A filosofia questiona o ser e o sujeito que pensa, e ao contrário senso ao esgotamento preconizado pelo senso comum, continua a contribuir num mundo dominado pela emergência das novas tecnologias. Assim, num esforço de adaptação aos novos tempos, mesmo que a filosofia não renuncie à sua excelência, deve lançar mão da imagética criada pela arte industrial.
Diante da clássica pergunta nas escolas sobre a utilidade da filosofia, no bojo da retomada do ensino obrigatório de filosofia nas escolas, o que um professor tem a responder? E mesmo que feita sob o viés de desdém contra a filosofia, a resposta deveria dar amparo ao pensador, pois este tipo de questionamento representa o primeiro passo do filosofar.
Assim, seres pensantes são condenados a filosofar, uma vez que, para argumentar contra o processo do pensamento, devem necessariamente se servir dele. E a reflexão filosófica pode ser aplicada a qualquer coisa, desde à cosmogênese tão cara aos antigos gregos, quanto à irrupção das Redes Sociais como ferramentas de produção de conhecimento. Porém, nem tudo é um mar de rosas, já que a Filosofia é essencialmente o manejo constante do senso crítico.
1) Internet: conexão mundial entre computadores inventada para destruir o passado.
A grande crítica contra a Internet é a obsolescência das informações aqui armazenadas. Tal efemeridade representa a principal fraqueza das novas tecnologias diante da antiga forma de guardar conhecimento.
Prós: permitiu a maior experiência de democratização já registrada na história da humanidade.
Contras: um papiro de 4 mil anos do antigo Egito tem mais chance de chegar à posteridade do que este texto, sujeito às chuvas e trovoadas da falta de durabilidade do armazenamento digital.
2) Yahoo: se converteu no Exterminador do passado quando liquidou o Geocities.
A maior reedição nos nossos dias da queima da Biblioteca de Alexandria foi o fechamento do Geocities, a deleção completa e sumária do maior repositório de conteúdos digitais disponibilizados desde a fundação da Internet.
Prós: não há vantagem alguma no apagamento de todo o legado da WEB 1.0.
Contras: todos os buscadores tem a tendência de soterrar informações antigas para regiões cada vez mais remotas das suas páginas de resultados.
3) Buscadores: estenderam o conceito de Lan House ao planeta inteiro.
Quem acompanhou a Internet desde os primórdios, recorda da era pré-buscadores a necessidade de comprar catálogos de sites nas livrarias. Depois do surgimento do Yahoo e Altavista e mais tarde do Google, a própria Internet passou a indexar a Internet.
Prós: você teoricamente tem, ao alcance de poucos cliques, acesso à qualquer conteúdo, que no antigo regime analógico levaria meses e anos.
Contras: nada garante que você reencontre as mesmas informação dias depois. Assim, conclui-se que a Internet não só trouxe uma agilidade impressionante, como também a absolutização da instabilidade.
4) MSN: inventou o videofone.
A comunicação instantânea foi o primeiro grande baque no conceito de sucessão temporal tão caro à era analógica... e o golpe definitivo foi dado pelo Twitter.
Prós: pessoas e empresas nunca tiveram tanto potencial de comunicação, exceto o contato presencial.
Contras: as pessoas descobrem que não tem contato real com amigos há anos, diante da virtualização das relações afetivas.
5) Twitter: virtualização da metáfora “um passarinho me falou”.
A caçula das redes sociais materializa o que há de mais efêmero na rede. Os piados de 140 caracteres do Twitter são a mais pura expressão do eterno presente, desvinculado de passado e futuro.
Prós: o seu mundo pode se reduzir a 140 caracteres.
Contras: será que um mundo pode ser reduzido a 140 caracteres? O Twitter é a grande metáfora sobre a absolutização da superficialidade no mundo moderno.
6) Matrix: “o que não está no Google, não existe”, bem-vindo ao novo deserto do real.
O “Ser ou não ser” de William Shakespeare e o “Penso, logo existo” de René Descartes atingem outro patamar de validade: o que não está na rede corre o risco de ter a sua inexistência decretada.
Prós: os trabalhos escolares nunca estiveram tão ricos e bem ilustrados, graças aos infinitos recursos da Internet.
Contras: estes mesmos trabalhos nunca estiveram tão tristemente pasteurizados, porque as fontes invariavelmente são as mesmas. Infelizmente ou felizmente, existe uma infinidade de coisas fora da Internet que merecem ser pesquisadas.
7) Orkut: virtualização da igreja católica – todo mundo confessa que tem, mas poucos praticam.
Enquanto em algumas Redes Sociais antigas você só entrou porque todo mundo entrou...
Prós: na qualidade de primeira Rede Social a fazer grande sucesso no Brasil, todo mundo tem.
Contras: o que mais se ouve é gente dizendo que raramente visita o seu Orkut.
8) Facebook: "eu não entendi o que ele falou".
