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1 de abr. de 2010

Tortura medieval vista como instrumento purificador da alma.

Apesar do grande interesse despertado pelos instrumentos de tortura e dos milhares de Sites que descrevem suas características e cruezas, a maior parte das informações chegadas até nós não passa de reducionismos e estereotipamentos distantes da forma de pensar daqueles tempos.

Hoje, nos limitamos a condenar as punições de antanho sem avaliar o contexto da época, ou seja, como o homem medieval se posicionava perante o universo.

Entendendo o corpo como a morada do mal.
Toda a relação com o corpo obedecia à dualística carne/espírito. De um lado, o perecível, putrescível e efêmero, do outro, a partícula imortal que se ve embaralhada nas artimanhas do elemento pútrido, logo, fácil presa de desvio da sua missão precípua: a aspiração à perfeição celeste.

Portanto, o corpo é considerado perigoso e contagioso, a morada de todas as tentações. Nele, surgem naturalmente as pulsões incontroláveis, nele se manifesta o que depende do mal, seja através da corrupção, ou por doenças e purulências que, ao maltratarem a carne, são suscetíveis de subverterem o Espírito.
Bibliografia: História da vida privada – Coleção dirigida por Philippe Ariès e Georges Duby – Companhia das Letras – 1999, volume II, pag. 515.

O castigo visto como a remissão da porção imortal do criminoso.
Assim, é sobre o corpo que os castigos purificadores devem ser aplicados afim de que o pecado e a falta sejam expurgados. Sob este ponto de vista se torna fácil compreender a função didática dos métodos de tortura, não como ferramentas de usufruição sádica, mas como um bondoso zelo moral pelo o périplo cósmico de sodomitas, hereges, bruxas, pedófilos, homossexuais, sequestradores, traidores, assassinos, falsários, polígamos, incestuosos e blasfemadores.

Mentiras sobre a sistematização das torturas.
Contrariando os preconizadores dos séculos posteriores, as condenações à tortura eram empregadas em raríssimos casos, de 1 a 2% do total de julgamentos. Quanto ao resto dos crimes, eram destinadas punições mais brandas, que iam desde o banimento à prisão.
» The Truth About Medieval Torture
Método de limpeza da alma por ingestão de água fervente.
Quando nos debruçamos sobre algumas técnicas típicos de torturas medievais, tais como empalamento, esfolamento, perfuração, despedaçamento, evisceramento, etc., vemos que o seu objetivo imediato não era impingir a morte ao condenado, mas prolongar a sua dor e agonia para marcar para sempre a alma do supliciado, afim de que jamais cometesse os mesmos crimes bárbaros novamente.

Evisceramento: Sob este tipo de enfoque, os carrascos mais conceituados daqueles tempos não eram aqueles que propiciavam mortes rápidas e indolores, mas os que sabiam empalar delicadamente um supliciado de modo a mantê-lo vivo por semanas, infeccionando e apodrecendo por dentro.
O mesmo pode ser dito da evisceração, quando um profundo corte longitudinal era perpetrado no abdomem do sujeito amarrado a uma cama de ferro e a suas vísceras eram suspensas, ainda conectadas ao corpo, por meio de ganchos. Assim, o condenado ficava ao longo de dias e semanas padecendo da podridão que começava a se instalar por força das precárias condições de higiene e dos vermes ejetados por moscas varejeiras, que eram atraídas pelo cheiro nauseabundo dos intestinos expostos.

Roda de despedaçamento: A vítima, era esticada de barriga para cima na roda com os membros estendidos ao máximo e atados a em anilhas de ferro. Por baixo dos pulsos, cotovelos, joelhos e quadris, atravessavam-se suportes de madeira.
O verdugo aplicava violentos golpes com a barra, destroçando articulações e partindo os ossos, porém evitando dar golpes que pudessem ser fatais. Isso provocava um verdadeiro paroxismo de dor, o que muito divertia a assistência. Depois do despedaçamento, desatavam o condenado e entrelaçavam-lhe os membros com os raios da grande roda, deixando-o ali até que sobreviesse a morte, ao cabo de algumas horas, ou até dias. Então, aves de rapina arrancavam-lhe pedaços de carne e vazavam os olhos até à última exalação. Este era um dos espetáculos mais populares nas praças da Europa. Multidões de pessoas aglomeravam-se para saborear um bom despedaçamento, como atestam várias gravuras da época.

Ora, quando se sabe que os rituais de tortura terminavam comumente na quebra de todos os ossos, cortes profundos, brutal perda de sangue e maceração dos órgãos vitais, é lícito perguntar se os algozes acreditavam na doutrina da reencarnação, quando os condenados viriam numa outra existência trazendo as dolorosas lembranças inconscientes dos seus crimes de além-vida.
» Instrumentos de Tortura Medievais.

O sonho da tortura nos dias atuais.
Vez por outra a sociedade é sacudida por crimes hediondos e brutais, mas como renunciamos ao corretivo da alma, nos limitamos a trancafiar os maldosos em celas, de onde são eventualmente se evadem para voltarem a cometer novos crimes, sem que suas almas tenham a chance de ser purificadas.

