Nos organismos vivos, são muito tênues os limites entre o bem e o mal, porque tudo o que faz falta, quando em demasia, prejudica.
Vejamos o caso das vitaminas
Vitamina é uma palavra que sempre soa bem porque, para o funcionamento do corpo necessitamos de várias vitaminas, por isso encontram-se disponíveis muitas informações sobre efeitos da sua carência e fontes para obtê-las. Sem dúvidas, a falta de vitaminas é um problema sério e de saúde pública, mas a superdosagem também causa problemas. Os efeitos de superdosagem mais conhecidos são das vitaminas A e D.
Os casos de superdosagem são raros porque as fontes naturais de vitaminas não incluem alimentos “irresistíveis”. Para vitamina A, as fontes são vegetais amarelos (cenoura, abóbora, batata doce e milho), pêssego nectarina, abricó, gema de ovo, manteiga e fígado. Para vitamina D a coisa piora, pois as principais fontes são óleo de fígado de bacalhau, fígado e gema de ovo. Mesmo pessoas como o Isaías Malta, que adora o sabor da Emulsão Scott e prefere consumir uma colher “disso” a um brigadeiro, dificilmente terão superdosagem, porque não posso acreditar que alguém possa ingerir essa “beberagem esbranquiçada e gosmenta” diretamente do gargalo e aos litros.
Porém, a ideia de que algo só “sirva para o bem” e a possibilidade de ingerir altas doses de vitaminas sob a forma de comprimidos ou drágeas podem levar aos desequilíbrios.
No caso da Vitamina A, os sinais e sintomas da toxicidade crônica incluem vômitos, anorexia, fadiga, irritabilidade, diplopia, cefaléia, dor óssea, alopecia, lesões da pele, queilose e sinais de aumento da pressão intracraniana. Crianças têm desenvolvido toxicidade aguda seguidas à ingestão de 300.000 U.I., resultando em aumento da pressão intracraniana, cefaléia, vômito, borramento da visão, irritabilidade e outros efeitos relacionados com o aumento da pressão intracraniana. Esfoliação da pele também foi relatada (Medicinanet).
Para a vitamina D, a ingestão crônica além de 1.600 U.I. por dia pode causar toxicidade Os efeitos tóxicos da vitamina D, em geral, são resultado de uma suplementação excessiva e não da ingestão aguda, o que raramente resulta em toxicidade. A ingestão de doses excessivas pode causar anorexia, náuseas, vômitos e perda de peso. Muitos dos efeitos da ingestão crônica excessiva são decorrentes da hipercalcemia induzida (Medicinanet).
Ninguém fala mal da vitamina C, mas descobri-me alérgica a doses maiores dessa vitamina, que é hidrossolúvel e facilmente eliminada pela urina e suor. Um médico sugeriu a ingestão diária de 500 mg para proteção contra gripes, resfriados, enfim para melhorar as defesas imunológicas. Após um tempo adquiri uma alergia da pele, que começou com avermelhamento de pequenas regiões da pele como se fossem picadas de mosquito, mas se alastraram com certa inflamação e coceira, muita coceira. Tive que consultar um dermatologista, que além de antialérgicos me orientou a observar a dieta para detectar o que havia de novo. Suspendi a vitamina C e... bingo, melhorei. Agora já sei, à primeira “bolinha coçante” reduzo alimentos ricos na vitamina C (limão, laranja, lima, bergamotas, acerola, etc) e nem necessito tomar antialérgicos.
A vitamina C, costuma ser recomendada para “fortificar as defesas do corpo” (sistema imunológico), mas o funcionamento excessivo de vários dos nossos mecanismos de defesa, causam alguns problemas sérios. O que não faltam são exemplos.
Vejamos o caso da enzima NADPH OXIDASE (2)
O complexo enzimático NADPH oxidase (esquema acima) está presente nas membranas das células fagocitárias como Macrófagos, Neutrófilos e Eosinófilos (3). Sua função é oxidar o NADPH e enviar prótons para o exterior da célula, produzindo superóxido (água oxigenada H2O2) e outros intermediários do oxigênio, os quais têm importante papel na defesa contra infecções.
