Comunico-vos alegremente que despluguei na minha casa o último contato com o mundo ludicamente perverso da TV irradiada pela maneira tradicional do broadcasting, seja aberta ou paga . Portanto, tenho autoridade para falar de camarim sobre um fenômeno potencializado pela Internet: o crescente desinteresse pela fábrica de entretenimento inventada no século XX, que te deixa bobo vidrado em um monte de bobagens, na esperança de aproveitar 3% de algo que preste.
A cobaia em questão é a minha esposa, uma voraz consumidora de seriados, que está se acostumando a assistir seus episódios favoritos sob demanda na Internet. Agora, nada mais de perdas para fazer um pipi, já que basta o recurso do pause e ela volta exatamente ao ponto.
O ponto a salientar é que talvez ela não suporte mais a lenga-lenga da TV normal, com suas propagandas infinitas e seus quadros desanimadores. Confesso que gastei já inúmeras horas do meu tempo diante de uma nulidade como a Luciana Gimenez chapinhando tartamudeantemente sob as minhas barbas. Lógico, mesmo que eu tenha estado à frente do computador alimentando Trolls, aquele périplo non sense afetava de alguma maneira a minha inteligência, me tornando um caramarada bastante ruinzinho.
Hoje posso dizer que cheguei à transcendência do mutismo, mesmo porque em relação à Globo eu já praticasse a lei do silêncio por opção ideologicamente correta. Assim, nestes momentos ao invés da minha mente estar perturbada perambulando por alguma nulidade encravada na grade da segunda-feira, tenho todos os neurônios sob perfeito controle porque NÃO HÁ um controle remoto e uma teletela a ditar ordens submilinares nesta casa.
Acredito que o destino da TV tradicional vincentista será se render à filosofia da geração de programação sob demanda, (on-demand) sob o risco do desaparecimento, assim como ocorreu com as extintas listas telefônicas e muitos outros mequetrefes da era analógica. Os números da Televisão unilateral que está aí estão berrando o estado de decadência provocado pelo efeito avassalador das novas mídias via Internet.
» 20 coisas que a internet está destruindo.
A continuar assim, restarão somente uns poucos e derradeiros velhos que não transigem em despegar suas bundas das rotas poltronas em frente à vetusta TV, que tanto alegrou aos nossos avós.
Desplugou em que sentido? A antena da TV ou o plugue da TV? Se for o último caso, aceito doações. :P
ResponderExcluirTV só serve pra assistir a filmes e seriados em DVD.
Despluguei tudo e doei a minha velha TV-monitor com estampa perfeita, mas sem fala, p'ruma vizinha não totalmente dedicada às causas anti-broadcasting. Ahh... a antena parabólica de Banda C jaz erguida no quintal como um monumento chamariz de trepadeiras.
ResponderExcluirA morte tem coração de ferro e entranhas de bronze. Pelo menos, Tânatos, a personificação da morte para os gregos, tinha. E ainda andava com os pés tortos, o rosto magro e desfeito, coberto por um véu, com uma foice na mão, pronto para ceifar vidas.
ResponderExcluirQuase todos os dias esbarro em gente anunciando que vai abandonar o Facebook.
Interessa-me o dramatismo da coisa. Como no teatro, "o gesto é tudo".
Postam mensagens de despedida ao longo de dias. Dedicam músicas e versos a determinados amigos. Publicam longos textos, crípticos para os não íntimos, alinhando as suas motivações Avisam que vão desta para melhor. Que vão dedicar-se a coisas mais relevantes, mais adultas, mas palpáveis. Chegam a veicular um ensaiado "último post".
É a morte, portanto.
Uma morte cenográfica, mas ainda assim uma morte, que costuma ser chorada, lamentada e, porque não, insultada pelos que cá ficam, sinónimo da incapacidade que temos de controlar os desígnios do outro.
A maioria dos "defuntos" regressa. Passados dias ou horas, voltam a postar lépidos e faceiros como se nada tivesse acontecido.
Vale o comparativo: o Facebook é um vício como o cigarro. Provoca pequenos prazeres, entra nos nossos hábitos, entranha-se de tal maneira que, quando vemos, já só somos o que somos com ele. Daí que ameaçar parar é bem diferente de parar para sempre. O que não tem mal algum.
Quem dera se todos os suicídios fossem mesmo "suicídios", que levassem muitas aspas e pudessem ser alegremente revertidos.
Citando Fernando Pessoa: "Morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada."
Mario, interessava-me saber o seu Facebook. Deverá conter certa picardia.
ResponderExcluirVocê toca num assunto nevrálgico, como a Internet está deformando antigos conceitos e transformando em metáforas coisas até então "reais". Falo de amizade, confiança, juventude, alegria, disponibilidade e, mais do que tudo, morte.
Hoje nos debatemos com a morte "virtual" falsa, de videogame. Quando se tem "n" vidas, ao ser destroçado é fácil sair caminhando depois da refrega.
Só é espantoso quando a morte verdadeira e definitiva se intromete neste mundo-de-faz-de-conta.
Olá, este é exatamente o tema do meu doutorado em TV Digital, mantenho um blog com vária matérias sobre este assunto, o fim da tv aberta, faço convite para sua visita: www.interacaomidiatica.blogspot.com - gostaria de reproduzir este seu artigo no meu blog. Grato, abs
ResponderExcluirSerá isso tudo, o final dos tempos? Infelizmente, estamos vivendo numa época de viciados em internet. Esse é o grande problema.
ResponderExcluirAproveito para agradecer pela parceria com o meu blog. Valeu mesmo! :-)
Dr. Francisco Machado Filho, sinta-se à vontade, o Blog é seu!
ResponderExcluirProf. Adinalzir, será que a nossa sina é trocar de vícios?
Olá, Isaias.Tudo bem?
ResponderExcluirAdorei tua matéria.Temos mais uma coisa em comum além de postagens sobre POA, também não temos TV aberta e faz anos que não nos interessamos pela programação deste meio de comunicação.
Abraços.sílvia.
Sílvia,
ResponderExcluira bem da verdade, há anos que somente olho TV com o rabo dos olhos e as vistas na tela do computador.
Eu quero comprar uma TV. Das grandes. Mas para ligar o notebook e assistir filmes em HD numa tela decente que não a do meu monitor ^^
ResponderExcluirRealDiogo,
ResponderExcluircomprei uma TV de 46" para ligar no computador. Quase comprei uma Philips de LED, mas acabei optando pela Sony Bravia por causa da imagem espetacular em HD e o melhor, não piora muito a imagem com sinais de baixa definição.