8 de jun. de 2008
Um Rembrandt revisitado?
Quando visitei a casa de Rembrandt em Amsterdã, foi uma rara oportunidade de bisbilhotar a casa do artista e filosofar um pouco sobre o processo criativo. Os objetos e o atelier de Rembrandt demonstram como era difícil criar numa época sem internet, computador, scanner, etc.
Porém, confrontando-se as dificuldades pré-digitais com as facilidades atuais, o que ganhamos? Artistas como Rembrandt tinham que mandar vir de partes distantes os objetos que iriam povoar as suas telas. Ele foi à falência em virtude de seus gastos excessivos com a sua arte, morrendo na miséria, como a maioria dos artistas em todos os tempos.
O problema da produção.
A produção atual em artes plásticas atualmente seguiu inevitavelmente os ventos pós-modernistas que romperam o conceito da autoria, enveredando pelo caminho da apropriação mediática. No século XX, onde a fotografia se consolidou como meio legítimo de documentação da realidade e o cinema, apesar de ser considerado a 7ª arte, poucas das suas produções foram além da comezinha arte de ganhar dinheiro, as artes plásticas independizadas do real, ganharam possibilidades infinitas de expressão.
Tendo à mão as facilidades disponibilizadas pela quinquilharia digital será que conseguimos superar, digamos, algum dos autores barrocos, como um Rembrandt? Mesmo atolados por técnicas e técnicas das mesas digitalizadoras, câmeras digitas, transmissões globais em alta velocidade, milhões de pincéis de cerdas reais e virtuais, palheta de milhões de cores que extrapolam em muito a capacidade do olho humano em distingui-las... enfim, tudo em excesso, técnica em excesso, cores em excessos e mídias em excesso e... percepção apreciadora em franco recesso.
Minhocas pintoras, cães performáticos e gente pintando com a minhoca.
Será que os apreciadores de arte, completamente entulhados num mar de “figuras criadas por computador”, mantiveram algum dos seus sentidos livres do estupro geral? Tornou-se senso comum acreditar que “qualquer um” pode criar arte e também que qualquer coisa pode ser considerada arte. Todavia, o senso comum não inventa a realidade, ele a percebe sob a forma de um “pintor” cuja ferramenta de trabalho é um minhocário. Suas telas são compostas de traços aleatórios desenhados por pobres minhocas lambuzadas de tinta, que se arrastam nas telas até morrerem envenenadas. Outro “artista” toma um cão viralata das ruas e o amarra numa cordinha, completando uma instalação artística que provoca espasmos histéricos na burguesia hipócrita.
En passant menciono o caso do pintor australiano que usa o seu pênis para pintar, como uma ilustração patética da perda de finalismo da arte moderna, onde não importa o produto e sim a técnica que submerge e fascina.
Pequeno experimento mental: Você pode dar o mesmo bloco de mármore que foi dado a Michelangelo a um artista pós-moderno e não correrá o risco do impulsivo “parla” ao contemplar o trabalho finalizado, porque o cocô ultra-realista diante dos seus olhos nada lhe arrancará além de um suspiro de resignação.
Teleportando Rembrandt...
Questiono sobre qual teria sido a produção de Rembrandt se por acaso ele tivesse à sua disposição a nossa parafernália de trucagens. Imagino duas possibilidades: uma é teleportar à época do pintor barroco os nossos brinquedos eletrônicos e outra é teleportar o Rembrandt à nossa enlouquecida era. Qual das duas teria mudado a história da sua falência e qual delas teria nivelado a sua arte ao pintor de minhocas?
Rembrandt se converteria num pintor médium de minhocas, ou colocaria sua minhoca para pintar, ou simplesmente amarraria seu viralata numa bienal? Vamos deixar o seiscentista Rembrandt na sua época e, por ora, admirar a sua arte enquanto não formos totalmente catatonizados pelo “non sense” da nossa época, que no afã de desconstruir o sentido da arte, a perdeu em algum beco da história.
Rembrandt, arte contemporânea, barroco, minhocas pintoras, teleporte, ultra-realismo, pintura aleatória
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hiiiiiiiiiiiiiiiii
ResponderExcluirhow are you
i hope you enjoy every minute of your beautiful life.
you are fantastic!!!
a kiss for you, my dear friend!
god bless u dear
can we exchange our link
r u ready to do?
bye
take care
god bless you dear
Ah, a polêmica da arte pós-moderna... visto que, como você disse, a arte perdeu sua função de retratar a realidade, resta ao artista pura e simplesmente dar forma às suas impressões subjetivas e inovar de algum jeito, e como de louco o mundo está cheio, nada mais normal que essa baderna...
ResponderExcluirMas veja, nem tudo está perdido, há muita arte "própria" ainda à solta pelo mundo. Como, por exemplo, esta artista, que por coincidência é minha mãe. ;)
Enfim, cada qual com sua arte. E que seja.
Sim, a velha polêmica e uma suspeita: a de que atividade simbólica tem assento orgânico, a própria semiótica trabalha com esta hipótese. Se tiver, então realmente a arte tem que ter função, aquela que atenda e supra o aparato orgânico.
ResponderExcluirFiquei curioso com o link da artista, será que você o colocou certo? Parece que ele remete para este post.
BL, droga, não sei o que houve, juro que peguei a URL certa.
ResponderExcluirBom, mandando de novo. Se não der, procure por "Maristela Guedes" no Google, é o primeiro resultado.
Uau! Vamos dizer que as minhas pretenções são as de criar tensionmentos na arte plástica contemporânea e nunca negá-la em bloco. Você trouxe um exemplo de outro, que coincidentemente é a sua mãe, mas não importa é uma artista atemporal que cuja arte toca. Senti isto quando me deparei com a série transparências, especificamente o quadro da brincadeira de corda. Ali há uma representação multidimensional a retratar a infância.
ResponderExcluirO link que você deu ainda está com problemas, vamos ver seu eu conserto:
http://www.barbacenaonline.com.br/galeriavirtual/maristela_guedes.htm