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27 de out. de 2009

Nove e Meia Semanas de Amor: dublês de corpo e escândalos.

Existe uma formula ideal para o filme perfeito? Pega-se uma loira dotada de Sex Appeal e um ator posudo, enfia-se-lhes num apartamento com geladeira, alimentos gosmentos, calda de chocolate, sementes comestíveis espalhadas por todos os lados, agita-se tudo e... o resultado é mais um enlatado típico de Hollywood, considerado erótico aos olhos pré-Internet dos espectadores de 1986.
Estamos falando do filme 9 ½ semanas, traduzido pelo distribuidor nacional do original “Nine ½ Weeks” para a explicitude de “Nove e Meia Semanas de Amor”, talvez temendo a incapacidade braziliana de perceber a referência ao sugestivo número 69.

No ano do seu lançamento, o filme foi considerado um pornô soft pelo grande impacto produzido nas plateias da época. Você que está lendo estas linhas e tinha idade suficiente há 23 anos atrás para ver filmes do tipo “proibido para menores de 18 anos”, deve ter se deleitado com as cenas tórridas de sexo que permeiam o roteiro.

Mas, há um detalhe particularmente embaraçoso para os homens: supostamente o corpão das cenas mais calientes não era da Kim Bassinger... e sim de um homem. Talvez isso não passe de boato, pois a Kim tinha já tinha a sua dublê de corpo.
Shelley Michelle, dublê de corpo de Kim Bassinger [CityRag].
A maior fascínio do 9 ½ esteve mais nas brigas de bastidores e nos mistérios, do que no produto final. Não se sabe com certeza quem dublou a Kim Bassinger, porque quem atua neste negócio raramente vê seu nome nos créditos do final. Isto faz parte da enganação do cinema, que induz você a se apaixonar por uma linda mulher, até descobrir que “ela” nem ao menos é do sexo que você supunha.

Mesmo escalando atores de fácil erotização; Mickey Rourke– acredite, naquele tempo ainda não tinha virado monstro - e Kim Bassinger, o diretor Adrian Lyne põe a perder a sua trama por se deixar seduzir pela trivialidade da linguagem publicitária, do colorido fugaz e dos planos rápidos dos comerciais de TV.
De fato, Lyne nunca conseguiu rodar um filme realmente denso. Além disto, a sua visão moralista sempre triunfa ao final das suas narrativas.

Similarmente à obra-prima “O último Tango em Paris” de 1972, do diretor Bernardo Bertolucci, Nove e meia semanas de amor busca problematizar a tensão erótica que se cria entre um homem e uma mulher isolados do mundo. O relacionamento se complica depois da espiral de comportamentos alucinados do parceiro, o que determina a fuga da mulher. Diferentemente do desfecho trágico dado por Bertolucci, Lyne fica muito longe da dimensão existencial alcançada pelo italiano. Lento e vazio, o 91/2 evelhece a olhos vistos em seus apelos eróticos, o que torna o filme infenso às platéias hodiernas, já entorpecidas pela vulgarização da obscenidade via Internet.

Referências:
Qual a receita para uma boa cena de amor no cinema? [Cinéfilos]
Resenha do filme [DVD Magazine].
Lançada a versão do diretor, sem os cortes feitos pelo estúdio [DVDPT].

Um comentário:

  1. O filme foi realizado era eu uma criança e o Último Tango em Paris ainda não era nascido mas já os vi.
    A minha análise é muito subjectiva tanto mais que as épocas são diferentes.
    Fiquei com a ideia que o 9 semanas 1/2 foi uma tentativa para chocar a moralidade com um certo cinismo,e penso que foi conseguido.
    Quanto ao último Tango em Paris o tema é mais social e até pode ser transposto para hoje, não é tão invulgar assim. Polémico na altura, óbviamente.
    Considero que Bertolucci foi um homem com muita sensibilidade e humanismo. Talvez um contestatário?
    Gostei imenso do filme O Último Imperador que não se enquadra nos temas anteriores mas que revela bem o seu interesse pelo social e o poltico, pos mostrou um conjunto de factos desconhecidos, pelo menos para mim.

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