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8 de set. de 2009

Chaves simbólicas para a compreensão da Matrix.

Muitos críticos consideram inconclusivo o desfecho da trilogia Matrix levado a cabo nos filmes "Reloaded" e "Revolutions". Porém, quando o espectador conhece a simbologia antiga que inspirou toda a trama, é forçado a reconhecer que os furos atribuídos à obra são completamente infundados.

Matrix- O mundo da Ilusão.
É uma poderosa metáfora que representa tudo o que está posto aí, tudo o que vemos/sentimos e que não é real. Representa o mundo transitório das aparências, dos bens e das conquistas humanas. Os budistas o denominam “Mundo de Maya”, onde o ser vive adormecido.
A dualística dos mundos propostas em Matrix remete a uma das questões fundamentais da filosofia: é possível o Acesso ao Real?

Deserto do Real – O Caminho do Conhecimento.
Além da Matrix existe a realidade, o universo palmilhado pelos Iluminados, aqueles que praticaram a Grande Renúncia. Quando alguém deixa de sonhar ingressa no deserto do real, que no filme é simbolizado por uma terra enegrecida e destroçada. Eis é a visão que os Iluminados tem da nossa pobre humanidade doente.

Zion – A terra prometida.
A última cidade livre do mundo, localizada no interior do planeta, representa a terra prometida, a Sião dos Judeus, Xangri-La, Shambala, Éden, etc. É a metáfora do paraíso na terra que tem persistido através da história. É interessante notar que Zion é um lugar de refúgio destinado à humanidade comum que não se deixou cair no sono da Matrix, mas não é a morada dos Iluminados, pois estes não se restringem ao usufruto das benesses do paraíso.

Neo – O Iniciado.
O próprio nome sugere a ambiguidade desta simbologia: se por um lado representa o Neófito, ou seja, o discípulo no caminho do auto-conhecimento, por outro simboliza o Escolhido, o “Um”(aquele que encarnou todas as partículas do Ser), o Messias Redentor. Neo perfaz de maneira resumida ao longo da trilogia Matrix o caminho do iluminado, aquele que desperta a consciência.

Trinity – A potência feminina.
Seu nome em português é Trindade, o Pai-Filho-Espírito Santo. Na trama de Matrix, Trinity encarna o elemento feminino imprescindível ao Despertar do Neófito através do trabalho consciente na Frágua acesa de Vulcano, a Magia Sexual, que é a única maneira de despertar o Kundalini.

Morpheus - O guia através do mundo dos sonhos.
Paradoxalmente, o guia para o Despertar de Neo, é simbolizado na Mitologia Grega como o Deus dos Sonhos, um dos filhos do Deus do Sono Hipnos. A simbologia encarnada por este personagem indica que os primeiros chispaços de consciência devem chegar ao indivíduo através do mundo dos sonhos.

Oráculo – Conhece a ti mesmo.
Os irmãos Wachowski foram geniais quando se valeram dos elementos da sabedoria antiga, traduzindo-os para a moderna linguagem Cyberpunk da relação patética entre homem e máquinas. Ora, um dos pilares fundamentais do conhecimento esotérico se assenta sobre os oráculos, Tarô- Egípcio, Oráculo de Delfos-Grécia, jogos de adivinhações, I Ching-Chinês, Runas-Nórdicas. Uma das questões mais presentes no filme é se o Oráculo prevê ou não o futuro. Como se vê na trama, ao final o Escolhido supera o Oráculo ao começar a agir de maneira imponderável. No momento em que o Iluminado se afasta do mecanicismo cósmico fatalista, ele encarna um ponto de singularidade imprevisível, ou seja, ele supera a natureza e passa à condição de Senhor da própria vida.

O Arquiteto – O mecanicismo da natureza.
O programa mestre que controla a Matrix e age em comunhão com o Oráculo nada mais é do que a representação da mecanicidade da natureza. Rezam as antigas tradições que o Iniciado, uma vez estando no caminho do auto-conhecimento, deve lutar contra o empuxo que o arrasta para a consumação da vida normal voltada para a satisfação dos sentidos. Quem presta atenção nos diálogos travados entre Neo e o Arquiteto e conhece chaves simbólicas, chega à conclusão de que a missão do Arquiteto é manter o mecanismo funcionando, pois as vidas dos seres humanos presos Matrix e dos habitantes de Zion dependem dele.

Quem não conhece as chaves se surpreende ao final de Matrix Revolutions, quando Neo descobre que jamais poderá destruir o sistema que mantém a Matrix viva. Então, ao final o que triunfa é o livre arbítrio de cada um quando faz a sua escolha entre o Despertar e a continuação do sonho no mundo de Maya.

Cypher – O Traidor.
Significa “codificador”, é o único personagem que vê a Matrix sem a ajuda dos renderizadores e é o único que entra e sai da Matrix sem precisar de interfaces. Justamente aquele que desenvolveu maior consciência da Matrix, encarna o papel do Traidor, o sujeito lúcido que volta a submergir no mundo dos sonhos, o anjo caído simbolizado na mitologia judaica pelo Lúcifer.

Nabucodonosor – O veículo provisório.
O nome da nave capitaneada por Morpheus foi inspirado no Rei da Babilônia, atormentado por sonhos premonitórios.

Na trama de Matrix, a nave simboliza o corpo provisório que Neo necessita para se locomover através do Deserto do Real, enquanto não constrói um corpo verdadeiro que o permita se mover autonomamente a qualquer parte. Na sabedoria antiga o novo corpo encarnado pelo Iluminado é chamado de Solar, que vai sendo estruturado ao longo do trabalho de auto-realização. Neo começa a se desvencilhar do veículo representado pela nave Nabucodonosor quando ele morre ainda no primeiro filme e é ressuscitado de maneira simbólica pelo beijo de Trinity (através da Magia Sexual).

