A relação cérebro mente é um problema que data de muitos séculos e parte da questão: como a mente se relaciona com o cérebro?
Dessa questão básica derivam outras:
1-Tudo que é mental pode ser reduzido a processos cerebrais?
2-A atividade neuronal do cérebro pode explicar tudo o que a mente realiza?
Algumas concepções são tácitas:
1-Os estados mentais não são independentes dos eventos cerebrais, ou seja uma base física para a mente é encontrável no cérebro.
2- Os fenômenos mentais são uma parte dos fenômenos que acontecem num sistema nervoso plástico, nem tudo no cérebro se relaciona com o que convencionamos chamar de mente. Um exemplo de funções cerebrais "não-mentais" está o controle do equilíbrio sanguíneo (homeostase). Assim a análise da taxa de glicose, água e minerais do plasma, constantemente processada pelo cérebro, não precisa envolver processos mentais.
3- As funções cerebrais resultam de uma ação interdependente de muitas partes do sistema nervoso central. Não há um sítio para a mente, ela resulta de atividades complexas e variáveis de diferentes áreas cerebrais.
Miguel R. Covian[1] refere-se ao fato de Holger Hydén ter demonstrado que durante o aprendizado ocorre a síntese de proteínas e que há uma memória de curta e de longa duração e questiona: É evidente que a atividade mental tem como condição necessária a atividade da maquinaria cerebral, teremos, porém, o direito de identificar a mente com o cérebro e reduzir o fenômeno mental ao fenômeno neuroquímico e cerebral?
Para Covian a dificuldade principal enfrentada pelo problema cérebro/mente consiste numa explicação adequada para os estados mentais, como pensamento, intenções, desejos e a capacidade de abstração.
Essa dificuldade reside no fato de que não existem receptores especializados, nem áreas específicas no córtex cerebral, para os estados mentais!
O pensamento consciente surge quando o cérebro atinge um nível elevado de estruturação e complexidade. Para Popper (apud Covian) os estados mentais formam um mundo real, que interage com o nosso corpo. A teoria da existência de dois estados- físico e mental – e de suas possibilidades de interação e relacionamento é o que se conhece como interacionismo (para Popper e Eccles).
Para explicar as relações Cérebro/Mente, Covian, utiliza uma analogia: duas imagens estereoscópicas produzem imagens subsidiárias, as quais, quando fundidas produzem uma imagem focal. Essa fusão põe em evidência uma característica que não está presente nas imagens subsidiárias, ou seja, da fusão surge algo novo, que não resulta de uma simples soma das imagens, mas de uma integração entre elas.
Do mesmo modo a mente surgiria da atividade cerebral, ou seja, segundo Polany (apud Covian) o cérebro é necessário para que surja a mente, mas não é suficiente para explicar o fenômeno na sua totalidade. Portanto a mente não é a soma aritmética da atividade dos neurônios: é uma entidade diferente com suas próprias leis. Uma analogia é: [...] a emissão da voz deixa aberta a possibilidade de combinarem-se os sons em palavras, que a gramática articula em frases. Porém, as leis da gramática não se aplicam à produção de voz.
De acordo com esta perspectiva, a mente seria um nível que, para suas operações utiliza o cérebro como nível precedente, mas que é irredutível aos princípios deste.
Na linha de pensamento estruturada por Covian, a mente aparece como um nível que se apóia no cérebro – ao qual controla – estabelecendo-lhe condições limitantes, mas como as operações mentais se apóiam no nível corporal, elas podem ser modificadas por condições favoráveis ou adversas do corpo. Ou seja, é praticamente impossível realizar uma reflexão filosófica durante uma cólica instestinal!
Pressupostos como estes de Covian nos direcionam a uma interpretação mais holística ou sistêmica do ser humano. É impossível entender o TODO querendo apenas somar as suas partes.
Nota: A imagem da Matrix que ilustra esta postagem foi escolhida porque a trilogia trabalha com essa questão, quando imagina um futuro em que os seres humanos se convertem em baterias isoladas em cápsulas individuais, sendo mantidos vivos a partir de suas "mentes" ativadas por programas "inteligentes": "no mundo da mente vivem os adormecidos, pessoas que acordam, tomam café e vão para os seus trabalhos, comem e voltam para casa, jantam, assistem TV e dormem novamente e no dia seguinte repetem a mesma sanha, durante a vida inteira. Até que se aposentam e morrem sem nunca ter se dado conta da função de tudo aquilo" (Blogpaedia:Há 10 anos a Matrix chegava ao deserto do real).
Por: Gladis Franck da Cunha
Referências:
COVIAN, Miguel R. Opinião: O problema cérebro e mente. Ciência Hoje v. 10, n. 58, p. 16-20, outubro de 1989.
Artigo completo scaneado foi disponibilizado por Rogerio Fonteles
Fonte da ilustração da Matrix Emergigingchristian
Uma analogia, seria como olhar para o hardware do computador e não entender porque aquele monte de fios não faz a coisa funcionar, pois tem algo em cima, que é o software, que controla o hardware. é algo a mais que a soma das partes. A mente é o software e o cerebro é o hardware.
ResponderExcluirQuem gostou deste post indico, o blog nerd somos nozes que esta com uma serie de posts interessanstes sobre psicologia, ciencia quantica e afins... vide especificamente o post " A cultura e seu sistema operacional"... Abraços
ResponderExcluirAss. Gabriel Lima