Os insistentes rumores de internacionalização da Amazônia têm a ver com a visão que os países ricos têm em relação ao papel do terceiro mundo: exclusivamente como fontes de fornecimento de matéria prima. Desde que a Europa exaurida no século XV expandiu seus domínios para o oeste, invadindo as terras fartas e ricas da América habitada por povos desarmados, se repetiram as mesmas práticas espoliativas que os europeus já empregavam no oriente.
O discurso dos países dominantes foi adaptado aos novos tempos, ou seja, sob a justificativa ecologicamente correta da preservação do “pulmão do mundo”, proclama-se uma intervenção num local geográfico imenso, inexplorado e provavelmente repleto de riquezas minerais capaz de fornecer matéria prima de baixo custo a países exauridos em seus recursos naturais.
A fragilidade das fronteiras diante do mundo globalizado.
A diplomacia brasileira busca os seus fundamentos retóricos no conceito de soberania nacional. Ora, o sistema atual de divisão geográfica foi inaugurado no início da era moderna e perdurou até a irrupção da globalização possibilitada pela tecnologia da comunicação. Até então, os países eram ilhas quase auto-suficientes que interagiam com outras ilhas e usufruíam a soberania como um bem maior.
A segunda guerra não apenas provocou uma ruptura em toda a herança política herdada do século XIX, ela foi além, propiciando o surgimento do paradigma que tornaria obsoleta a soberania dos países. Sob a forma de entidades transnacionais tais como a ONU, organizações não governamentais, blocos econômicos, mercado, economia globalizada, etc, os antigos conceitos de país, nação, limite geográfico e soberania se tornaram tão tênues, que a sua força reside mais no plano da retórica diplomática, do que em ações afirmativas de afirmação de posse territorial.
O Brasil, ao invocar o conceito de soberania, o faz mais no campo das frases de efeito diante do novo quadro que se estabeleceu no pós-guerra do Iraque: quando o grupo dos países ricos resolve invadir, a lei da soberania se esfarela diante da força dos tanques dos poderosos.
Há como o Brasil evitar a internacionalização da Amazônia?
O Iraque na sua qualidade de país autônomo, integrante das Nações Unidas e cumpridor das exigências dos inspetores da ONU que o estavam revirando de cima a baixo em busca de armas químicas e nucleares e não encontrando nenhum vestígio das acusações que pesavam contra ele, mesmo assim foi invadido pelas potências ocidentais sob o pretexto pueril de “salvaguardar os direitos humanos do povo iraquiano”.
O Tibet foi invadido pela China, pelo crime de ser habitado por um povo pacífico e desarmado, mais interessado na ritualística budista dos seus templos, do que em se precaver contra o seu grande irmão amarelo do leste.
A Groelândia na qualidade de possessão dinamarquesa só não foi invadida porque, aos olhos da comunidade internacional, não passa de um bloco de gelo inútil economicamente e enquanto valer tal parecer, continuará sendo o paraíso ecológico para as focas, ursos polares e esquimós e não mais um palco de disputas.
O Brasil na qualidade de detentor da maior reserva de floresta tropical do mundo não tem dinheiro, nem vontade política e nem incentivo do bloco dos ricos para estancar a destruição do último lugar não devastado do planeta, onde se encontram as últimas tribos humanas autóctones que ainda não foram assimiladas pelo processo civilizador europeu. A pergunta que não quer calar diante do quadro surrealista de uma Amazônia virginal posta diante de um mundo esgotado é: por que até hoje a Amazônia não foi militarmente invadida pelas grandes potências?
As respostas, apesar de meramente especulativas, não deixam de ser alarmantes:
- por que ainda não foi objetivamente estipulada a real quantidade de petróleo e gás no seu subsolo, que deve ser impressionante, sabendo-se que todos os países limítrofes à Amazônia são ricos nestes minerais;
- o mundo ainda não desencadeou a guerra pela água doce. Apesar da água estar se tornando um recurso cada vez mais escasso, os países desenvolvidos ainda não começaram a matar para obtê-la. A Amazônia será o caminho natural para quem quiser deter o domínio sobre o último grande depósito de água potável;
- por que é possível invadir a Amazônia sem fazê-lo militarmente, simplesmente fincando posições através da compra de terras, começando pelos lugares remotos. A mesma tática foi empregada pelos judeus quando quiseram reconstituir o Estado de Israel: pacificamente comprando terras dos palestinos e árabes ao longo dos anos, para finalmente, declararem a independência em 1948.
De qualquer maneira, a Amazônia de tão vasta, rica e imprescindível ao equilíbrio do clima em escala mundial não pode ser apenas dos brasileiros, ela pertence à humanidade, PORÉM não só a Amazônia, como também o resto da riqueza mundial, que deveria também ser compartilhada. Mas os países ricos, se por um lado lutam para conservar o status quo privativo das riquezas, por outro, advogam em prol do compartilhamento global das fontes de recursos naturais.
Ecologia, Amazônia, internacionalização, globalização, recursos naturais, bioma
Eu odeio concordar com o Lula, mas acho que ele tem razão num ponto: que história é essa da Europa e dos EUA esgotar com as florestas e búfalos deles e vir com papo de consciência ecológica pra cima da gente? A Amazônia pode até perder alguns hectares diários de árvore por queimadas sem-noção e desmatamento comercial boçal, mas ainda é enorme. E a devastação já dura anos, então isso deve significar alguma coisa.
ResponderExcluirPor mim, a Amazônia gera mais preocupação do que deveria. Ela é importante? É. É a coisa mais importante do mundo? Não, principalmente porque muitos dos efeitos ecológicos são de ordem local(retenção de gases e aclimatação, por exemplo). Mas como não sou ecologista, eu é que não vou me meter nessa fogueira...