No final do último filme (Revolutions) Neo prescinde da nave e não precisa mais nem do sentido físico da visão, já que desperta os “olhos da alma” que enxergam a realidade como ela é. Assim, quando o Escolhido encarna os seus corpos Solares verdadeiros, adquire o poder de entrar e sair da Matrix à vontade sem o uso de interfaces ou de Naves. Um meio de transporte externo e provisório simboliza o corpo humano mortal que todos herdamos da natureza e que certamente o devolveremos na tumba.

Agente Smith – O Desejo.
O Agente Smith se configura como arqui-inimigo de Neo, um personagem que ao se recusar a admitir a sua nova identidade no Deserto do Real, prefere continuar chamando-o de Thomas Anderson, a sua antiga personalidade de Hacker vivida na Matrix. Pois bem, ao fim do primeiro filme opera-se uma transformação, “Mr. Anderson” é englobado por Neo e desintegrado, ou seja, é totalmente derrotado.

Porém, no seguimento da trama ressurge o Agente Smith já desconectado do Sistema da Matrix e empenhado num projeto pessoal de destruição de Neo. Porém, se constata que não é o mesmo Smith de antes e sim o seu negativo. Assim, na medida em que Neo conquista novos poderes, o Agente Smith fica cada vez mais poderoso, até desembocar no confronto final em que o vilão toma domina quase toda a Matrix.

Quando Neo compreende que o Agente Smith é o seu próprio desejo, a sua parte negativa dividida em milhares de Eus-Diabo e que por mais que lutasse por mil anos, jamais poderia derrotá-lo, então ele perfaz a sua Negação final renunciando ao próprio ser e se deixando englobar pelo adversário.

Então Neo morre pela segunda vez e ressurge das cinzas, desta vez sem sinal da dualidade que o caracterizara ao longo de toda a trilogia. A saga final de Matrix reproduz o processo de negação do Eu chamado de Negação do Eu, quando Neo renuncia ao próprio desejo de continuar existindo para alcançar a Iluminação final.

Referências:
Matrix, uma abordagem Teológica [Melodia]
A Religião e a Mitologia de Matrix [Eventos Finais]
Matrix Simbologia [Culto da Vida]
Estudo arquetípico sobre Matrix [Cuidar do Ser]
Há 10 anos a Matrix chegava ao Deserto do Real [Blogpaedia]
Bem vindo ao Deserto do Real da Caverna de Platão [Blogpaedia]

12 comentários:

  1. Adoro Matrix, conhecia várias dessas simbologias, mas não todas. Depois de ler esse post, deu vontade de rever os filmes!
    Beijooo

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  2. Concordo com a Mari... Matrix foi uma produção genial! Vale lembra que revolucionou a técnica de efeitos especiais! :)

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  3. Faltou dizer o óbvio: os vilões são feios, frustrados e carecas. Os mocinhos são: bonitos, bem sucedidos e carismáticos. A obviedade é sempre tão óbiva, não?

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  4. De preferência, para a Matrix caminha bem, os vilões devem exteriorizar a sua maldade interior.

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  5. Matrix - filme genial. Linguagem moderna e referências bem construidas de filosofias ocidentais e orientais. Qualidade de roteiro e filme muito difícil de ser repetida.

    Continuações...
    Todas as questões filosóficas são óbvias. O final é tão previsível que dá raiva. Parecem desculpas para mostrar apuro técnico que acabaram produzindo cenas malfeitas. Para se contar bem uma história não basta ter boas fontes de inspiração.

    Dizer que os críticos não entenderam, e que por isso não gostaram do que eu gosto, seria arrogância.

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  6. Matrix é O FILME.
    As continuações não me agradaram na época mas se tornam melhor cada vez que as revejo.
    Vejo Matrix como um único filme. Começo, meio e fim de uma história. Ele se fecha.
    Reload e Revolution são bõnus. Agradáveis e saborosos como bons filmes de ação. Há muito tempo deixe de lhes atribuir qualquer compromisso com a obra prima que lhes antecede (talvez por isto se torne melhor cada vez que os revejo).
    A par de Matrix, no sentido estético e revolucionário, está Animatrix.

    Já sobre o post achei suas teorias uma bosta. Você não fala nada com nada.

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  7. Acho justamente o contrário, se MATRIX fosse apenas um filme de kung fu de ficção científica, como muitas pessoas acham, teria sido um fracasso.
    A obra que transcende aos estritos limites cinematográficos, o faz justamente por revisitar uma simbologia que é tão velha quanto a humanidade.

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  8. "A saga final de Matrix reproduz o processo de negação do Eu chamado de Negação do Eu, quando Neo renuncia ao próprio desejo de continuar existindo para alcançar a Iluminação final."

    Meu Deus, onde você leu essa absurdo defecado em letras???

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  9. Matrix é quase um plagio da classica animação japonesa o "O fantasma do Futuro", fato.

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  10. Interessante, tem o link para este anime Japonês O Fantasma do Futuro?

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  11. O "O fantasma do Futuro" é um filme de 2001, baseado em um mangá de 1989.
    Matrix é um filme de 1999 baseado num romance chamado "Neuromancer" de William Gibson de 1984.
    Portanto o que você escreveu Anônimo é uma tremenda falta de conhecimento.

    Faltou no post fazer os comparativos com o Budismo, que é 70% da filosofia do Filme.

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