...em outras, você entra por insistência dos amigos, que não obstante, jamais te mandam uma linha.
Prós: é bacana interagir em Redes Sociais.
Contras: é frustrante ter conta em 200 Redes Sociais e não interagir em nenhuma. Minha esposa foi compelida a abrir uma conta no Facebook, mas até hoje ela entendeu bulhufas daquela interface norteamericanística, portanto, é mais uma alma fantasma perambulando pelas Redes Sociais.
9) Comunicação móvel: derreteu o conceito da não disponibilidade.
Não estar acessível, ou não ser encontrado esteve no horizonte das possibilidades até a década de 90, hoje isto é um percado mortal.
Portanto, atualmente quem não tem um celular com câmera, com certeza é um alienígena.
Prós: garantidamente, ninguém mais perde compromissos importantes, ou triviais.
Contras: o espaço privativo em que as pessoas comiam, transavam, defecavam, descansavam, dormiam, etc., foi totalmente devassado pela telefonia móvel. Até quando as pessoas aguentam estar disponíveis 24 por dia, ao longo dos 7 dias da semana?
10) Nuvem: nossos conteúdos entregues em confiança à efemeridade dos servidores mundiais.
Você já imaginou um cenário em que entra em qualquer computador e acessa instantaneamente seus emails, fotos, textos, planilhas, músicas, vídeos, enfim, toda a sua existência virtual disponível em qualquer aparelho conectado à Internet no mundo? Nessa ideia já foram queimados bilhões de dólares, e até hoje não há um único caso de ex-viciado em nuvem.
Prós: você não precisa mais do SEU computador para acessar suas informações preciosas.
Contras: a menos que você tenha um Backup como todos os seus dados (rsrsrs), a queda de um dos servidores da nuvem pode apagar instantaneamente todos os vestígios da sua existência digital.
A essência das redes sociais é o coletivo. Ârde, óbvio. Tá, mas mesmo que formemos grupos para nos ligarmos em assuntos e discussões comuns, poderíamos nos dedicar a este ou qualquer assunto sem a preocupação de ter exterminado o conteúdo, porque sabemos que a beleza da busca pelo conhecimento, razão, conceitos, etc, está em si mesma, na própria busca... porém, se isto servir como nova fonte de estudos posteriores, sim, precisamos de um backup urgente! No entanto, a base da discussão que estou ilustrando é adquirida em...? Blogpaedia, por exemplo ;-) Daí penso que as informações, que estão fadadas à obsolência, precisam mesmo estar nas nuvens sim, mas o risco que a falta da forma fisica para armazenamento deste (imenso) conhecimento, que você nos mostra, talvez precise ser pensado. Mas quem está preocupado com isso? Quem estava preocupado com isso no Geocities? Você tem backup do seu conteúdo? É #tenso pensar nisso globalmente, mundialmente.
ResponderExcluirGosto dos teus artigos, dos conteúdos, da forma como você divide o que sabe, muito. Confesso que desde que estou por aqui (internet) poderia ter me dedicado mais, e discutir mais sobre o que eu realmente gosto. No entanto os 140 caracteres, outras redes, ou mesmo meu blog, não tem sido para mim bons instrumentos de discussão. Pelo contrário, basicamente tenho usado a internet mais como um "inemuri" digital rsrrss
Mas vamos em frente. Se tem tem um cara que consegue despertar e estimular o usuário és tu, meu caro.
1 abraço Isaias,
Robertoke,
ResponderExcluirInteressantíssimas considerações, reflexões e adendos ao meu(agora nosso) pensamento.
Sim, tenho um Backup superparrudo de 800 Gb, sincronizado semanalmente, ou bimensalmente.
Se os meus escritos estão desafiando, então um dos meus hobbies, a filosofia, terá valido a pena.
Pelo amor de DEUS! Dizer que o Facebook é mais uma alma fantasma perambulando pelas redes sociais é triste. Dá uma pesquisada ae cara, sério.
ResponderExcluirO anonimo aí de cima decididamente não sabe ler. Sabe juntar B+A= BA, mas não consegue ler.
ResponderExcluirVou tentar não usar palavras difíceis, mas o texto diz que "a esposa é mais uma alma fantasma perambulando pelas redes sociais", porque ela não entendeu a "interface americanistica do Facebook".
Copiou?
Boa anônimo2! O anônimo1 cometeu realmente um erro de interpretação.
ResponderExcluirSou suspeito na análise pois gosto muito de filosofia. A título de curiosidade adoro Bertrand Russel. Gostei bastante do post e salvo melhor opinião o considero um tratado de " Sofismo " que muito apreciei.
ResponderExcluirComo já escrevi anteriormente, o blog é uma maravilha.
ResponderExcluirIsaias, eu não conheço vc mas presto a minha homenagem pelo excelente trabalho.
Elogios são sempre bem vindos, mesmo assim, publico os dois lados da moeda, tanmbém quando vem pedras e pauladas.
