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5 de jun. de 2008

A Amazônia é dos brasileiros?

A cada demarcação das áreas indígenas, surgem discussões e conflitos generalizados misturando política de alocação de terras contínuas, soberania nacional, atuação de ONGs estrangeiras, intervenção internacional, ressuscitando velhas xenofobias que alimentam os debates deste tipo.

Mas, avançando além da mera posse, qual é o papel das reservas indígenas no processo de preservação natural? Há uma corrente de opiniões que afirma categoricamente que os índios desmatam tanto quanto os brancos. Tal pensamento direitista não confere com a realidade fotografada pelos satélites de monitoramente. Embora a Amazônia perca por ano cerca de 20.000 Km2 de florestas, grandes áreas vêm se preservando através da criação das unidades de conservação (UCs) e terras indígenas (TIs). A soma de todas as áreas florestais ocupadas por UCS e TIS em diferentes bacias hidrográficas revela que um saldo positivo a favor da conservação da cobertura nativa.

Embora a criação de UCs e TIs tenha objetivos que vão além da preservação, as áreas compreendidas por elas vêm exercendo um benefício indireto formando verdadeiras barreiras contra o avanço do desmatamento.

Veja o caso desta foto de satélite da terra indígena Sete de Setembro, o desmatamento e as queimadas avançam até os limites da TI e aí estancam.


Qual é o interesse da mídia, quando invoca razões de soberania nacional para tentar torpedear as novas demarcações? Pode-se cogitar que haja dinheiro pesado das empresas madeireiras por trás das campanhas contra a demarcação da TI Raposa Serra do Sol na TV?

Toda a gritaria contra a demarcação de terras contíguas certamente não é alimentada por interesses preservacionistas, porque a experiência mostra que, se a localização geográfica dessas áreas é definida adequadamente, elas formam grandes mosaicos que ajudam na contenção ou na minimização do desmatamento. Essa vem sendo uma das estratégias empregadas pelo governo contra a destruição da floresta.

Recebi hoje um email intitulado: “A Amazônia e os Alienígenas”, de conteúdo xenófobo escrito por militares que nunca entenderam nada de preservação e jamais estão dispostos a se colocar a serviço dela. Os defensores da Amazônia inteiramente brasileira rechaçam totalmente a política multicultural que o governo Lula está adotando: mesmo que tarde, estamos reconhecendo não só a cultura indígena, mas as suas nações. Ora, o conceito de nação significa a existência de povo e terra.

Até hoje não se tem reconhecido que os índios têm o direito a receber de volta as suas nações, e com isto é rompido o paradigma da Amazônia monoliticamente brasileira, uma vez que o reconhecimento de nações significará a formação de um mosaico de terras autônomas. É o medo manifestado na apresentação Power point que recebi anexo ao email, intitulada: “Amazônia – A verdade Oculta”.

Nele são citadas frases de alguns famosos políticos mundiais, onde eles colocam em cheque a posse brasileira sobre a Amazônia e a última lâmina termina mostrando o novo mapa amazônico entrecortado pelas nações indígenas, dando razão ao vaticínio do repórter Andres Oppenheimer: “Novas e pequenas nações poderão alterar o mapa da América Latina até 2050”.


Porém, do ponto de vista da preservação ambiental está acontecendo um mal tão grande quanto os detratores das demarcações de terras indígenas apregoam? Diante da destruição acelerada que sofre a Amazônia, qualquer medida que estanque o processo vale muito mais do que a resistência aferrada à arcaicos conceitos de soberania nacional.

Referência: Revista Ciência Hoje nº 239/jul2007 – Amazônia, desflorestamento e água.

Amazônia, ecologia, preservação, ambiente, reservas indígenas, unidades de conservação

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