais materiais em substituição à madeira, cujas irregularidades e comportamento errático são perfeitamente conhecidos. No entanto, apesar da Kawai ter começado a usar compostos sintéticos nas suas mecânicas há 40 anos, até hoje persistem as discussões sobre o assunto e o fato é que a tradição da madeira tem reinado soberana, pois a maioria dos fabricantes permanece fiel à obra prima tradicional. Isso por causa de prováveis deficiências no funcionamento, ou será por imposição do mercado?

Agora, em meio às vozes que fazem juras de amor aos plásticos modernos, ouçamos algumas vozes dissonantes que falam de questões bastante pontuais e caras aos pianistas, que são os verdadeiros interessados nessa guerra entre o seguimento da tradição e a abertura de espaço para a introdução de novos materiais.

O problema da rigidez dos pinos dos martelos
O vídeo acima demonstra como a extrema variabilidade na flexibilidade das madeiras pode minar o equilíbrio na produção da nota de tecla para tecla. Ora, o oposto também é um problema. A rigidez dos tubos de carbono usados como pinos dos martelos dos mecanismos fabricados pela Wessell, Nickel and Gross” (uma subsidiária da fábrica de pianos norte americana Mason and Hamlin), pode tornar o som muito "seco", fato que restringe a capacidade expressiva dos pianistas. Será que este motivo fez com que a Kawai tivesse permanecido fiel aos pinos de martelos de madeira? A primeira foto da página ilustra uma mecânica Kawai, enquanto a foto abaixo mostra um mecanismo WNG (Wessell, Nickel and Gross).
Segundo palavras do projetista de pianos Del Fandrich "o peso dos pinos de martelos produzidos pela WNG é quase idêntico aos tradicionais pinos de madeira fabricados pela Renner, porém eles são significativamente mais rígidos, tanto no sentido longitudinal, quanto no rotacional".

O problema da rigidez total da mecânica
Se a questão estrita da rigidez dos pinos dos martelos pode ser um problema, pode-se cogitar o quanto a rigidez total das partes de plástico altera o toque ao pianista, desejoso antes de tudo de ter um teclado altamente responsivo, mas que não vê com maus olhos uma pitada de resistência. A madeira, com certeza, dá esse componente orgânico em alto grau, apesar da sua irregularidade e de ser vulnerável às variações de umidade.

Não transmite as vibrações aos dedos
Um depoimento intrigante dado por esse pianista lança luz sobre uma das maiores vantagens do instrumento acústico sobre os seus congêneres digitais: a capacidade que os primeiros têm de transmitir as vibrações via teclado aos dedos, coisa que os teclados eletrônicos não transmitem absolutamente. Pois bem, o pianista relata que notou tal deficiência quando experimentou um piano Mason and Hamlin equipado com mecanismo de plástico. Ora, sabemos que a madeira de fibras longas é uma ótima condutora de som, por isso ela é usada em praticamente em todos os instrumentos musicais acústicos. O que pode garantir essa mesma capacidade condutora nas resinas de plástico?

Problema na cola
Especificamente quanto aos mecanismos WNG, que usam martelos de madeira colados a pinos de carbono, uma escola de música de Ontário (Canadá) documentou um acontecimento estranhamente desolador. Eles compraram um Mason and Hamlin orquestral CC 9'4" em 2009. Depois de afinado, regulado e entonado, ele ficou sem uso até 2012. Quando foram usá-lo, eis a amarga surpresa: todos os martelos estavam incrivelmente desalinhados. Ora, sabemos que pianos com mecânica de madeira chegam a permanecer décadas parados num canto sem que os "fantasmas brincalhões" consigam transformar os martelos num lixo puro.

Ruídos
Este usuário relata os barulhos que tem experimentado no seu Mason and Hamlin modelo AA recém comprado. O ruído, que ocorre quando o martelo percute a nota, é mais pronunciável na zona dos agudos, diminui nos médios e quase não é notado nos graves. Ele comparou com outro modelo semelhante dotado de mecânica de madeira e não constatou os ruídos. A explicação pode ficar por conta do item "O problema da rigidez dos pinos dos martelos" visto acima.

Mecanismo leve demais
Uma medição do peso exercido pelo bascul sintético sobre a tecla revela que ele é 2,5 gramas mais leve do que o equivalente de madeira. Se por um lado há a vantagem dessa leveza significar a diminuição do uso de chumbo como contrapeso da tecla (por ser um material altamente tóxico), por outro, o pianista pode se sentir desconfortável com um toque demasiadamente macio - fato que remete aos famigerados teclados eletrônicos.

Maiores informações sobre o uso de novos materiais em pianos:

Um comentário:

  1. Realmente será muito difícil entrar nesse mundo místico e cheio de tabus no campo pianístico e dos instrumentos acústicos. Mas, é claro que lentamente uma coisa vai substituindo outra como no início, apesar da resistência de muitos conservadores, porque a evolução, felizmente, não para. Umas coisas darão certo e outras não, mas, com certeza, será sempre para melhor e, a flora agradece...

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