ResponderExcluirBelo texto. O vídeo assenta como uma luva. A frase eterna " Só sei que nada sei ".
ResponderExcluirMestre é Mestre.
O cidadão digital pode tudo: criar falsidades, cometer crimes e aliciar criminosos, inventar factos e religiões, comprar e vender coisas e seres humanos; pode vigiar, copiar, mentir, devassar, arquivar, identificar.
ResponderExcluirPode ser jornalista, juiz, polícia, político, general, assassino, espião, mafioso, ladrão, traficante, burlão, proxeneta.
Pode ser o que quiser e quem quiser. Anonimamente. A sua liberdade e impunidade estão asseguradas.
Pode matar, pode recrutar, pode vingar-se.
Pode produzir o caos ou a ordem. E o que nos resta? O protesto e a indignação, que são geridos por uma indústria rentável, de que o jornalismo, o cinema, a literatura, as artes, a publicidade fazem parte.
Vivemos na era da indignação que esconde a ausência de controlo e, pela infinita réplica e repetição, gera a indiferença.
Num mundo virtual, nada mais virtual do que o dinheiro.
As ordens jurídicas ainda não estão na era digital. E, quando lá chegarem, tudo o que fizerem estará irremediavelmente obsoleto.
Nós continuamos sem querer perceber.
Mário,
ResponderExcluirNão concordo que o cidadão digital possa fazer tudo, revestido pelo manto do anonimato. Absolutamente ninguém consegue agir sem deixar rastros, uma verdadeira assinatura cibernética que denuncia a autoria dos crimes.
Na realidade, tudo que escrevemos e fazemos aqui gera consequências boas ou más.
Isaias;
ResponderExcluirNão questionando o seu comentário, fiquei bastante confuso.
Como é possível não eliminar as redes de pedofilia que grassam na rede?
Mário,
ResponderExcluirDefendo a tese de que todo o crime cibernético deixa rastros que acabam, cedo ou tarde, levando aos autores.
O grande problema da impunidade e o consequente grassamento das redes de pedofilia é a falta de entrosamento entre os países, que até hoje não unificaram seus esforços em nível global.
Sabe. . .
ResponderExcluirAcredito que tudo isso faz parte de uma evolução.
Mas nem tudo que evolui, é para melhor. Longe de mim fazer criticas destrutivas aos novos "modelos", só acho que o volume de informações e as duvidas sobre suas fontes são algo que me perturbam muito!
Quando vc fala de algo inexistir por não estar na internet é algo muito estranho, mas realmente possível.
Vou dar um exemplo mais claro: Quando eu conheci a alguns anos o RSS (Really Simple Syndication) achei que fosse a solução de todos os meus problemas. Instalei um leitor no meu notebook e outro no meu SmartFone, e busquei 3 feeds, tive de escolher entre trabalhar e ler as noticias que me chegavam, na sua maioria inúteis. A tecnologia é legal, mas conseguir montar um conteúdo passível de ser acompanhado, é realmente algo quase impossível. Ao contrario de assinar uma revista semanal, ou quinzenal, onde existe uma enorme equipe em busca de informações e se comprometem com a qualidade de seu conteúdo.
E o pior dos exemplos. Provavelmente as pessoas que participaram destes comentários nem irão ler o meu, e ainda pior, talvez nem mesmo eu voltarei aqui para verificar o que foi dito sobre meu comentário.
Este é um dos grandes problemas na atualidade a não finalização dos assuntos. Eles sempre permanecem em aberto...
é isso...
stagnaryo@terra.com.br
stagnaryo,
ResponderExcluirpor favor, volte aqui para ver o que foi dito sobre seu comentário! Você tem razão na questão da mudança de paradigmas. Na era da mídia antiga, era tudo organizadinho o posto na boca. Você consumia, eles faturavam e todos ficavam contentes.
Agora, a situação é mais caótica e, por isso mesmo, mais criativa. Hoje não preciso do Globo, ou Folha de São Paulo para me fazer ouvir, já que posso criar os meus próprios canais e a minha relevância é dada pelos meus interlocutores. É claro que dá mais trabalho interagir num universo plural, mas não tenho saudades do "jornalão".
Viu? Seu comentário foi lido e glosado. Quando a imprensa tradicional te dava voz e voto?
- Eu estava em concordância com o texto até ler o absurdo que você escreveu a respeito da rede social Facebook.
ResponderExcluirTenho 'perfil' no Orkut faz anos e um tanto de gente. No entanto, o Facebook mostrou-se bem mais útil, dinâmico - e divertido, tanto que não deleto a minha conta do Orkut apenas pelo grande network que ainda mantenho lá - e que em breve será (naturalmente) ultrapassado pelo da minha conta de FB.
Facebook: é uma rede que você moureja para entender, mas depois que a destrincha, descobre pessoas muito inteligentes, não miguxos, mas amigos de verdade.
ResponderExcluirO texto foi escrito na era pré-cognitiva do Facebook.