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7 de nov. de 2010

Distrito 9, uma metáfora universal sobre os segregados.

Por que o cinema brasileiro nunca enveredou pela ficção científica? Porque nunca conseguimos extrapolar um capitão Nascimento para as galáxias. Quando, por acaso, quisermos fazer ficção científica seriamente, temos que abandonar o esquema hollywoodiano à la Star Wars e seguir resolutamente os caminhos trilhados pelo estreante diretor sul africano Neill Blomkamp. Yes, se temos favela, certamente podemos adaptar os alienígenas ao nosso imaginário Saci Pererê.

Talvez querendo atacar particularmente o maldito legado segregacionista deixado pelo antigo regime político do Apartheid  imperante na África do Sul até meados da década de 90, o diretor acertou sem querer na moleira dos mais diferentes tipos de segregação que acontecem no mundo contemporâneo.

Vi durante o filme desfilar diante dos meus olhos as imagens dos "alienígenas" (apelidados no filme pelos terráqueos de camarões) análogos aos que migram para os mais diferentes lugares em busca de melhores oportunidades de vida. São os nossos compatriotas que partem para a América em busca do "american way of life", são os habitantes das antigas colônicas francesas africanas que vão para a França tentar uma nova vida, são os turcos que migraram para a Alemanha para fazer o trabalho subalterno, etc.

Apesar de globalmente integrado pela via da economia, o planeta é uma grande aldeia fragmentada em milhares de guetos, sendo que os mais ricos são protegidos por muralhas, arame farpado e muros, tais como o muro da vergonha construído entre EUA e México e o muro que separa o ultra-miliardário Israel da miséria absoluta reinante na Cisjordânia. [Link]

Os alienígenas pobres e maltrapilhos confinados no Distrito 9, que representam um perigo para a Terra,mais por sua miséria e menos por suas potenciais tecnologias mortíferas, simbolizam milhões de criaturas vivendo em apartheids nas mais diferentes geografias, mais precisamente, nos países que fracassaram em construir sociedades multiculturais.

Quer saber como os alliens camarões do Distrito 9 se espalham pelo planeta? É só entrar em contato com uns poucos artigos para perceber porque o filme é tão perturbador, não somente pelas cenas fortes filmadas na imundície do Soweto, mas pela impegnação de alta dose de realidade do que está acontecendo aqui e agora:

Conservadores alemães declaram fracasso da sociedade multicultural.
Em ação violenta contra imigrantes, polícia arrasta mãe negra com bebê na França.
Morre um imigrante por dia na fronteira entre México e EUA.

E a coisa não para por aí, já que a globalização nunca foi inventada como um processo de fato para acabar com as discrepâncias financeiras entre os povos, mas para aprofundar as diferenças e eternizar o domínio dos fortes sobre os fracos. Assim, se você tiver a felicidade de ver o filme Distrito 9, saiba que estamos do lado dos "camarões".

PS: Portugal também deve grandes explicações sobre a maneira discriminatório e arrogante como trata os camarões oriundos do Brasil, uma vez que a recíproca não é verdadeira

"Distrito 9" mistura ficção científica com 'favela movie' na África do Sul.
Foto do Allien: District 9 Costume.

5 comentários:

  1. Isais nada a ver com o link! Só preciso de uma ajuda mesmo.
    Abri um perfil no twitter com sua ajuda anteriormente.
    Faz uns 30 dias que excluir o perfil, gostaria de saber se tem como ativa-lo novamente e como faço? E se ouver uma maneira, eu consigo recuperar meus followers e tweets também isso é possivel???

    Ana
    Obrigada Isaias

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  2. Sim, é possível recuperar tudo, conta e followers. É só seguir a "receita de bolo" publicada neste blog:
    http://www.compulsivo.com.br/2010/01/como-restaurar-sua-conta-no-twitter.html

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  3. Isaias...muito fofo você! Obrigada de coração!
    Bjos
    Ahhh lembrei! depois do encerramento Isaias existe um prazo pra conseguir essa restauração? Eu poderia tá fazendo isso daqui um ano por exemplo? ou não? è só pra saber!

    Ana

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  4. O prazo de restauração são 30 dias contados após a data de desativação da conta:
    http://support.twitter.com/articles/261211-restaura-xe7-xe3-o-de-conta

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  5. Visão de um europeu.

    Portugal é um país de migrantes. Temos uma forte tradição de emigração e somos hoje terra de acolhimento de muitos imigrantes.

    A nossa transformação em país de imigração está correlacionada com o crescimento da produção e da riqueza, da maior equidade na sua distribuição e da abertura de oportunidades aliciantes para populações estrangeiras de baixo rendimento, mesmo que com bons níveis de formação académica.
    Aqui, como em qualquer outro lugar, aplica-se o princípio de que só são bem-vindos aqueles que vierem por bem.

    Agora, as condições de prosperidade de atracção dissiparam-se. Recomeçámos a emigrar e mostramos menor abertura aos que para cá imigram.
    Hoje, e em plena crise, não só limitam, como condicionam.

    A preocupante sequência de notícias sobre repatriamentos, julgamentos, prisões, extradições e intervenções policiais envolvendo imigrantes ilegais, em diferentes países e sectores de actividade, inquieta-me.
    O aumento no trabalho flexível e ocasional na maioria dos países europeus criou uma situação na qual os trabalhadores que têm baixa expectativa social e económica se tornam altamente desejáveis, os imigrantes ilegais possuem extraordinária vantagem, porque tão logo que as suas expectativas cresçam os seus empregadores podem denunciá-los à polícia.

    A especificidade da sociedade democrática foi, simplesmente, absorvida pela vitória do "mercado" com os seus guardiães implacáveis e os pequenos ou grandes ajustes que o sistema exige.

    É necessário perceber que a Europa já ultrapassou desafios bem mais complexos do que os actuais.
    Vivemos numa época em que os valores a igualdade, a fraternidade, a liberdade se tornaram centrais.

    O debate e a legislação sobre os direitos dos emigrantes, relevam dessa preocupação, novíssima, com os valores. Se isto não resolve o problema, pelo menos oferece pistas para podermos reflectir. Reflexão que a crise torna urgentíssima.

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