A tortura moderna, perpetrada para purificar coisa alguma.

Não obstante o consenso mundial de que a prática de tortura é uma barbárie a ser erradicada da face da terra, ela continua a ser usada como instrumento político e não só de ditaduras sanguinárias guerrilhas, como também por supostos paladinos da democracia e da liberdade, tais como os EUA, cujo principal órgão de inteligência, a CIA, empregou técnicas de tortura, sob o pretexto de combater o terror, ao longo dos dois mandatos da administração Bush.
» CIA historian: “The debate’s over, Torture stained the honor of the United States.
» CIA Refuses to Turn Over Torture Tape Documents.

16 comentários:

  1. Muito interessante o teu texto sobre os métodos de tortura, Isaias. E é ainda mais interessante recordar que os torturadores e os torturados ainda existem nos dias de hoje, só que objetivos bem menos altruísticos... Me lembrou bastante minhas aulas de História sobre a Ditadura Militar onde meus professores, principalmente os que foram presos, recordavam dos meios de tortura empregados e falavam sobre tropas militares que receberam treinamento de forças especiais americanas para torturar sem deixar marcas.

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  2. Éris, como estamos em plena era dos Gadgets, menosprezamos a contextualização histórica.
    Por isso, me eximi de ser mais um a desfilar a interminável lista de aparatos, para focar na discussão da função da tortura que tinha tudo a ver com a cosmologia do homem medieval, baseada em valores teológicos.
    Ainda nos perguntamos se o monstro incestuoso da Áustria Josef Fritzl e outros da mesma laia não mereceriam castigos lentos e dolorosos, para que as suas existências malignas fossem impregnadas para sempre com o espírito da justiça.
    Monstros assim deveriam ser obrigados a se arrepender milhares de vezes, confessar os pecados e renegar o mal, antes de exalar o último suspiro da sua concupiscência.

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  3. A tortura remonta à pré-história e nunca retrocedeu até á época actual.
    Os instrumentos e os métodos evoluíram de forma sofisticada.
    A história é fértil em relatos e factos.Direi que a força prevalece sobre a razão.
    É e foi praticada de forma oficial ou não. Passe o pleonasmo “ desumanização da humanidade”.
    Penso que as mais relevantes e com maior detalhe foram a Inquisição e o Nazismo,que são do conhecimento mundial. Quem não tem conhecimento delas?
    Como não sou historiador,também quero salientar a Ditadura Salazarista, pois esta foi vivida em Portugal durante 50 anos.
    A mais recente é a de Gunatánamo embora George Bush jurasse que nos EUA não existia.
    A verdade porém é que Barack Obama,a proibiu mas,sinceramente não sei se acabou ou não.
    Em traços gerais e sintetizados é a minha visão.
    Não sei se é adequado inserir uma parafilia estou a falar de masoquismo, sadismo e sadomasoquismo.
    Na realidade são torturas recebidas ou infligidas para obter prazer sexual. A diferença que é substancial é o seu consentimento o que é relevante.
    O marquês de Sade deu o mote e a história seguiu o seu curso.

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  4. Algumas imagens ai sao de BDSM.

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  5. BDSM É tortura que integra o conjunto das mortificações. Na falta de sistemas de tortura institucionalizados, os cidadãos promovem as suas próprias formas de auto-flagelações.

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  6. Adorei o artigo. Não concordo com a tortura "religiosa" das épocas medievais, no entanto, concordo com a tortura atual.
    Não vou explicar o porquê, mas sem ela, a sociedade seria várias vezes pior.

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  7. é um absurdo. fora tortura.

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  8. e pensar que em muito a igreja contribuiu para esses métodos macabros de purificação da alma, tendo como principais vítimas as mulheres, as provocadoras do pecado na terra (lembremos Eva, a primeira) essas deveriam morrer das formas mais cruéis possíveis... a inquisição esfolava, esquartejava, macerava os corpos daquelas que tinham algum sinal "de bruxa", o que poderia ser uma simples verruga no corpo...

    adorei teu texto, caríssimo, como sempre :)

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  9. saudade desse tempos e uma pena que acabou rsrsrsrs

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  10. O ser humano, humano? Somos os únicos seres vivos além em dos gatos que se divertem com o sofrimento alheio.
    Dá uma olhada nessas fotos que tirei no museu da inquisição em Lima http://deaeomundo.blogspot.com/2009/04/museu-da-inquisicao-em-lima.html

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  11. sorry for english, just wanted to tell you the link for The Truth About Medieval Torture is not working.

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  12. WOW \\..// O.O \\..//

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  13. só que purificar alguém na base de torturas é dar crédito ao insano que o executou;imaginem quantos não mentiram para ficar livres do suprício;em salém muitas mentiras acusaram gente temente a Deus ; é sua pureza disfarçada em crueldade isso é lamentável!!!

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