O fato é que sua vida foi marcada por uma misteriosa doença que surgiu em 1841, cinco anos após seu retorno à Inglaterra.
“Darwin começou a manifestar sintomas cardíacos e gastrointestinais que pioraram até mantê-lo praticamente recluso em sua residência rural (Down House) no condado de Kent. Em cartas a amigos ele frequentemente queixava-se de palpitações e lassidão, acompanhadas por tremores, vômitos, às vezes diários, e flatulência. Ele consultou os maiores médicos da Inglaterra na época, sem que qualquer diagnóstico fosse estabelecido. Darwin faleceu aos 73 anos de idade com insuficiência cardíaca.(1)”
Segundo Sergio Danilo Pena, uma hipótese proposta pelo parasitologista Saul Adler sugere que Darwin contraiu a doença de Chagas. Sua hipótese foi baseada em dois pontos principais: houve uma oportunidade clara de infecção pelo Trypanosoma cruzi em Luján em 1835 e os sintomas apresentados por Darwin eram compatíveis com a doença de Chagas, que pode acometer tanto o coração quanto o sistema digestório. Porém, entre os elementos contrários à hipótese está o fato de Darwin ter tido apenas um contato bem documentado com barbeiros, enquanto há evidências de que vários contatos são necessários para que uma pessoa seja infectada.
Por outro lado, há a possibilidade de Darwin ter sido vítima de envenenamento crônico por arsênico. Nos anos que se seguiram à sua viagem no Beagle ele apresentou eczemas, dores de cabeça, gota e náusea que são sintomas de envenenamento por arsênico. O vilão do envenenamento pode ter sido um tônico amplamente utilizado no século XIX, a solução de Fowlers, que continha 10 mg de arsenito por mL (2).
O arsenito inibe enzimas do Ciclo de Krebs(3), que é considerado o centro do metabolismo celular por ser a via responsável pela oxidação de carboidratos, ácidos graxos e aminoácidos.
Porém, por ser mais tóxico para os microorganismos do que para os seres humanos os compostos arseniais foram usados no início do século XX para o combate da sífilis e tripanossomíase, sendo os primeiros antibióticos, apesar de seus efeitos colaterais(4).
Unindo as duas pontas, Darwin pode ter usado a “Solução de Fowlers” para tratar alguma doença que acreditava ter contraído durante sua viagem de cinco anos ao redor do Mundo a bordo do Beagle. De qualquer forma ele viveu bastante para época (73 anos), mas sua revolucionária Teoria de Evolução sempre lhe acarretou severas críticas dos criacionistas.
Dadas as circunstâncias, aliando-se as constantes críticas à sua debilitada saúde e possível envenenamento crônico, dá para compreender seu olhar tão triste.
Por: Gladis Franck da Cunha
Notas:
1- Este texto foi extraído da Coluna: DERIVA GENÉTICA, escrita por Sergio Danilo Pena na Revista Ciência Hoje On-line em 09/01/2009.
2- Mais informações sobre envenenamento por arsênico podem ser obtidos em VOET, Donald et al. Fundamentos de Bioquímica. Porto Alegre, ARTMED, 2000, p.475.
3- Enzimas do ciclo de Krebs que são inativas pelo arsenito são: piruvato-desidrogenase e alfa-cetoglutarato-desidrogenase.
4- A Sífilis é uma doença bacteriana e a Tripanossomíase é uma doença parasitária, lembrando que a Doença de Chagas é um tipo de tripanossomíase causada pelo Trypanosoma cruzi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário