21 de jun. de 2008
Um fenômeno de heterônimos?
Heterônimo, antes de apelido são pessoas habitando dentro da pessoa, como no exemplo famoso: o poeta português Fernando Pessoa, que poderia ser chamado de Fernando “Pessoas”, tão grande foi o número de personalidades a lhe habitarem o interior.
Quando conheci Pessoa, não imaginava se tratar de uma das pessoas, Alberto Caeiro – o viajante das estrelas, Ricardo Reis – o erudito, Álvaro de Campos – o prolixo, ou Fernando Pessoa – O Fingidor, que fingiu tão completamente, que chegou a fingir que era dor.
Por minha parte, também tenho meus heterônimos, interna corporis nominados, executores da minha literatura, e por vexo escandidos. Porém, existem autores menos vexados e mais brilhantes que dão muitos panos à manga ao deixarem caminhar à luz do dia seus heterônimos. Estou falando especificamente de um comentador deste blog, que em aqui chegando à larga voz, encomendou incontinenti um texto ao seu escritor Korso Asclepius.
A partir daí adentrei um enredo literário instigante, acreditando piamente que havia conhecido Bruno Guedes e 4 escritores associados, ou melhor, cinco cavaleiros de uma associação literária inspirada num rotundo mamífero subterrâneo chamado toupeira. Falando em toupeira, porque você acha que estou traçando paralelos entre as pessoas do Fernando e as toupeiras do Bruno? Simplesmente porque é uma questão do Karma do carinha declarante em alto e bom som: “Eu não tenho praticamente nada a ver com poesia, logo não devo fazer parcerias com sites de poesia.”
Então, um cara que nada tem a ver com poesia, mas que se socorre de tantas Pessoas Interiores quanto um certo poeta Fernando, há que admitir que o recurso de soltar heterônimos por aí certamente tem seu apelo poético. Um dos meus heterônimos anônimos, que escreve poesia escondido numa garagem um tanto ressentido contra toupeiras auto-confessamente antipoéticas, em encarecimento à poesia heteronômica implícita ao ato de heteronomizar, reconhece que há mais formas de poetizar do que a audácia de deitar em papel meras linhas egóico-transgressoras.
Seguindo a minha natureza crível, no princípio acreditei em toupeiras como sendo figuras autônomas sendo-aí-no-mundo, até que a crença caiu por terra. Deixei de acreditar tanto no Papai Noel, quanto em Toupeiras Sapiens Sapiens. A razão, por certo foi uma engenhosa resposta à minha pergunta, bastante para implodir a minha esperança na possibilidade da existência de um blog pilotado por 5 inteligências paradoxalmente harmônico/criativas e egocêntricas, um milagre da história cooperativa bom demais para ser verdade.
Para terminar este artigo, nada mais justo do que recorrer à tentativa de auto-definição do fenômeno Fernando heteronímico Mestre:
“Não encontro dificuldade em definir-me: sou um temperamento feminino com uma inteligência masculina. A minha sensibilidade e os movimentos que dela procedem, e é nisso que consistem o temperamento e a sua expressão, são de mulher. As minhas faculdades de relação e inteligência, e a vontade, que é a inteligência do impulso – são de homem.”
Referências:
As Pessoas do Fernando
As Toupeiras do Bruno
Livro “O Pensamento Vivo de Fernando Pessoa.”
Heteronímia, en passant Heidegger, BLOG, Fernando Pessoa, en passant poesia
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Ê, beleza, eu adoro quando minha frases são usadas contra mim... Meu hábito de falar figurativamente mais do que deveria me deixa nessas situações uma porção de vezes.
ResponderExcluirCompreenda, eu não seu totalmente anti-poético. Aliás, sou poeta, pelo menos nas horas vagas. Eu só não acho que apontar um blog de poesia, quando meu próprio blog não tem praticamente nenhuma poesia -- no sentido concreto da coisa -- soa um tanto quanto artificial...
E quanto a Fernando Pessoa, é apenas um mecanismo anti-pretensão que me impediu de dizer que mais uma celebridade entra para o meu Hall de Precedentes. Acredite, eu não teria pensado em criar heterônimos sem um bom precedente em defesa da minha sanidade...
Folgo em saber e folgo mais com o comentário do próprio personagem do artigo.
ResponderExcluirÉ... as palavras escritas tendem a se tornar duras quando ausentadas da carga emotiva e da contextualização de quem as engendrou. Todavia, não abdico da missão de resgatar a poesia implícita no emaranhado tecido pelas suas toupeiras inteligentes. A obra é poética em si, mesmo à luz dos ilustres precedentes.
Portanto, que a sanidade continue a defender e a iluminar o tutor de tão doutas toupeiras!
O poeta Bruno, qual será o teor das suas criações e que tipo de heterônimo usa para assiná-las?
ResponderExcluirAinda bem que tudo foi esclarescido. Achei que precisaria mencionar também que isso se referia ao blog antigo, que era imensamente pessoal, e não tinha praticamente nenhum conteúdo artístico.
ResponderExcluirQuanto à minha poesia, entrarei em mais detalhes(com alguns versos de exemplo) na "Semana 'Bruno Guedes segundo as Toupeiras'". Por alto, posso dizer que, como todo artista, tive fases, e passei pelo mórbido-depressivo, pelo romântico, pelo sentimentalóide-acróstico, pelo épico(nunca, entretanto, consegui terminar um poema épico) e finalmente continuo no épico/lírico, com um pouco de mitologia e um pouco de música também. Felizmente umas amostras estão por aí, neste link. Em inglês, inclusive.
E finalizando, gostei da sonoridade do título deste post. Não duvido que seja proposital...
Épico - a temática NERD por excelência. Deuses, figuras mitológicas, grandes imagens, cenários fabulosos, dimensões paralelas, olhos grudados na vastidão do espaço infinito, tornado finito pelo NERD Einstein, porém aparte das equações de transformação Maxellnianas, importa a empiria da percepção do infinito, que é profundamente épica, ou seja, logicamente NERD.
ResponderExcluirO título do Blog é um COMBO de boa sonoridade e encerra um certo mistério inerente, foi a última coisa que ocorreu no texto... e a melhor: deletem o texto, mas salvem o título!
Gostei dos poemas zoodiaquianos inacabados. Mas a curiosidade continua por ler a lírica Guedeana, liberta das limitações bretãs, entregue aos melismas lusitanos e livre para voar, nem que não seja em balões de festa, mas que seja em espírito livre sem as amarras da escorreição literária.
ResponderExcluirAcho que escrever para cada estilo de coisa com um estilo de texto um talent fabuloso... Eu acabo sempre sendo Lomyne, mesmo... Já escrevi sob outro nick em outro estilo, mas não simultaneamente...
ResponderExcluirO toupeira mor tem que saber deste elogio. Assim como Hagar o Horrível coleciona mágoas, o toupeira quântico coleciona fãs... mais uma para a suas fileiras.
ResponderExcluirBem, a parte dos nicks, mesmo que você seja só Lomyne, adorei o blogzinho azul, visto em rápida passadela, não precisa heteronomizar. Obrigado pela visita!
Oh, céus, esse negócio de colecionar fãs é perigoso; nada pior que uma toupeira com credidibildade...
ResponderExcluirMas, filosofias auto-indulgentes à parte, todo prestígio(e comentários, sobretudo) é bem-vindo. E o que me lembra que eu tenho que dar uma olhada nos domínios de alguns comentadores meus...