As mulheres (como sempre) cultivam dúvidas sobre a sua própria situação e os homens(*) costumam detonar todas as suas “ex” como meia-boca (evidentemente que isto inclui sub-repticiamente a atual). Assim, esta coisa de meia-boca existe realmente, ou é alguma falha na percepção de ambos os gêneros?
Primeiro, vamos a uma definição rasteira do que seja meia boca: é a condição de uma pessoa, situação ou coisa que não atende plenamente às expectativas, mas mesmo assim continua-se com ela por falta de algo melhor melhor para o momento.
Pelo fato de estarmos escravizados aos estereótipos padronizados pela mídia, é esperável que um indivíduo normal taxe as suas conquistas femininas de meia-boca, diante das deusas photoshopadas das revistas e das sereias plastificadas das novelas e do cinema.
Com efeito, consonante com a lógica da sociedade de consumo privilegiadora da competição, fatalmente homens meia-boca conquistam mulheres meia-boca e vice-versa. Neste contexto, o homem que quer conquistar uma mulher de parar o trânsito deve possuir um requisito mínimo para se tornar o macho procriador: dinheiro em quantidade suficiente para conquistar corpos (mas não coração). A mesma coisa pode ser dita para a mulher que sonha com um Príncipe Encantado, lindo de morrer e dono de saúde bancária invejável: lamento informar, mas tal objeto de consumo só existe em enredo de novela.
Voltando à frustração anímica masculina, vemos que a mulher meia-boca possível de ser encontrada na maioria do estrato da população, apesar de não ter o corpão violão de Juliana Paes e nem a cara de Megan Fox, é a única que reúne condições de se manter fiel e companheira até que a morte os separe. Talvez ela não dê para feia, nem para gorda, nem para esbelta, nem para a mulher dos sonhos, mas é aquela que não vai fugir da raia quando for chegada a hora do perrengue existencial antevisto no juramento: “permanecer juntos mesmo na dor, na tristeza e na doença”.
É claro, que quando nos debruçamos sobre a vida cotidiana, descobrimos que tudo nela é mais ou menos meia-boca: emprego quebra-galho, férias de piquenique no quintal por falta de dinheiro, cerveja morna, carro de quinta-mão, cachorro vira-lata, casa alugada, parceiro(a) que não cheira nem fede, em suma, expectativas de vida bem aquém daquele brilho todo vendido como a realidade das celebridades.
Então, quando o seu filho(a) adolescente meia-boca for te perguntar o que é meia-boca, responda-lhe que são os outros e que vocês são o suprassumo das pessoas especialíssimas. Ahhh... e não esqueça de repetir para a sua mulher que ela é excepcional diante das suas antigas “ex”, todas absolutamente meia-boca em comparação às qualidades dela. Só cuide para não passar da medida e cair na canastrice.
Uma última coisinha, será que as nossas fantasias poderão se materializar um dia, ou a realidade é sempre meia-boca? Talvez este pequeno detalhe na fratura do real explique a legião de drogados em busca da realização de sonhos impossíveis.
(*) O engraçado é que os homens jamais aceitam suspeitas sobre a sua condição de meia-boca, o que transparece que eles sejam os maiores cavaleiros do zodíaco. Ora, convenhamos que se por vezes eles até conseguem escapar da pecha de meia-boca, dificilmente conseguem se livrar do carimbo de meia-bomba, o que é pior.
Redundância. Qualquer detalhe já é pequeno.
ResponderExcluirCurioso, isso me fez pensar em algo: desejarmos uma realidade distinta da que temos e muitas vezes impossível é natural, isso nos traz a ambição, a vontade de crescer. O problema é quando isso passa a afetar a realidade, quando esse desejo extrapola os limites da consciência, fazendo com que a pessoa fique infeliz e frustrada por sua realidade não ser condizente àquela que tanto deseja, esquecendo que a realidade nunca será o que se imagina.
ResponderExcluirUnknown
ResponderExcluireis o dilema dos nossos dias: viver às custas da fantasia, ou cair na real! Temo que os jogos de loteria sejam um convite a mais ao delírio.
Está cientificamente provado que a zona do cérebro que faz funcionar o nosso sentido crítico bloqueia quando nos apaixonamos. É por isso que, quando voltamos a encontrar as nossas paixões antigas, percebemos que afinal elas não eram nada de especial.
ResponderExcluirElas sempre foram assim nós é que não víamos.
Agora, a situação complica-se quando o novo é irresistível, como evitar e ter disciplina para não arriscar o salto no desconhecido?
Não há sensação que se compare à adrenalina que é disparada por uma situação totalmente nova.
Talvez a mesma sensação de prazer quando visitamos uma cidade desconhecida e não temos a mínima ideia de como ela é.
Penso que é melhor não saber, porque podemos nos enganar e ir parar a uma rua errada e perigosa.
E depois...
Mario Ventura de Sá Não tem nada a ver com o assunto do post, mas..
ResponderExcluirOnde você viu que a paixão bloqueia o senso crítico? Eu pesquisei e não encontrei nada, poderia me passar um link de uma fonte confiável?
Obrigada.
http://hypescience.com/apaixonar-se-demora-menos-que-um-segundo/
ResponderExcluirÉ lógica a sua dúvida. Acredito que inicialmente parece não fazer sintido mas, tendo em conta as substâncias químicas que são libertadas, as suas acções bloqueiam o sentido crítico. Agora, para constatar terá que pesquisar uma a uma (substâncias) foi o que eu fiz e certamente vai chegar à mesma conclusão.
Disponha sempre,mais admiro as pessoas que têm a ânsia da aprendizagem. É por isso que eu digo com frequência que sou um eterno aprendiz. E sou mesmo.