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28 de set. de 2010

Confinamentos da guerra pelo espaço urbano.

Prédio ilhado na ChinaAs cidades se transformam em campos de guerra pelo espaço cada vez mais escasso. Pena que os perdedores percam os seus projetos de vida.

Será que um dos direitos fundamentais do homem contempla itens básicos, tais como sol, vento e vista? Com certeza, mas não nas grandes cidades, onde os cidadãos menores são eclipsados/esmagados pelas estruturas corporativas.

Este caso da China é emblemático: como um cidadão resolveu não ceder às pressões pela compra da sua propriedade, de repente se viu envolvido pelo vazio e desprovido de chão, além dos limites do seu pequeno quintal.
Prédio ilhado na China

Um caso semelhante, sem os mesmos contornos dramáticos, aconteceu aqui na cidade de Bento Gonçalves-RS, onde um pequeno e antigo prédio destinado à classe “A” (um apartamento por andar), subitamente se viu cercado de edifícios altos por todos os quatro pontos cardeais.
Prédio confinado detalhe
Prédio confinado vista geral

A placa de “vende-se” é extremamente patética, pois os interessados na compra certamente serão famílias empobrecidas, sem condições de pagar, além de uma parte ínfima do que o imóvel valia antigamente, quando um dia o edifício era banhado pelo sol e alcançado pelo vento.
Prédio confinado placa de vende-se

Como raiz do fenômeno da decadência que tomou conta de Detroit nos EUA e já começou a minar várias áreas de São Paulo, pode-se apontar o empobrecimento dos espaços congestionados e insalubres que se acentuam. O pequeno edifício verde da minha cidade abrigará sucessivas gerações de moradores cada vez mais despossuídos, até que sobrevenha o estancamento da manutenção. Será quando os últimos proprietários se retirarão para lugares mais propícios e legarão o seu antigo lar aos nômades urbanos, que se instalarão com as suas bebedeiras, seu lixo, suas fogueiras e seus incêndios.

Donde se conclui, que na ocupação desordenada do espaço urbano está a semente do fenômeno da desurbanização, que começa justamente quando todos os equipamentos urbanos de uma área estão no seu auge e prontos para o usufruto do contribuinte, que paga caro por cada um deles, e termina perdendo-os para a miséria itinerante.

Referências:
Land Wars in China.
As máquinas de guerra contra os aparelhos de captura.

3 comentários:

  1. Cara. Adorei o seu texto. Sério mesmo. Me lembrou até de algo que havia esquecido, um livrinho infantil que li nos meus tempos de alegria chamado "A Cidade Muda". Parabéns.

    E uma curiosidade. Isaias, você é português ou brasileiro?

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  2. ninnhodamente,
    brasileiro.

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  3. Um tema actual, concordo parcialmente com a conclusão.

    Observo sobre outro prisma, “ especulação imobiliária”.

    O Ordenamento Territorial é traduzido por “Leis” em Portugal existe a “ Lei dos Solos”.
    Não passam de um processo de boas intenções. Na prática, não são aplicadas.
    Altos valores se sobrepõem, a especulação desenfreada com uma valorização excessiva a que o poder instaurado se alheia.
    A minha mente suja, associa “ corrupção “.

    Os terrenos são facilmente valorizados por planos ou projectos públicos. Os proprietários que nada fizeram para esta valorização, apropriam-se destas mais-valias.
    As instituições financeiras, essas nem vale a pena dissertar, os resultados falam por si.

    Este fenómeno, se o é, vai continuar. Até quando, não sei.

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