Porém, quando em níveis elevados, devido à geração de radicais livres, essa enzima tem relação direta com o surgimento de inflamações crônicas, doenças vasculares e câncer.
Os radicais livres são átomos ou moléculas com um ou mais elétrons desemparelhados, que servem, entre outras coisas, para combater organismos invasores, mas em doses elevadas causam lesões a tecidos.
A superativação de enzimas que produzam radicais livres são danosas. A NADPH-Oxidade é uma delas e sua superativação pode transformar inflamações agudas em crônicas. Porém, na medida certa essa enzima contribui para o tônus vascular, crescimento celular e combate a patógenos.
De acordo com a Bióloga Maria Augusta Arruda(4), quando a NADPH-oxidase está presente ou ativada na medida certa em Neutrófilos, ela permite que estas células “morram” silenciosamente sem causar danos às células vizinhas (apoptose implosiva). Porém, sua superativação não apenas prolonga a vida dos Neutrófilos, como transforma sua apoptose num evento explosivo, que lesa células vizinhas. Por tais motivos a pesquisadora desenvolve projetos com o objetivo de conhecer melhor o funcionamento da enzima para subsidiar a criação de medicamentos que possam controlar sua atividade, para tratamentos de infecções, tumores ou doenças vasculares.
Moral da história: Viver não é fácil e precisamos desenvolver um equilíbrio consciente, não dá simplesmente para encontrar “pílulas mágicas” que façam tudo por nós, precisamos agir de moto próprio. Embora, em alguns casos, seja indispensável o uso de certos medicamentos, a idéia é não piorar as coisas vivendo fora do equilíbrio. Para o equilíbrio, uma sugestão do Blogpaedia é a “Dieta Ecológica”, além desse há outros caminhos, basta descobrir, experimentar e selecionar o seu.
Por: Gladis Franck da Cunha.
Notas:
1- A primeira ilustração não é fotomontagem e um pouco da história desses 45 min na corda bamba podem ser lidos no blog “Stuck in Sac” de Leila Couceiro.
2- Esquema da NADP OXIDASE disponibilizado por Genkyotex.
3- Para saber mais sobre sistema imune consulte “Células do sistema imune” – UNIFESP
4- O trabalho de Maria Augusta Arruda foi divulgado em: FRAGA, Isabel. Em dia – Biologia Molecular: De coadjuvante a Protagonista. Ciência Hoje, vol. 43 ; n-257 p.66, SBPC : março, 2009.
Muito bom esse post. Agora, se puder responder a uma pergunta: tomar suco de laranja e cenoura, as duas ao mesmo tempo, anula o poder de uma e de outra (C e D)? Elas podem ser misturadas?
ResponderExcluirEu já li que a mistura de diferentes sucos de frutas poderia "retirar"(?) o efeito de uma das vitaminas.
Obrigado.
O suco de cenoura com laranja é clássico. Nunca soube que um alimento anulasse as vitaminas do outro. Além disso, há polivitamínicos que misturam não apenas estas mais várias vitaminas.
ResponderExcluirO que não é recomendável é manter uma dieta muito homogênea, ou seja, tomar todos os dias o mesmo suco, ou comer as mesmas saladas. Isso porque qualquer vegetal produz alcalóides e o consumo excessivo acaba prejudicando. Ouvi uma palestra de um Botânico, especilaizado e descobrir novas fontes de alimentos vegetais. Ele destacou que a alface consumida diariamente se torna uma inimiga silenciosa. Em suma, ele recomendou que variássemos a alimentação e numa mesma não fizéssemos muitas misturas. Assim, o padrão de um cereal, um grão, um tipo de carne, um ou dois tipos de verduras e frutas é o ideal, desde que varie-se cada um dos ingredientes ao longo do mês.